Teus olhos, miragem...
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(Fotografia gentilmente cedida por Padre Pedro – Pampilhosa da Serra)
(Fotografia gentilmente cedida por Padre Pedro – Pampilhosa da Serra)
Eu vi meu pai chorar
I.
Meu pai legou-me a cadeira que há 57 anos comprou e onde sempre se sentou. Quando a retirou do escritório e me a foi dar:
eu vi o meu PAI chorar!
Deixou para trás a bola de trapos, os companheiros de escola, da brincadeira e do trabalho, as pessoas a quem lia e escrevia as cartas e o trabalho duro da aldeia.
Era muito cedo a manhã. A sua mãe, doente, rezou consigo as últimas orações e entregou ao menino, um saco de pano com as poucas "roupitas coçadas" e um naco de broa para disfarçar a fome na viagem.
Trazia consigo a vontade de vencer e na bagagem a mocidade perdida.
Tinha uma memória espantosa que conservou toda a vida.
Carregava no pensamento a aventura. Era responsável e "magicava" por uma vida melhor: secreta ilusão de quem foi incapaz de renegar a educação.
Percorreu a pé grande distância que o separava da camioneta e soletrava, palavra por palavra, os últimos conselhos de sua mãe.
Finalmente o comboio a carvão que apanhou na Lousã e no dia seguinte chegou à cidade que a partir daí chamou de sua.
Lisboa, nesse tempo, fervilhava de trabalhadores migrantes na sua própria Nação.
A Europa estava em guerra mas o menino, disso pouco sabia. Recordava-se de um velho parente escutar a telefonia, às escondidas, e de ouvir falar nisso
Tão pequeno e já "alombava" os cabazes da mercearia:
- Que importa se já estava habituado! Afinal os passeios eram melhores que o caminho das cabras.
Mas sonhava! Todos os meninos sonham!
Às vezes, ainda há pouco se tinha deitado e já estava levantado para voltar a carregar as mercearias. E, enquanto subia as escadas mais íngremes, rezava à espera de um milagre que trouxesse de volta a escola para um dia ser "doutor".
Mas sonhava! Sonhava, digo eu: pois o sonho é a compensação de quem sofreu.
O menino queria estudar! Ser alguém! Mas a tragédia tornou a voltar e numa Terça-feira soube da morte de sua mãe lá na Aldeia!
Nas vésperas, houve uma grande azáfama na Póvoa!
A sua mãe, de nome Maria, fez questão em anunciar, nessa sexta-feira, que no dia seguinte partiria numa viagem para o Céu.
E disse à irmã do menino:
- Laura limpa muito bem a casa e logo, quando acabares, vai chamar o Povo.
Mas a menina chorava enquanto limpava a casa com a vassoura de carqueja.
Por fim, lá foi de casa em casa e transmitiu a mensagem da "Ti Mariquitas" e o Povo da Aldeia foi em peso sentir o peso das palavras de despedida da minha avó.
Chamou de novo a irmã do menino, e disse:
- Laura vai chamar o "Ti Manuel Barrocas" para me tirar as medidas para fazer o meu caixão.
A irmã do menino chorava, não queria ir mas foi!
O dia chegava ao fim e com ele o Sábado (12 de Março de 1938), fim anunciado da mãe do menino.
Dizem que a sua mãe se despediu de todos - pediu perdão de todas as suas ofensas, se ofensa tivera para com alguém.
Dizem que nessa tarde de Sábado elevou as mãos aos Céus e clamando por Deus a sua alma se elevou para junto dos seus...
Faço aqui um parágrafo: Toda esta história não é uma "estória" ou uma fábula.
Recordo-me do menino, já pai, meu pai, contar que a sua mãe, a minha avó, ainda disse:
- O meu filho escreveu-me hoje uma carta! Mas eu já não a vou ouvir porque amanhã, Sábado, vou morrer e a carta só vai chegar na segunda-feira.
Minha avó faleceu a um Sábado, no dia 12 de Março de 1938, e foi sepultada ao Domingo, na Pampilhosa da Serra, como ela sempre pediu ao seu DEUS.
Meu pai só recebeu a notícia por carta, na mercearia da Rua do Grilo, na Terça-feira dia 15 de Março de 1938.
Tudo isto foi-me contado em menino por meu pai e confirmado por parentes que presenciaram os factos e a sua vida.
Lisboa, 25 de Agosto de 2004
PAI
No céu vejo uma estrela.
No etéreo, Deus nos receberá:
Meu pai é a luz mais bela
Que no firmamento brilhará.
Vou pedir a Deus por escrito,
Que nos junte aos dois no céu
E me chame ao primeiro grito
Com a força que Ele nos deu.
23-03-2004
25-08-2004 19:31:39
ROMASI DA POESIA
A 1ª fase da minha poesia vem dos meus tempos de luta estudantil.
Se falo tantas vezes na tinta, nos poemas, foi a recordação da tinta e da água com que dispersavam os manifestantes.
Escrevi alguns poemas molhado. Escapava por entre na multidão e vi muitos companheiros a apanhar “porrada”. Nunca fui apanhado! (ou não viesse a ser campeão nacional de atletismo pela equipa do Sporting Clube de Portugal)
Depois, conheci relatos (verdadeiros), da outra tinta vermelha de sangue, com que os presos políticos escreviam, no Aljube, a palavra LIBERDADE.
Esta fase marcou e definiu meus passos.
