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E A VIDA ACONTECE
Rogério Martins Simões
Os anos vão passando,
a manhã já vai alta
e a tarde já escapa.
A vida corre para a meta
e a meta fica mais próxima
em cada Natal;
Em cada ano novo;
Tudo foge!
Caem os cabelos,
o rosto fica mais rugoso
e a vida acontece.
Mas um Menino tão antigo
permanece menino como nasceu.
Que magia!
Como encanta este menino,
como sai bonito das mãos do carpinteiro.
Como renasce perfeito na roda de um oleiro.
De barros somos todos nós!
Ainda, assim, dá para expressar sentimentos
e, no virar de página,
de mais um ano,
nós, viajantes de um espaço terreno,
aproveitamos o tempo que nos resta
para lembrar os amigos que partiram
e os que estão entre nós.
É por isso que vos recordei
com um carinho muito especial.
pois os anos vão passando,
e a manhã já vai alta
a tarde já escapa
e a vida acontece.
Gosto tanto de vós!
Lisboa, 24 de Dezembro de 2007
UM SANTO E FELIZ NATAL
FOTO DE ROGÉRIO MARTINS SIMÔES
NUVENS NA MINHA ALMA
Rogério Martins simões
Caminho por nuvens que atravessam a minha alma.
Quem as não dispersou?
Quem as encaminhou para mim?
Agarro as estrelas e domestico o universo.
Tenho a alma num verso
E a chuva no colarinho…
Caminhar já é bom… Caminho!
Tenho um mastro para vencer.
Ardem-me os olhos só de espreitar.
Para quê mais sofrer,
Se todos os encantos não se agitam assim.
Não! Não quero prantos:
Para que nem só na dor se recordem de mim.
25-07-2010 15:10:34
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
Fotografia de Rogério Martins Simões
INCERTEZA
Rogério Martins Simões
Como te poderei encontrar,
Se não sei se existes na minha sorte.
Como te poderei chamar,
Se me retiras o norte?
Desejo-te tanto
E de tanto não te ter,
Já nem sei quem és:
Se a razão para te desejar,
Ou para sempre te perder…
Meco, Praia das Bicas, 25-05-2011 19:48
Revisto 2/7/2020
(Direitos de Autor)
O MELRO - O INIMIGO PÚBLICO.
Rogério Martins Simões
Seguindo a mesma rotina e conhecendo as regras do ministério um velho carteiro, que já quase nem podia com as pernas, entrou no ministério, cumprimentou o segurança - seu velho conhecido, e dirigiu-se à secretaria do Ministério.
Se bem que tivesse confiança para o fazer, poisou a pesada correspondência fazendo-se anunciar. Depois de ter sido autorizado a entrar, levantou com esforço aqueles sacos, entregou-os, e recolheu com cuidado as assinaturas de quem recebeu o correio registado. Finalmente, abandonou as instalações do Ministério e, como sempre, sentiu ter cumprido o seu dever.
Para as secretárias do ministério tudo não passava de uma rotina diária. Habituadas a recolherem e a classificarem aquelas cartas; a numerarem e a tratarem por assunto, depois de descarregadas no computador central, colocavam-nas nas pastas onde estava inscrito o nome dos respetivos subdiretores-gerais do ministério.
Quando o responsável pela tutela da área chegava dava instruções à secretária que, a partir desse momento, não estava para ninguém à exceção de sua excelência…
Nesse dia este alto funcionário do ministério deitara-se tarde preocupado com os cortes que teria de fazer no ministério e que não o deixava dormir. Cheio de insónias, ainda travou um diálogo de surdos com um casal de aves que por ali andavam a assobiar. Se tivesse uma espingarda tratava-vos da saúde - pensou. Acabou por adormecer no confortável sofá do salão aquecido.
O sol já há muito raiava quando deu conta que tinha adormecido. Olhou o relógio, estava atrasado, e atirou a culpa para as aves que não o tinham deixado dormir…
À porta da sua casa o motorista do Ministério, fardado a rigor, aguardava em vão o senhor doutor. – Que terá acontecido, pensava. Se bem pensou, melhor resolveu: atreveu-se, subiu de elevador, e bateu muito lentamente na porta da residência do chefe…
O diretor agradeceu a preocupação do seu subordinado e lá foram os dois para o ministério. Chegados ao ministério o segurança que distinguia e conhecia o carro, o condutor e o diretor, levantou a cancela e registou a hora de entrada. Finalmente, o diretor, depois de cumprimentar a Secretária, e esta lhe dizer que já lhe iria servir o café e as torradas, foi direto para o seu gabinete.
Bebia o café quando às suas mãos foi dar uma carta-denúncia de um agricultor, que também tinha alguns interesses na caça e na sua indústria… e começou a ler o seguinte:
Exmo. senhor diretor-geral
Fulano de tal, morador na rua de tal, vem mui respeitosamente junto de vossa excelência denunciar o seguinte:
Sou proprietário de árvores de fruto e todos os anos sou invadido por bandos de aves pretas, de bico amarelo: concretamente por melros. Pois, senhor diretor, os melros, para além de andarem para aqui a fazer barulho e de me obrigam a levantar cedo, vêm roubar cerejas e outras frutas pondo em risco a rentabilidade da produção. Também um vizinho, que produz morangos se queixa do mesmo.
Esperando que o ministério resolva o assunto, espero que autorize a abertura da caça ao melro a bem da paz e da produtividade.
Respetivos cumprimentos
A bem da Nação
Assinado.
