CHAMARAM-ME COMUNISTA
romasi
Rogério Martins Simões
A pouca luz dos candeeiros
escondiam a raiva cerrada
nos dentes dos prisioneiros.
Ai se eu pudesse falar
Beijar os seios nus
da liberdade
Ai se eu pudesse romper
os cadeados da injustiça
e tingir de sangue
Os lençóis de linho dos cobardes.
Por aqui vou andando
meu pai.
Escrevo esta carta
que não irá receber
Carta imaginária
sem papel ou tinta
Acabei por confessar
o que nunca pensei!
Acabei por assinar
o que não sei!
Chamaram-me comunista!
Que é isso meu pai?
1973
Poemas de amor e dor
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Na revolta do cajado
ROMASI
Sobem o monte
O pastor, o cajado e o cão!
Quanto mais se vergam
Maior é o trambolhão!
-EH farrusco!!!
Ah! cão de uma figa
Vai... dar a volta aos porcos.
Dizem pelos montes
Queixam-se os antigos
Que os donos dos porcos
Só dos porcos são amigos…
- Vai-te a eles Sereno!
- Anda varrão oooooo
Maldito javardo…
Marrano ladrão!
Fala-se por estas andanças
Que os porcos
São delícias nas matanças…
- Volta Sereno!
Anda Farrusco!
Venham cá roer do nosso!
Merenda de pastor
Fome de cão!
Toucinho cru
Naco de pão
Diz-se e não se enganam
Gado gordo,
E pele tostada
Pastor seco
Liberdade castrada.
Dizem agora no monte
Quando os pastores se juntam
Que amanhã irão comer o porco
Na revolta do cajado…
27/01/1971
Poemas de amor e dor
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MORSE
Rogério Martins Simões
Traço, traço, traço, ponto
Morse, morse, morse morte…
Mais homens, mais gente.
Traço, traço, pouca sorte
Vai partir um contingente!
Pouca terra, pouca terra…
Lenços e preces agitam o ar
O pranto fustiga todo o cais…
Partem os noivos; chora o mar…
Os filhos, os amigos e os pais!
Traço, traço, traço, pronto
Regressa de novo o transporte
Beijam-se os filhos e os maridos
Agitam-se os lenços garridos
Traço, traço, traço, sorte…
Morse, morse, morse morte
Apita o barco engalanado
- O soldadinho vem no porão
Marido e o filho tão amado
Que regressa… num caixão!
Lisboa, 14/02/1969
Poemas de amor e dor
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RENOVAÇÃO
ROMASI
Se há algo que não concordo
É da injustiça e do medo
Das torturas que me recordo
Dos homens que partiram cedo
Atraídos à cilada
Despedaçados com matracas
Por discordarem da vida
Que levavam nas barracas
Só pediam pão, só isso!
E um pouco de educação
Só queriam paz e justiça
E o fim da opressão!
Fugiram, os que puderam,
Para França ou para qualquer lugar
E foi lá que souberam
Que podiam regressar.
Aqueles que escaparam à morte
Que para África foram lutar
Desfilaram cantando a sorte
Por poderem regressar
E no 1º Maio fizeram a festa
Que há muito estava proibida
Não há festa como esta
De chegar à liberdade com vida:
“Maio dos bravos,
Maio primaveril
Nascem viçosos os cravos
Do vinte e cinco de Abril.
1974
Poemas de amor e dor
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(Óleo sobre tela ELisabete Maria Sombreireiro Palma)
Voltei a escrever e já não queria
Rogério Martins Simões
Voltei a escrever e já não queria.
Pensava ter esquecido este meu versejar.
Ser poeta é criar e sofrer todo o dia,
Passar ao papel o que a alma encontrar.
Este estado de alma que já não ousaria,
Que nos faz sofrer, para me encontrar,
Deixa o meu corpo quando escrevo poesia,
Nos poemas que ela cria, para me libertar.
A ti que mais amo e sem querer,
Se fico triste e te faço sofrer,
Rosa eu te quero, rosas eu te dou.
E se tu me vires distraído ou disperso,
Uma única coisa eu imploro e peço,
Espera! A minha alma não regressou.
Lisboa, 16 de Abril de 2004
Poemas de amor e dor
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QUANTA DIFERENÇA
Romasi
Qual é a diferença
Que vai em mim?
Qual é o gozo que me torna
Num homem morno
E me transforma
Em pasquim…
Qual retrato!?
Qual dilema!?
O meu cinema
É movimento…
É a minha vida.
Esta certeza,
Este calhar
Esta tristeza
No meu olhar.
Qual é a diferença
Que vai em mim
Que me transforma
Num fracasso…
E neste dilema
Posso ser, até, pasquim…
Mas não palhaço!
23/08/1966
Poemas de amor e dor
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