CHORA TRISTEZA
Rogério Martins Simões
- Atravesso os muros que derrubam os silêncios…
A agonia morre emparedada…
- (cobardes, abutres,
Corja repugnante da sociedade…)
- Chora tristeza que o menino
Perdeu as asas para voar…
Morre vileza,
Que ao passarinho
Nem o deixaram cantar...
- Bruxas, adivinhas e contos de fadas:
Nem os deixaram escutar...
- Chora tristeza
Que o menino
Lágrimas não tem para deitar…
…Nem tem como fugir...
Meco, 25-06-2011 18:14:12
(Registado no Ministério da Cultura )
PUBLICADO
Simões, Rogério, in “GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2014)
ISBN 978 989 51 1233 3
Poemas de amor e dor
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publicado às 12:11
CICLO FECHADO!
(O MEU SEGUNDO GRITO!)
Rogério Martins Simões
Se o teu rosto não sorri,
E o teu cabelo não desliza,
É porque a tua boca se encerra,
E a minha não será precisa…
O gesto, o medo, o ódio:
Tudo te corrompe.
E, até, não preciso de ponte
Encheste-me a baliza…
Espalhou-se a brisa;
Abriu-se a porta de vidro;
A janela da esperança;
E o vento até desliza…
Mas… se ao menos O teu rosto sorrisse!
E os teus cabelos se soltassem
Voltarias a encontrar
Os melhores passos para ti,
Porque o melhor de ti fui eu
Que adoecia dizendo olá!
O melhor de ti fui eu
Que te segurei, quando fugias...
Ou então sempre errei
Quando te amparei E tremias.
Não!
Nada sobrou de mim
Não me faças sentir assim
Pois tudo agora findou.
Sabes!
Tudo é nada
Quando nada começa!
E o fim não existe
Se não há princípio.
Para quê essa pressa!?
Se o inicio era nada,
E tudo foi retalhado:
Nefasto é o sofrimento
Quando não há, sequer, sentimento!
Se assim não fosse
Poderias dizer, ao menos, como eu
Longe!
Muito longe de ti.
Olá!
Olá poeta!
Não fiques desesperado
Não faças nada apressado!
Não!
Não penses sequer Que te quero!
Quem quer o nada
Se nada tem?!
Tu não vês que não há regresso
Quando não há ponto de partida!
E tu nem entendes a chegada...
Olha!
Eu tinha um guizo,
Cabeça de andorinha,
Que corria atrás do vento
Ao desafio com as aves.
À procura de outras asas!
E voava,
Voava, sem ser preciso.
Chamavam-lhe cabeça de vento…
Certo dia fugiu,
Voou numa folha de papel
Toquei novamente o guizo,
E tantas vezes subiu
Que se partiu o cordel.
Sabes!
Agora quero sorrir!
Tenho gosto, tenho vida!
Despejei a "selha de lágrimas"
Encontrei-me no "corpo ausente"
E num arco-íris
Descobri manhãs
Com que sonhei e sempre quis.
Afinal estou magoado!
Porque fui muito infeliz!
Mas não há dúvida!
Ainda serei feliz!
Lisboa, 1989
Poemas de amor e dor
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publicado às 21:45
(Autor da foto Rogério Simões)
HOJE É DIA NÃO
Rogério Martins Simões
Hoje é dia não!
Da negação de mim mesmo
Da negação do eu
Que me conduz à indiferença
E neste momento
Sem movimento
Corro o risco de ficar parado
Hoje ao passar pelo centro
Dos gélidos e doentios olhares
Que cegos não eram
Nem vivos são…
Ninguém me viu
Ninguém reparou
Que uma lágrima beijou o chão
E, enquanto tentava escrever,
Outra caiu no papel
Que acabou por secar
Porque hoje é dia não.
Lisboa, 24/11/2017 13:52:11
Poemas de amor e dor
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publicado às 00:49
World Press Photo Contest 2004
Banho
(Romasi)
Rogério Martins Simões
Esta é a noite
Do casamento
Entre a violência e a inocência
Entre a granada e o camarada
Porque o sangue que corre
É uno
Com o ferro
Dos estilhaços da metralha.
7/10/1974
(memórias do poeta - Vietnam)
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:49
Poemas de amor e dor
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publicado às 20:52
POESIA NO PRATO
Rogério Martins Simões
Lembra-se, meu pai,
Quando à sua mesa
Nos trocava a sobremesa
Por poesia no prato…
Diga-me, agora, meu pai:
Se por aí há olhares desesperados,
Mãos crispadas,
Rezas nos dentes…
Diga-me meu pai:
Se o sofrimento é tão só por aqui;
Se nos céus são todos iguais;
Se as regras são transparentes;
E se no inferno só ardem os maus…
Diga-me meu pai:
Se aí há lugar para os dementes…
Para os falazes…
Para ricos
Para os capazes
Para pobres, ou doentes.
Diga-me meu pai:
Se há por aí poesia
Se já conhecem a magia
Dos seus contos de encantar.
Nada me diz, não importa…
Mas se o céu, para si, não for boato…
Terá sempre aberta a minha porta:
E esta saudade com a poesia no prato…
Meco Café 12/12/2016 12:23:39
(Para publicar no próximo livro de poesia)
Poemas de amor e dor
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publicado às 18:30
ALZHEIMER
Rogério Martins Simões
Alzheimer
Cabo da dor
Da má sorte.
Dor maior
Nem a própria morte:
Seguir a pé o percurso do desnorte
Sem norte
Sem nada…
Campimeco, Praia das Bicas, Meco, 26/01/2015 23:21:07
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:37
LANCE DE AMARGURA
Rogério Martins Simões
Abro a porta que me dá acesso
Ao primeiro degrau da escada
Procuro o degrau
Quero avançar
Nem que tenha de subir a escada a pulso
Estendo a mão e não chego
Chego a perder a noção
De que estou parado
Num lance de escadas
Com o passo apeado
Desequilibrado
Com a corda na mão
Solto nas escadas
Todas as legítimas ambições
Todos os projetos por concluir
Boa noite silêncio
Boa noite tremura
Sobra-me tanto tempo e tanta amargura
Meco, Praia das Bicas, 19/09/2014 23:25:41
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:49
(Elisabete Sombreireiro)
LETRAS IMPREVISÍVEIS
Rogério Martins Simões
Quero dizer-vos:
Que da ponta dos meus dedos
Crescem letras imprevisíveis
Que se estendem numa folha em branco:
Em levada
Em verdes prados
Saltitando a caminho da horta
Quero dizer-vos:
Que é de dia que as ilusões escondidas
Adormecem nas cidades
Abafando o ruído e o fecho da porta
Que a mágoa não se esbate num apagar de luz
Pois quando a noite adormece,
No leito dos rios,
Os pirilampos abrem o caminho à poesia.
Quero dizer-vos:
Que os risos chegam atrasados
Com asas pesarosas
E que os infelizes adormecem
Na tentação de afogarem a má sorte…
Quero dizer-vos:
Que os sofrimentos são paragens forçadas.
No acentuado cais de envelhecimento
E que ao cair da noite sigo a candeia
Onde velhos ciprestes anunciam a morte
E as rolas distendem as asas…
Depois… seguirei a minha estrela…
Meco, 04/06/2014 23:43:11
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:01
O MEU POEMA
Rogério Martins Simões
Ando
De casa às costas
A minha cama
É de bambu.
O meu cobertor
É de cinza.
E o meu corpo vestido
Está nu…
11/4/1975
Poemas de amor e dor
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publicado às 19:20