Como era e sou católico participei em todas as manifestações da JOC (Juventude Operária Católica).
Recordo-me de ouvir e cantar, às escondidas, as canções do Luís Cília na JOC (edifício da Sé).
A 2ª fase vai do 25 de Abril de 1974 até a ter escrito, em 1984, o poema intitulado “ A minha poesia de homem solto”. Este poema foi para mim uma ode poética ao trabalho e com ele encerrei esta fase.
Estou na 3ª e última fase, a fase mais madura, mais poética, e infelizmente com algum sofrimento à mistura
Os males que se reflectem no corpo e não atingem a alma são pequenos comparados com outros males que perpassam junto de nós e nos agridem no dia-a-dia.
Pois é… ser poeta é sofrer.
Onde estão os sonhos de Abril? Onde pára a alegria deste povo que sofre na carne a miséria e a injustiça.
Onde param as promessas dos sucessivos governos e políticos que não cumprem. Não queria beliscar – trazer para aqui palavras duras, que me secam a boca que me trazem amargura e revolta. Eu sei que sou sonhador! Que quero um Mundo melhor: sem fome, sem guerras mas sobretudo sem miséria.
Onde estão os empregos para o exército de desempregados. E os empregados não estão mal pagos, explorados e cheios de miséria encoberta?
Eu sei que sou poeta! Mas, não será verdade, são sempre os trabalhadores que pagam a crise: e o povo aguenta!
São sempre os trabalhadores que pagam os impostos: e o povo aguenta!
Finalizo este meu desabafo, escrito ao sabor da pena e da mágoa, com um pensamento que escrevi no meu livro de poesia rasgada a que chamei renovação:
“Vivias num bairro de lata e agora sobram-te telhas”
24/12/2004
(National Geographic Photos) João Paulo II ( Falavas de mansinho Tolhido de dores (O corpo já pesa) Dizias baixinho Cercado de flores - Reza! As mãos tremem A figura impressiona Mas o espírito está Firme E segura o corpo Quem me dera essa força Reza por nós, Reza!
(Padre Pedro - Pampilhosa da Serra)
PAMPILHOSA DA SERRA
Agradecimento
O Pároco Pampilhosa da Serra, fez chegar às minhas mãos um CD contendo milhares de fotografias deste Concelho tão esquecido dos políticos.
Sem nada pedir em troca (apenas a sua divulgação), o que já não vem sendo hábito dos homens, encontrei na pessoa de um Sacerdote (Católico) um imenso amor pela Beira Serra (Beira Baixa) e um desprendimento ao bem material que poderia obter com tão belas fotografias.
O Padre Pedro, depois de rezar e tratar das almas dos seus paroquianos, usa a sua máquina fotográfica com arte, mestria e paciência, para passar à posteridade imagens que, de todo, já se pensava que não se conseguissem obter.
O Padre Pedro fotografa: as gentes que restam nas aldeias (em especial os idosos): os cantos e recantos que preenchem o nosso imaginário: as aldeias perdidas na serra: as tradições e lugares secretos deste paraíso encantado, que permanece sereno e sem mácula, apenas manchado, aqui e além, pelos sinais dos incêndios que desbastam a sua riqueza regional os pinheiros.
Neste Concelho impera:
O silêncio, a paisagem, o rio e a barragem.
O gavião, a águia, o melro, o gaio e o cuco.
As gentes trabalhadoras que já no fim da vida regressam à aldeia.
As festas de Agosto e Setembro, as filhozes, o pão-de-ló e as tigeladas.
A matança do porco, o presunto, os maranhos, o sarrabulho a chanfana e tantas iguarias, como o cabrito o mel e a broa de milho.
Às vezes até é bom que se esqueçam, dizemos nós os que lá não vivemos o ano inteiro, pois a paisagem continua virgem, sublime: mas rude e agreste para quem lá vive o ano inteiro, como o são os gelos que de lá se avistam na Serra da Estrela e que no Invernos cobrem a região.
Voltando ao CD o Padre Pedro dividiu este verdadeiro álbum fotográfico em diversas pastas que passo a transcrever, (para fazer crescer água na boca a que conhece o Concelho):
Até à Portela do Fojo
Neve
Rio Zêzere
Rio Zêzere (nevoeiro)
Aradas
Machio
Pessegueiro
Pampilhosa da Serra até aos Padrões
Alto do Concelho
Ilha dos Padrões I
Ilha dos Padrões II
Santa Luzia (anoitecer)
Entardecer
Santa Luzia
Pampilhosa da Serra entardecer I
Pampilhosa da Serra entardecer II
Fogo
Noite
Póvoa
Procissão do Enterro do Senhor.
- Os meus agradecimentos Sr. Padre Pedro e uma sugestão: comercialize o seu CD para as obras de caridade da sua Paróquia.
Cá por mim continuarei a utilizar preferencialmente estas imagens neste blog e em especial no blog, que criei para meu pai, http://povoa.blogs.sapo.pt., local esse preferencial para a divulgação destas fotos.
Bem-haja.
Deste seu amigo e descendente dos Simões da Pampilhosa.
CANÇÃO DOS ABANDONADOS
(Romasi)
Vamos por aí
Atrás do nada nos vamos...
Não!
Vamos por aqui
Atrás de nada sigamos.
Vamos por aí
Em busca de pão
Vamos por aqui
Olhando o chão
Não!
Não vamos por aí!
Vamos por aqui
Ou então ficamos...
1973