OLHEM PARA MIM
(Óleo sobre tela
Elisabete Maria Sombreireiro Palma)
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(Óleo sobre tela
Elisabete Maria Sombreireiro Palma)
(Óleo sobre tela BETE - Elisabete Sombreireiro Palma)
(foto NGeographic)
Wiriamu
Ficaste pelo caminho…
Aldeia de tantos anos
Teus homens
Donos de bocados de mato
Perderam-se na picada
Fora de pé
Entre a terra
E as chamas do napalme
Ficaste pelo pescoço,
Nas covas que tu mesmo abriste
Cortaram-te as goelas
Liberdade
E tu aldeia de tantos anos
Não mais terás cobras
Mordendo os teus rebanhos…
10/1974
Menino de caracóis finos seda mel
Menino!
De caracóis finos, seda mel,
Brincando na sarjeta
Com barquinhas de papel.
Menino feliz!?
No calor do lar
- Filho acorda
Tenho de ir trabalhar!
Menino!
Anjo de asa cortada
Adormecendo nu
Abandonado na escada.
Menino triste,
Que nunca sorri com fome
- Cala-te mulher
Que o menino dorme.
Menino!
Beijando o ar
Correndo e cantando
Ao desafio com as aves:
- Cuidado adulto!
Não espantes o pássaro...
Menino!
Obra de arte
Voando livre
Como a andorinha,
A caminho da liberdade.
Menino!
Com os olhos a luzir
Ao deus dará
- Sim meu filho
A fada boa virá.
Menino adulto
Crescendo
Vagueando abandonado
Pelas ruas da cidade.
ANÚNCIO
Pais aflitos procuram:
Criança!
Vestia qualquer coisa
Que não se lembram!
É alto?
Talvez baixo!?
Os pais na verdade
Não sabem como ele é
Mas estão aflitos….
Menino!
De caracóis finos seda mel.
Brincando na sarjeta
Com barquinhas de papel.
1975
(Dedicado à minha filha Ana Lúcia)
Este poema, especialmente dedicado à minha filha, é igualmente dirigido a todas as crianças do Mundo.
Todos os contos começam assim: Era uma vez. Mas este não é um conto! Em 1975 escrevi este poema em desespero quando “perdi” a minha filha, num centro comercial,
Esta história teve um fim feliz, encontrei “a menina de caracóis finos seda mel” brincando com outros meninos num lago ornamental do centro comercial. Mas...as histórias raramente acabam com um final feliz.
Defendamos as nossas crianças para que cresçam em paz e respeitemos a sua meninice e a sua inocência!
«"De Divina Proportione" 1498 Milano» LUCA PACIOLI Há uns anos… Há uns anos, nos finais de 1988, aceitei um desafio – como não sabia nada informática – derrubei a minha resistência do não querer: comprei um computador, que me custou os “olhos da cara”, frequentei diversos cursos no Sindicato dos Economistas e consegui descobrir que afinal o ser humano tem uma infinita força para vencer as barreiras que ele próprio cria. Às vezes não basta querer – tem de ser. A tenacidade é uma virtude dos lutadores e desistir não foi o meu horizonte. A partir daí, nesse computador, que fui sucessivamente actualizando em hardware e software, comecei a fazer todos os meus relatórios, pois no meu trabalho não existiam computadores. Aproveitei o ensejo: desafiei uns quantos colegas que também ganharam a aposta. Depois daquele repto aproveitei os ensinamentos: afinal aquele desafio teve em mim um despertar de consciência, um ensinamento - nunca se deve dar por vencido por mais se sejam os infortúnios ou as vicissitudes da vida. É verdade que às vezes nos sentimos quase a desistir “Subir ao mais alto do lugar, para sempre abrir o teu olhar” mas aquele fio condutor de vida faz o tal “clik” e por vezes basta uma simples caneta ou teclado, um bocado de papel (seja lá de que forma), para se transformar uma “tragédia” num desabafo... Não há mal que o tempo não cure! Por isso tantas vezes recorro à catarse da poética. E se às vezes pareço estar e não estou, dou por mim estou fatigado apesar de me ter conservado quedo e mudo. Escrevo tudo isto para dizer que pensava saber informática, o suficiente, para dominar o meu computador. Mas o “bicho” de vez em quando prega partidas! Afinal vou ter de o formatar para começar de novo ou comprar um mais moderno. Ontem fiquei triste! Afinal não tive o cuidado necessário para salvam uns quantos novos trabalhos e supostamente posso vir a perder todo um acervo que estava à espera do seu tempo. E vem a talhe de foice falar no imprevisto, naquilo que se espera e com que se não conta e por mais antivírus que se tenha, ou se use, há sempre um momento que se quebra a guarda e os não convidados invadem as nossas casas. São os novos vampiros...pois os mais antigos foram numa canção do Zeca Afonso. Prometo voltar, se a vida quiser, depois de me retemperar nas águas bravas do Meco. Desculpem o improviso um abraço para todos. Sejam felizes. 28-05-2004
Terna e doce recordação
Rogério Simões
I
CAEM LÁGRIMAS
Rolam-me na face
Caem no chão
Secam com o vento
As lágrimas tristes
Do meu coração!
