IMAGEM DA World Press Photo Contest 2004.
RAPINA
Rogério Martins Simões
Rapinam minhas mãos nas horas vivas,
Que se agitam além perto do fogo,
Meu destino cruel onde me azougo,
Em preces, em razões superlativas...
Balizam minha sorte e tão furtivas
Querem-me longe e fora deste jogo…
Na terra das misérias sem arrogo
De mãos estendidas em rogativas…
Latejam no meu rosto como brasas,
Estas inquietações de quem se arrisca,
A escutar o trovão, antes da faísca…
Desilude-te génio subserviente,
Que o desterro é ferrete penitente…
E os ultrajados mais que as campas rasas.
Meco 08/07/2018 23:34:46
(Poemas de amor e dor- Próximo livro)
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:52
O TREM QUE NÃO CHORA
Rogério Martins Simões
Quando as manhãs azedam,
E nos transtornam a vida;
Quando a agonia nos consome,
E se esquece Que o sol nos beija
e a terra nos ama:
Levanto-me
E tomo o meu lugar na carruagem do silêncio.
Meco, 25/06/2014 22:41:16
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:59
PERSEGUIÇÃO
Rogério Martins Simões
Não! Não me soltem as letras destes versos
Nem me pendurem num tempo breve
Basta o que não escrevi, e chorei,
Tudo se alagou no que não sei...
Que Deus te perdoe
E que seja leve.
Não! Não me prendam nas letras dos versos,
Deram-me setas afiadas na ilusão:
Ligeiras e tão lestas.
Quem lhes afiou as arestas?
Quem me retalhou o coração?
Não! Não me soltem as letras destes versos.
Nem a insensibilidade de quem se atreve
A distorcer, sistematicamente, a razão…
Antes tivesse perdão.
Que Deus te perdoe e te leve.
Lisboa, 28 de abril de 2011
Simões, Rogério, in “GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2014)
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:40
BATE, BATE, CORAÇÃO
Rogério Martins Simões
Quando com dores me deito
Sinto galopar no peito
Um tão sofrido alazão.
Por me sentir a tremer
Soluço poderá ser
Não saltes mais coração.
Com esta dor que rejeito
Esta vida assim sem jeito
Talvez mude de missão.
Com este meu mal-estar
Oiço o meu peito gritar
Não batas mais coração.
Sabes bem que sou sincero.
Não penso sequer que espero
Por piedosa solução.
E antes que bata demais
Diz à vida ao que tu vais:
Parar o meu coração.
Mas se ainda voltas a ter
Coragem para viver
No meu peito de paixão.
Deus te deu vida severa
Tens o meu tempo à espera
Bate, bate, coração.
Meco, 19/01/2017 21:41:37
(A publicar no meu próximo livro)
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:54
E A NATUREZA ME DEU TRÊS DIAS DE DESCANSO
Foram deliciosos estes dias em que a Parkinson me deu tréguas.
Corri, andei, e senti o fascínio pela vida: uma enorme vontade para viver.
Voltei a sonhar e até pensei que se tinham enganado no diagnóstico.
Hoje, ao quarto dia de tréguas, voltaram as dores, os tremores
e foi com tristeza que aditei um novo dia aos catorze anos deste sofrer.
14/06/2016
Rogério Martins Simões
SEM FORÇAS PARA REGRESSAR
Rogério Martins Simões
Por aqui ando
E não me limito a tentar
O meu andar parece uma onda quebrada na estagnação
Fujo
Escondo-me nos fundos do meu silêncio
Para que não me vejam tremer
Olho em redor
Nada mais me deixa transparecer
Nada mais treme para além de mim
Não
Não procures decifrar o indecifrável
Nem tudo é palpável
Maleável, comparável
Não
Não disfarces o que o tempo não te dá
Afinal tudo mudou
Vai
Oh meu coração afogado em lágrimas
Que estas dores que não te deixam sorrir
Meco, 14/6/2016
(Os dias amargos de um doente com Parkinson)
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:22
HORAS INFINITAS
Rogério Martins Simões
Aqui me entrego ao tempo lato.
Aqui o meu tempo não passa, demora,
Numa lenta e eterna agonia.
Deixei a vida lá fora …
Aqui apreende-se a viver sem viver.