O diretor nem pensou mais no que fazer e, parecendo ter a resposta na ponta da caneta vermelha, exercendo o dever para o qual foi designado, elaborou o seguinte despacho:
“ Visto,
Considerando que os melros estão a colocar em risco a exportação de produtos agrícolas, nomeadamente da fruta;
Considerando que os melros se têm escapado ao abate, só por viveram junto do homem e por lhes cantaram todas as manhãs;
Considerando que os coelhos, as lebres e as perdizes, em estado selvagem já se encontram quase extintos, restando, apenas, aqueles que são criadas em capoeiras, que são objeto de largadas, e onde todos se divertem a atirar a matar;
Considerando que os tordos e as rolas bravas já nem arribam ao nosso país, determino o seguinte:
Que, a partir deste ano, sejam proibidos os cantos dos melros e que se dê caça até à completa erradicação destas pragas. Para tal, passa a ser autorizada a caça aos melros em todas as zonas, nomeadamente, em quintais, creches, cidades, hospitais, com exceção dos ministérios, e dos terrenos contíguos aos ministérios, a fim de proteger os outros melros que por ali andam...
Finalmente que se arranquem as folhas dos livros onde os melros falam.
O diretor
NOTA FINAL: A partir dessa noite não mais o diretor teve insónias.
(Texto ficcionado)
(retratos da alma e do poeta – O MELRO)
SALVEMOS O MELRO 2011
Rogério Martins Simões
Muitos não o sabem, porém, em 2004, travei uma dura luta, utilizando o meu blog, POEMAS DE AMOR E DOR, para salvar o Melro e conseguimos ganhar.
Qual não foi o meu espanto no dia de hoje, 19 de Maio de 2011, ao ler no “Correio da Manhã” MELRO VOLTA A ESTAR NA MIRA DOS CAÇADORES”
A caça ao melro vai ser permitida a partir do mês de Novembro, após mais de duas décadas de proibição no país, uma medida que encontra a oposição dos ambientalistas.
Domingos Leitão, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, afirmou ao CM que “não existe razão para o Governo ter publicado uma lei que permite a caça ao melro, pois não tem interesse económico”.
Segundo este responsável, “o melro é uma espécie associada ao meio urbano, ligada às pessoas, e a sua caça é um disparate, que até divide caçadores”
FONTE jornal diário “CORREIO DA MANHÔ
Como acabaram de ler o atual governo decretou a extinção dos melros em Portugal a partir do mês de novembro de 2011.
Devemos responsabilizar desde já os autores deste diploma para os acidentes de caça que irão acontecer. Em 2004 conseguimos impedir a caça ao melro, desta vez e de acordo com a notícia a Lei terá já sido promulgada.
Recordo que já poucas aves restam junto das nossas aldeias e o melro vive junto do homem, perto das suas casas e nas suas hortas, onde até é proibido caçar. Com a aplicação desta lei nada vai restar e não mais os ouviremos chilrear, nas manhãs as aves que nos encantam.
Volto a protestar: salvemos o Melro!
COMO PARTICIPAR? ASSINANDO A PETIÇÃO!
E APOIANDO ESTA LUTA QUE É DE TODOS
http://peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N10013
https://www.facebook.com/pages/Diga-N%C3%83O-%C3%A0-ca%C3%A7a-ao-Melro/166664440060726
(FOTO DE PADRE PEDRO)
TERRA QUEIMADA
Rogério Martins Simões
Pegara na caneta e pusera de parte o olhar. Diria, quem o visse, que era um antigo hábito pela forma decisiva como escrevia.
Ao começo hesitou nas palavras que nem tinha pensado em escrever; na verdade não pensava em coisa nenhuma, apesar de começar a preencher, no papel, umas quantas linhas de um caderno vazio.
Aquele verão não tinha nada de parecido com o que, por regra, a terra deixava antever nesse local: umas quantas nuvens reprovavam a paisagem. Dir-se-ia, que o vento as pendurava do mar. Tudo se está a alterar – pensava.
Recentemente tinha visto um documentário que o impressionou. Certamente não se recordava de tudo, mas aquelas imagens com cidades irreconhecíveis ficaram-lhe gravadas nos sensores da memória. Não era apenas um acontecimento, mas, uma sequência descontrolada de factos anormais que faziam com que ele escrevesse.
Na mesma hora e em locais diferentes, onde a chuva deveria fazer a sua aparição, a terra queimava expulsando e queimando os homens e os animais.
Na terra queimada, há muito, tinha desaparecido o último vestígio verde e com ele, ou parte dele, todos tiveram de fugir.
Algum dia ele teria de voltar a escrever…
Meco, Praia das Bicas 18/7/2010
(autor da fotografia
Rogério Martins Simões
SINTRA PORTUGAL)
TU E EU; SEM MIM
Rogério Martins Simões
Quando tu e eu,
(sem mim)
Passeávamos pelas ruas
Viradas às avessas…
As pedras ressuscitavam
Com medo dos carros que as atrofiavam.
Desempanámos meu carro
e as pedras gritaram
num tropel de quatro rodas…
Virei a esquina e a estrada morreu...
Parámos,
Procurámos refúgio, um no outro,
Enquanto o carro permanecia inerte
À espera de sangue novo…
Deitámo-nos
Lançámos fora a lei do trânsito
E logo ali
Acatámos uma lei proibida...
1969
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
Fotografia de Rogério Martins Simões
RENASCER
Rogério Martins Simões
Passaram muitos anos
Em que te vi crescer
Habituei-me a olhar
Até me tapares a visão
Quando disfarçada crescias
A caminho do céu…
E eu voltava a passar
E a renascer
Por te sentir respirar
e rever
Em qualquer estação.
E tinhas o cuidado
De não cegar a luz
Pois a teus pés cresciam
Flores silvestres
Melros
Cogumelos e coelhos bravos
Enquanto em teu corpo
Adormecia uma cegonha…
Campimeco, Praia das bicas, Meco
27-02-2011 13:31:02