Romasi da poesia
ROMASI DA POESIA
A 1ª fase da minha poesia vem dos meus tempos de luta estudantil.
Se falo tantas vezes na tinta, nos poemas, foi a recordação da tinta e da água com que dispersavam os manifestantes.
Escrevi alguns poemas molhado. Escapava por entre na multidão e vi muitos companheiros a apanhar “porrada”. Nunca fui apanhado! (ou não viesse a ser campeão nacional de atletismo pela equipa do Sporting Clube de Portugal)
Depois, conheci relatos (verdadeiros), da outra tinta vermelha de sangue, com que os presos políticos escreviam, no Aljube, a palavra LIBERDADE.
Esta fase marcou e definiu meus passos.
Como era e sou católico participei em todas as manifestações da JOC (Juventude Operária Católica).
Recordo-me de ouvir e cantar, às escondidas, as canções do Luís Cília na JOC (edifício da Sé).
A 2ª fase vai do 25 de Abril de 1974 até a ter escrito, em 1984, o poema intitulado “ A minha poesia de homem solto”. Este poema foi para mim uma ode poética ao trabalho e com ele encerrei esta fase.
Estou na 3ª e última fase, a fase mais madura, mais poética, e infelizmente com algum sofrimento à mistura
Os males que se reflectem no corpo e não atingem a alma são pequenos comparados com outros males que perpassam junto de nós e nos agridem no dia-a-dia.
Pois é… ser poeta é sofrer.
Onde estão os sonhos de Abril? Onde pára a alegria deste povo que sofre na carne a miséria e a injustiça.
Onde param as promessas dos sucessivos governos e políticos que não cumprem. Não queria beliscar – trazer para aqui palavras duras, que me secam a boca que me trazem amargura e revolta. Eu sei que sou sonhador! Que quero um Mundo melhor: sem fome, sem guerras mas sobretudo sem miséria.
Onde estão os empregos para o exército de desempregados. E os empregados não estão mal pagos, explorados e cheios de miséria encoberta?
Eu sei que sou poeta! Mas, não será verdade, são sempre os trabalhadores que pagam a crise: e o povo aguenta!
São sempre os trabalhadores que pagam os impostos: e o povo aguenta!
Finalizo este meu desabafo, escrito ao sabor da pena e da mágoa, com um pensamento que escrevi no meu livro de poesia rasgada a que chamei renovação:
“Vivias num bairro de lata e agora sobram-te telhas”
24/12/2004