E, enquanto me afundo,
Desvio este olhar profundo,
E passo a olhar para a vida:
Com a passagem das horas infinitas…
Hospital dos Capuchos, Lisboa, 20/02/2016
(O direito de autor é reconhecido independentemente de registo, depósito ou qualquer outra formalidade. ver artigo 12.º do CDADC. Lei 16/08 de 1/4)
(A registar no Ministério da Cultura - Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. – Processo n.º 2079/09)
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:08
O SOL
José Augusto Simões
Sol divino, Sol divino
Lindo é vê-lo nascer
É mais um dia na vida
Deus nos dá para viver
Sol divino, Sol divino
Que ilumina toda a terra
Desde o mais profundo vale
Até ao mais alto da serra
Sol divino, Sol divino
Que nos dá tanta alegria
Acaba a noite cerrada
E irrompe o claro dia
Sol divino, Sol divino
Nos dá tanta beleza
É a estrela mais bela
Que nos dá a natureza:
Quando está ao pé do rio
Em cima de uma cascata
O fundo parece de ouro
A água da cor da prata
Todo o ser vivo se mexe
Quando vê nascer o Sol
Os passarinhos cantam
Trina o lindo rouxinol
Rouxinol que bem cantas
Onde aprendeste a cantar?
- No cimo daquele salgueiro
Com os ramos a abanar!
Todas as aves cantam!
Cada qual com sua voz!
Eu já acompanhei o rio…
Da nascente até à foz
Estou velho! Tu és menino
Nunca irás envelhecer
Sol divino, Sol divino
Sem ti não posso viver
Lisboa, 25/9/2007
DEDICADO AO POVO DE PRAÇAIS
PAMPILHOSA DA SERRA
Com este poema, do meu querido e falecido pai, pretendo agradecer a todos – e foram muitos – Que me enviaram mensagens de condolências. Assim, na impossibilidade de me dirigir a cada um de vós, e por acreditar que meu pai está na luz, nada melhor que reeditar o seu poema “Sol” Divino de José Augusto Simões.
E a mim, seu filho, cabe-me dedicar a meu pai o meu poema: POETA ESTAIS DE PARTIDA
POETA! ESTAIS DE PARTIDA
Retomo a minha viagem,
E peço aos céus a coragem,
Para enfrentar a descida…
Parte barco numa onda:
Que o meu corpo se esconda
Do aceno na despedida.
Vai o barco a soluçar,
E no cais fica a chorar
Uma lágrima despida…
Mar que bem cedo se agita,
Que chama o arrais que grita:
Poeta! Estais de partida…
Meu barco que não comando
Diz, aos céus, por seu desmando
Que a viagem acaba ali…
E a alma vendo-me triste,
Solta o corpo que resiste,
Olha o meu barco, e sorri…
Praia das Bicas, Meco, 07-10-2011 20:00:42
Simões, Rogério, in “GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2014)
Poemas de amor e dor
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publicado às 21:08
A RAMPA
Rogério Martins Simões
Tento descer aquela rampa:
Inclinada, escorregadia e longa,
Para que o meu corpo não se esconda,
Debaixo de qualquer manta…
Exercito as mãos
Amparo-me nas palavras
Revisitadas, tremidas, ingratas.
Se tropeçar nas franjas do vento
Pedirei às palavras que não me deixem cicatrizes
Talvez me ajudem a descer
E o vento me seja leve…
Meco, 04/09/2014 17:12:11
Poemas de amor e dor
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publicado às 20:06
EMOÇÕES
(Rogério Martins Simões)
Passo os meus dias a soluçar:
Tenho açaimes no meu sorrir,
Correntes no meu andar,
Num corpo sempre a cair.
Carrego as minhas emoções.
Não distingo o indistinto.
Confundem-se as agitações;
Bebedeiras que não sinto.
Sou lembrança e pensamento.
Do que parece não mudar…
Penso a cada momento:
Tombo! O corpo vai tombar!
Noite, silêncio e solidão.
Solidão que me ergue e prende,
Que me sufoca, que me fende:
Aqui estou preso aturdido ao chão.
Chão que me agita e confronta!
Tristeza que me leva e me traz!
Dor que me derruba, e afronta,
E tanto sofrimento me dás…
Meco, 13/08/2013
(Diálogos da alma e do poeta – Diário de um doente de Parkinson)
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:06
ÁGUA SALGADA
Rogério Martins Simões
Tenho sede...e sofro
É em vão a minha dor.
A vida acaba
Quando espero o seu começo.
Triste, já cansado,
Fatigado de andar
Busco água
No oceano da vida.
Retiro-me, procuro o mar
Mergulho…,
Afogo a minha sede de vida!
E morro...
Olhos salgados de mar.
11/1968
Poemas de amor e dor
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publicado às 21:35