Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA
Poeta: Rogério Martins Simões
Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004
Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda
Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA
Poeta: Rogério Martins Simões
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Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda
Fui desafiado, por de um grande poeta e amigo do Brasil, para colaborar numa sua iniciativa sobre o tema
“HUMORES BREJEIROS EM FORMA DE SONETO (PERFEITO OU IMPERFEITO) “.
Resolvi participar, respondendo sim ao seu desafio, e escrevi uma simples brincadeira, brejeira, a que chamei “Dom Teso”.
Umas palavras mais:
Natália Correia foi a pioneira na divulgação deste tipo de poesia. Todos certamente se recordam e alguns até possuem (como eu) da sua “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”.
Fazem parte desta colectânea poetas consagrados, como Bocage e, ainda outros, como por exemplo: Luís de Camões, Martim Soares, Padre Braz da Costa Mendonça, Filinto Elísio, Abade de Jazende, Gomes leal, Guerra Junqueiro, António Nobre, Augusto Gil, Natália Correia, Alexandre O´Neill, Ary dos Santos, Eugénio de Andrade e muitos mais.
Desconheço se a Editora “Afrodite” já reeditou a Antologia que é uma referência na comunidade Luso-Brasileira, ou, como dizia David Mourão Ferreira:
- «Finalmente!» «Até que enfim!»
Esta é a minha humilde contribuição, brejeira, à memória da grande poetisa Natália Correia.
Hoje, 20 de Maio de 2006, quis Deus que fosse o seu aniversário, e que aniversário meu Deus: 84 lúcidos anos!
Eu sei que no seu bilhete de identidade consta ter nascido a 19 de Maio de 1922. Mas a data está errada!
Pai, há tantas coisas erradas nos registos!
Se eu procurasse no Registo pela data do seu nascimento havia de ser o bonito.
E se eu insistisse, que o pai nasceu no dia 20 em vez do dia 19, chamar-me-iam teimoso ou louco varrido.
É por isso que há por aí tantos loucos, encarcerados na sua sadia loucura, e se verdades dizem não passam de uns insanos.
Às vezes penso: se existem certos actos ditos de loucura, encarados e vistos como tal, eles têm como sublime vantagem de se concretizarem nos sonhos.
Não foram loucos os Santos, e tantas pessoas nobres que se despiram para oferecerem os trajes aos pobres!
Não são loucos os sonhadores de um mundo melhor, os que oferecem toda uma vida a uma causa maior!
Foi loucura viajar no espaço da incerteza e aterrar no império do esplendor como o fez São Francisco de Assis!
Eu sei que sou um sonhador: nem sempre sou o que pareço! E se pareço ser o que não sou, sou aquilo que bem conheço.
Dizia Pessoa que ser poeta é ser fingidor!
- Mas eu não finjo, obrigam-me a fingir!
- Eu não morro, obrigam-me a morrer!
- Eu não sofro, obrigam-me a sofrer!
E se sofrer tanta dor não compensa, ser solidário recompensa exigindo que a vida seja melhor onde a ela exista e aconteça.
Pai! Estas palavras são hoje inteiramente para si apesar de me ter perdido em deambulações.
Quando comecei a escrever, sem ter a menor ideia do que lhe iria dizer, sobravam-me as palavras. Agora, faltam-me as palavras que às vezes tanto me sobram.
Mas tenho tantas palavras para si, meu pai!
Ainda há pouco, enquanto conduzia, latejavam-me os sentimentos e tinha na cabeça searas de pensamentos deambulando em movimentos.
- Brotavam-me tantas emoções!
- Tantas lembranças!
- Tantas recordações!
Sabe, meu pai, herdei de si esta enorme fortuna que agora sei que desprezam: O sentido da honra; a sensibilidade; a humildade e acima de tudo a honestidade e se rico não fico, com esta tamanha riqueza, é porque me vejo aflito, quando aflito eu fico, para ajudar os seus netos.
Pai parabéns! Porque hoje completa 84 anos.
Como vê, desta vez, não me esqueci, se alguma vez esquecer o esqueci.
Que filho poderá esquecer um ser tão precioso como o pai!?
Recorda-se, meu pai, de nos declamar tanta poesia!?
Tantos poetas! Como este poema de dia de anos (ou desenganos), de João de Deus, que o pai recita quase sempre em seus anos:
DIA DE ANOS
(João de Deus)
Com que então caiu na asneira
de fazer na quinta-feira
vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse...
Mas fazê-los não parece
de quem tem muito miolo!
Não sei quem foi que me disse
que fez a mesma tolice,
aqui o ano passado...
Agora, o que vem, aposto,
como lhe tomou o gosto,
que faz o mesmo. Coitado!
Não faça tal; porque os anos
que nos trazem? Desenganos
que fazem a gente velho;
faça outra coisa; que, em suma,
não fazer coisa nenhuma,
também lhe não aconselho.
Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
às vezes por brincadeira,
mas depois, se se habitua,
já não tem vontade sua,
e fá-los, queira ou não queira!
