Amanhã - o Vídeo
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
O FILHO DA CALÇADA
(Rogério Martins Simões)
Eu vi
o filho da calçada
sorrindo de anjo
com os cabelos sujos
da cor do barro.
E o barro
era a cor
do anjo do céu…
O sujo é o amor
da gente que passa
coberta de véu...
E havia estradas,
no rosto,
das lágrimas deitadas.
E havia candura
no lado oposto
do cabelo
cortado à pedrada…
E as pedras
eram tábuas!
E os cabelos
a almofada...
O cão a companhia
do filho da calçada.
Eu vi!
O filho da calçada
sorrindo de anjo
com os cabelos sujos
da cor do barro...
Lisboa, 29/1/1975
(Registado no Ministério da Cultura
Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C.
Foto de Rogério Simões
MEIA-IDADE
Rogério Martins Simões
Deixei para trás o horizonte;
Deixei para trás a montanha;
Com a idade seca a fonte…
Nem o fogo acende a lenha…
Meia-idade não me afronte.
A idade que nos acompanha.
Trago luz na minha fronte,
E o luar ainda nos banha.
Meia-idade, meio-fio:
Amor, não chegue atrasado,
Ando adiantado e tenho frio.
Meio-corpo, meio rio:
Amor, não venha adiantado,
Ando atrasado e já não riu.
Deixei para trás o horizonte;
Deixei para trás a montanha;
Meia-idade não seca a fonte
Se o amor nos acompanha.
(Campimeco) -Meco, 20-08-2010 1:55:35
Alterado 21-08-2010 22:44:38
A PENSAR EM TI
Rogério Martins Simões
Estrela da manhã
Que queimas
E não me guias.
Amiga
Flor que desperta
E não se apaga.
Lírio!
Flor de lótus!
Semente!
Mar de vida:
Onde semeio,
Onde me banho,
E não me apago.
1983
(Registado no Ministério da Cultura
Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C.
Processo n.º 2079/09)
Menina, seja onde for…
Romasi
Rogério Martins Simões
Terna e doce recordação
de uma certa menina:
luzia no meu coração
numa caixa pequenina…
Sonhava sempre contigo!
Nunca havia traição!
Apenas o injusto castigo:
Terna e doce ilusão…
“Terna e doce recordação
Nunca deixaste de me pertencer
É meu, o teu coração
Por favor ajuda-me a viver”
Menina, seja onde for,
Onde e quando Deus quiser.
Rio de seiva na tua flor…
Ontem menina, hoje mulher…
Minha mãe que vai ser de mim?
Rogério Martins Simões
Minha mãe que vai ser de mim?
Passos os dias a cuidar do gado,
Implore à senhora do Bonfim,
Que me arranje um bom noivado!
Minha mãe está bem assim?
Lavei o rio no meu corpo criado…
Não visto cambraia! Visto cetim.
Seios de carmim e corpo rosado.
Minha mãe e se eu for ao baile,
Não precisa de vestir seu xaile…
Minha mãe! Vou ter cuidado:
Viço de rosa, cravo e alecrim,
Minha mãe reze por mim,
Que eu não tenho namorado!
Lisboa, 22-09-2007 23:36:37
Chegaram pela manhã de uma longa jornada.
O tempo era ameno e, de repente, lembraram-se daquele… Verão onde tantas manhãs foram suas.
Pararam, nada disseram um ao outro, como esperassem que algo acontecesse e toda a Aldeia fosse ao seu encontro.
Já tardam tão cedo as manhãs que ainda só agora começam, e os pés, tão pesados, já não são da viagem…
Finalmente quebraram o silêncio:
- Lembras-te, Isabel, da queda… no musgo que crescia à beira do curral…
Olharam em redor!
Tudo parecia demasiado pequeno, distante, ao alcance de um braço.
Notei, na quietude, as fragilidades com que tentavam disfarçar a insegurança daquele breve momento.
Então, eu vi no rosto dos meus pais:
“olhos de água cristalina,
da mais pura nascente da serra,
correndo em levada...”
Cheios de recordações, como se mais nada existisse que os fizesse ficar, partiram.
Rogério Martins Simões
(A meus pais)