QUISERA ANDAR DE CARROSSEL
Rogério Martins Simões
Quisera andar de carrossel
Com um sorriso de criança que ri
Rosto rebuçado, melaços de mel
Laivos da festa que resta em ti…
Num dedo prendo o balão,
Com outro seguro o corcel
Soco a bola com a mão
As mãos, o rosto e a testa
Besunto-me todo com mel.
Solta-se dos dedos o balão
Que voa a caminho do céu
-Mãe! Vai-me apanhar
Um sorriso igual ao seu…
-Meu filho a mãe não sabe!
Ler, nunca aprendeu:
A mãe vai procurar
O balão que se perdeu…
-Mãe que sabe escutar,
Meus choros em seu coração
Abençoada o seja minha mãe
Por tudo o que foi e me deu!
Rodopiam as lembranças da festa
Pára o movimento ondulante
Sujo-me de novo a cada instante…
Sem rebuçados com sabor a mel
Mas… Brinquei tanto no carrossel….
2005-10-20
Este poema está aqui gravado e declamado por Luís Gaspar
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:57
RIO DE PEIXE, MAR DE CARNE…
ROMASI
Foste ao mar
Aventureiro
Rio de peixe
Tragaste o duro pão
Aventureiro
Mar de carne…
O mar estava calmo
Aventureiro
Rio de peixe
Varreste a onda em vão
Aventureiro
Mar de Carne…
Lançaste a rede na bonança
Aventureiro
Rio de peixe
Foste pescado…
Aventureiro
Mar de carne…
Escutaste o canto da sereia
Aventureiro
Rio de peixe
Porque o mar estava irado
Aventureiro
Mar de carne…
És bravo, és herói
Aventureiro
Rio de peixe
Mar de carne.
Lisboa 1973
Poemas de amor e dor
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publicado às 14:06
(foto da World Press Photo Contest 2004)
SITIAREMOS A CIDADE…
Rogério Martins Simões
Estou farto de ser sorvido
por parangonas,
por promessas incumpridas,
libadas pelos criadores
de regras asfixiantes
que nos conduzem ao abismo…
nas amplas… liberdades…
Se disserem: o povo tem fome!
Os governos das cidades…
irão gizar o que nunca sentiram?
Estaremos no centro do universo:
Das abstracções?
Dos raciocínios?
Das interjeições?
Das preocupações?
Deixará o sofrimento
marcas
a quem nunca sofreu?
Que lhes importam as palavras,
os compêndios e os códigos,
se os donos das cidades
dominam a fonética.
És apenas mais um voto,
um número
de uma fita métrica…
Que sentido tem a dor,
a solidariedade, a paz,
a justiça e o amor?
Sabes:
Os pensamentos dispersos,
aglomerados,
submergem a universalidade
dos pactos nocivos,
as ideias impostas,
e os convénios idolatrados
dos mestres das apostas…
Pensas? Que mais queres?
Pensas? Tens de agir!
Sitiaremos a cidade…
Lisboa, 30-05-2008 19:21:51
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:59
(Óleo sobre tela CEZANNE)
ANDO PARA AQUI SEM SENTIDO
Rogério Martins Simões
Ando por aqui sem sentido
- meio despido, meio vestido…
Ando por aí sem estar cansado
de marginais interrogações.
Analisemos as questões:
vistas as coisas não avisto nada!
Nada, sempre nada…
só o nada se renova!
Renovar é o caminho seguro
para desaparecer…
Existir é morrer.
A lamúria não basta para deprecar
o meu estado de alma
que nem sei por onde anda.
Viajo na carapaça de um caracol,
lentamente,
e o tipo que aguente.
Esmago a passo de lesma
o peso que torna
e me transforma
num pedaço de tudo...
Tantas interrogações sem ressentido!
Ando invertido e o inverso
é o reverso do meu estado de alma.
Aluguei um espaço na lua
era ainda criança.
Deixei de o ver
já era adulto
e, no indulto,
a lua cheia ficou minguante.
Seco a cada instante
os pergaminhos da sorte
sem me lembrar do reverso.
– Como eram os cordeirinhos?
Não largo o caracol,
pernas para que as quero,
quanto mais devagar melhor!
Estarei a apreciar o meu espaço lunar?
Olha! É quarto crescente!
Que Deus te guie e aguente.
Repara! Ontem não estavas nisto,
enterrado até ao pescoço,
ala moço
que se faz tarde!
É tarde! Não existo…
Lisboa, 8 Junho de 2006
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:44
O ciúme mata…
(Rogério Martins Simões)
Abri a janela de meu quarto
Quatro paredes, um deserto…
Tenho a sensação de estar farto!
E o chão ali por perto...
Afunda-se a noite na alma
Na dor, por amor, tanto sofreu
Esta noite não está calma,
Está tão escura como o breu
Clamo por minha loucura
Quatro paredes um deserto…
Não tenho medo da altura
E o chão ainda mais perto...
Olho de novo para o rio
Hoje não há luar de prata
É verão e tenho frio
E o meu ciúme mata.
Pairam as nuvens que o ciúme deu
A lua não tem mais lugar certo
Amor o que te aconteceu?
Tristemente perdido perto…
1989
Poemas de amor e dor
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publicado às 00:33
O QUADRO DA GUERRA
(Romasi )
Pintor
Pega na tua tela e pinta.
Mostra a beleza da paisagem,
mostra os horrores da guerra.
Não tens tinta,
Mas pinta!
Serve-te do sangue que corre
nos corpos que jazem por terra…
Não queres pintar!?
Só sabes desenhar,
pintar,
As belezas da serra!
Vá lá!
Porque não queres tu agora
se à tua frente
há montes sem terra!
Se à tua frente há desgraça!
Ah! Já pintas!
Então pinta
O quadro da guerra.
Lisboa, Escola Secundária Patrício Prazeres,
15/9/1968
(Homenagem aos mártires de Guernica)
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:08