Como sei que continua a gostar de poesia, transcrevo o meu poema “Memórias” que lhe dediquei há uns anos:
Agradeço a todos quantos lêem os meus poemas e me incentivam para continuar. Agradeço a todos, incluindo amigos pessoais, a forma carinhosa como me recebem em vossas casas.
Digo-vos que não tenho por hábito desistir. Estes últimos meses têm sido muito difíceis para mim. Quase desisti…
Não me vou para aqui lamentar pois há quem muito mais sofra e não chore. Sem lamechas dir-vos-ei que stress mina e domina a minha doença e o resultado está à vista: não durmo, os medicamentos já não produzem qualquer efeito e por via disso, falha a voz, o cérebro deixa de comandar o braço e a perna esquerda.
Agora tremo e temo – dizem que a Parkinson é assim.
O pior sofrimento é a solidão. - Sempre que possa e enquanto Deus me der forças continuarei.
Deixo-vos com os poemas que habitam no meu coração
Não resisto à tentação de vos fazer perder algum tempo, um tempo carregado de teclados, para vos dar conta dos meus conflitos.
Às vezes pareço adormecer numa enorme letargia, apenas aparente, e dou por mim misturado, baralhado, mergulhado entre papéis e pensamentos. A cabeça tritura interrogações - como seria mais feliz se as libertasse.
As nossas vidas estão repletas de salões desconfortáveis que nos encerram, nos conflitos internos, entre quatro paredes.
Prefiro meter as mãos na terra que andar aos papéis perdendo tempo.
Já perdi tantas horas!
Tenho numa varanda, virada ao Tejo, dois canteiros cheios de plantas que sorriem para as águas. Ontem reparei que as roseiras estavam carregadas de botões e as águas, nas marés, espreitavam de espanto para a minha janela.
Adivinham-se fenómenos estranhos
quanto o perfume das rosas se misturar com a meia maresia do meu Tejo.
Eram os meus primeiros passos, em linha angular, nesses tempos de sete anos.
As casas eram pequenas. Todos se amontoavam -dormia-se por turnos e não sobravam os espaços
As ruas, que conduziam à feira-da-ladra, eram "povoadas" de vendedores ambulantes que ganhavam a vida num tropel de "quatro patas".
Havia fava-rica a cinco tostões! E ouvia minha mãe dizer que tinham cabelos - pois não as podia comprar...
Nas pedras da calçada, redondas sem alcatrão, havia burricadas e os garotos da minha idade jogavam à bola, com bolas feitas de trapos.
Como ansiava e esperei por uma bola a sério! Como a dos jogadores e, quando tinha algum tostão, comprava rebuçados enrolados em cromos à espera que me saísse do jogador mais "custoso".
Certo dia meu pai jogou de uma só vez e saiu-lhe o boneco que dava direito à bola. Aí pensei. O dinheiro compra tudo!?
Os ponteiros dos relógios fazem corridas de horas, minutos e segundos!
Na minha rua havia garotos com horas a brilharem ao sol!
Na minha cabeça, fantasia de sete anos, abriam-se espaços ocos com imagens sucessivas de relógios com correias de nylon coloridas.
Conheci os meus novos companheiros de aventura e por estranho que pareça já os adivinhava há muito! Filhos de mães trabalhadoras que aliviavam os braços deixando os meninos entregues ao destino.
Os seus rostos eram iguais a tantos meninos: Viviam e cresciam na rua: jogavam a bola, partiam os vidros, fugiam da polícia pendurados nos eléctricos e nos autocarros.
Era o começo de uma geração desprovida de laços.
-Ó pá! O que andas aqui a fazer?
Perguntou-me o "Zarolho" quando me viu pela primeira vez, como menino, levado para a escola pelo braço de minha mãe.
Encolhi os ombros! Era o indício da minha geração, pois, no queimar dos anos, vi muitos a "encolherem os ombros"
- Sabes?! Isto aqui é da "malta"
Fez-se silêncio - de um vazio contínuo e assustador.
- Para seres dos nossos - e eu sou o chefe, é preciso que lutes comigo!
E lutei!
Nesse dia um menino de sua mãe chegou a casa - com as calças rotas e sujas.
- Rogério, que fizeste às calças que estreaste?
- O teu pai, logo, vai bater-te! (Ameaçava minha mãe dando-me um tabefe).
Chegou a noite!
O meu pai chamou a si a difícil tarefa de um pai trabalhador.
Chorei! Aqui começaram as minhas primeiras lágrimas, unidas, lado a lado com a minha primeira aventura.
Rogério Simões
1974
Poemas de amor e dor
conteúdo da página
publicado às 22:24
MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Simões
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
11/4/1975
Todos os poemas deste blog, assinados com pseudónimo de ROMASI ou Rogério Martins Simões, estão devidamente protegidos pelos direitos de autor e registados na Inspecção-Geral das Actividades Culturais IGAC - Palácio Foz- Praça dos Restauradores em Lisboa. (Processo 2079/2009). Se apreciou algum destes poemas e deseje colocar em blog para fins não comerciais deverá colocar o poema completo, indicando a fonte. Obrigado