Continuo escrevendo,
Versando tua beleza,
Apenas interrompido
Por longos suspiros
Da grande tristeza
De meu coração!
E, se depois penso
Que jamais serás minha:
Rolam lágrimas
Pelo rosto molhado
Caem no chão!
Secam com o vento!
As lágrimas tristes
Do meu coração.
Abril de 1968
Recordo-me de ti
II
Recordo-me de ti
nas horas que não eram tempo
quando os nossos olhos
ainda mal se abriam.
Eras menina
E eu corria
ao encontro na Parede
e a parede era mesmo ali
a dois passos do coração.
Eras menina
E as horas não eram tempo
Nem o tempo me separou de ti!
Terna e doce recordação
III
Eu sei que nos momentos mais duros da vida,
nos pedaços em que ainda retinha o alento
eu me recordava de ti.
Não sei a razão
Mas a menina do meu coração
permanecia na minha vida.
Adivinhava os teus passos!
Sabia de cor os teus gostos.
Afinal estavas aqui...mas fugias sempre!
Faltava-me a coragem...
E não queria perder-te!
E nossos pensamentos distantes
Eram dois amantes.
Passavam os anos não passava o amor
E até o desencontro não perdia o calor.
Que estranha forma de viver
Têm nossas duas vidas:
Tão cheias de amor e desencontradas.
Deixei endurecer o coração!
Perdi a minha juventude!
Atravessei noites!
Levantei Manhãs!
Mas não perdi a virtude...
Sabes! É tarde!
IV
"Terna e doce recordação
Nunca deixaste de me pertencer
É meu, o teu coração
Por favor ajuda-me a viver"
V
"Feliz! Só por te ver
Viver? Eu não vivi!
E nesta ânsia de ter
Acabei por te perder
Perto, tão perto de ti"
1986
(Diálogos das almas e do poeta perdidos no tempo)
Rogério Simões
A ROSEIRA NÃO SERÁ ESQUECIDA
(
A Rosa,
Rosa das escuras ruas de Alfama,
Era rosa
Filha de Roseira Brava
Que vendia sardinha de Barrica.
A Rosa
Não nasceu num berço de oiro
Nem nasceu menina rica.
Sua mãe a pariu
Quase morta
Numa manhã invernosa
A caminho da lota.
A Rosa
Filha de Roseira Brava
Que vendia sardinha de Barrica.
Não se quedou apregoando sardinha
Pelas ruas da Regueira
Ou vendendo seu corpo lesto
Pelos bares tristes da Ribeira.
A Rosa,
Rosa das escuras ruas de Alfama,
Filha de Roseira Brava
Que vendia sardinha de Barrica.
Parida quase morta
A caminho da lota,
Que não teve berço de oiro
Nem nasceu para ser rica
Lutou pela Liberdade!
Morreu vendendo a vida!
Agora dizem em Alfama…
Que a Rosa não será esquecida.
1969
(homenagem à mulher trabalhadora de Alfama)