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POEMAS DE AMOR E DOR

Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA Poeta: Rogério Martins Simões Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004 Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda

POEMAS DE AMOR E DOR

Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA Poeta: Rogério Martins Simões Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004 Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda

Derradeira oração

 

 

 

 

A derradeira oração marca uma época da minha vida.

A guerra colonial estava a marcar profundamente a minha juventude e as cicatrizes nos corpos das vítimas inocentes enlutavam as famílias.

Católico praticante, militante na Juventude Operária Católica, não concebia, devido aos ensinamentos e à minha consciência, ter de pegar numa arma para matar. Daí as contradições. Por um lado o ensinamento Cristão - não matar; por outro lado era-se obrigado a pegar em armas para salvar a pele.

 



 

DERRADEIRA ORAÇÃO

Romasi

 

Senhor meu Deus,

para aqui ando a combater

nesta horrível e tremenda guerra

e que tenho de matar

para salvar a minha terra,

perdoa-me!

Antes não quero viver

que ser vil assassino.

Como tantos demais…

que mataram nossos pais,

e nos querem matar a nós.

Levai-me,

Dai-me a morte

Levai-me para junto de vós.

 

No meu capacete de aço já furado,

Com sangue derramado,

outra bala bate com furor.

Se mais abaixo fosse

já não existiria

e tudo acabaria.

Mas que contas Vos haveria de dar

Que fizera eu para este mundo salvar

Se me tinha acobardado?

 

Nada!

Antes quero morrer

A ver alguém perecer

Com uma praga na boca

Por eu o assassinar.

 

De novo outra bala me bate.

No peito uma mancha de sangue.

Caiu no chão!

Estou exangue!

Minha vida já findou!

Tudo está acabado!

Já não sinto o coração.

Já nem posso rezar

a minha última oração.

22/08/1968

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A MONTANHA

(Foto de José Augusto Simões - da autoria do padre pedro)

(José Augusto Simões)

Este será, certamente, um marco importante na minha vida. Meu pai com 84 anos, poeta e homem bom voltou a escrever um magnífico poema.

Os poetas são assim. De repente quando menos se espera ressuscitam nas palavras

Reparto convosco este momento de muita felicidade, pois desta vez - meu mestre - resistiu à tentação de escrever e não rasgar.

Por vezes um homem chora. Hoje choro de felicidade com a beleza deste poema

Pai,

Que montanha nos reserva o futuro...

Se o futuro passou sempre por suas mãos...

Beijo as suas mãos, meu querido pai!

 

A MONTANHA

(José Augusto Simões)

 

Subi a montanha

Para ver a beleza

Queria falar sozinho

Com a natureza

 

Olhei para o céu

Mas não vi ninguém

Só vi umas nuvens

Em forma de véu

 

Ao chegar ao alto

Era muito cedo

Havia uma voz

- Tu não tenhas medo

 

Chegando ao cimo

Logo me deitei

Tudo era um sonho

Quando acordei

 

Desconhecia tudo

Não sabia nada...

Queria subir mais alto

Mas não tinha estrada

 

Olhei para o lado

E vi um caminho

Uma voz me disse

Não subas sozinho

 

Pensei duas vezes

Não quis arriscar

Do alto do monte

Já só via o mar

 

Como era tarde

Pensei em descer

O medo era tanto

Que me fez tremer

 

Assim a tremer

Vi uma escadaria

Desci por ela

Vi o que queria...

15/8/2006

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Balança...

(Foto national Geographic

 

BALANÇA

Romasi

 

Balança

Sobe e desliza

Percorre-me o jeito

Sobe e desliza

Afaga-me o peito.

 

Balança

Sobe e desliza

Dança

Como a brisa

Grita

Sobe comigo

Dança

Balança

Tapa meu corpo

Contigo

 

Dança

Balança

Comigo

Como a brisa

Que se espraia

Desliza

E não se cansa…

 

1975

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ROGÉRIO é o meu nome

 

Rogério é meu nome

 

Há na vida momentos para tudo.

Ao longo da nossa vida tivemos momentos “tábua rasa”, abrimos os olhos e começámos lentamente a descortinar umas formas, talvez o peito do nosso crescimento e juntamente com um sorriso - o canto da nossa mãe.

Depois fomos olhando, reparando sem ver, os que estavam perto: algumas sombras mal definidas - a família - e, enquanto estávamos no berço, contemplávamos o que nos rodeava - as nossas mãos, os nossos pés, os cobertores, o compartimento do berço, as paredes, o tecto do quarto...e despertávamos, desta aparente letargia, nas vozes doces que, pouco a pouco, apreendemos a descortinar.

Foi aí que reparámos que se repetiam, muitas vezes, uns quantos vocábulos quando se aproximavam de nós. E, de tanto escutar palavras ditas com ternura, começámos a responder instintivamente ao chamamento.

Rogério é meu nome!

Tal como aprendi o meu nome, sem ter a consciência de que o estava a interiorizar, aprendi muita coisa nesse tempo em que tinha todo o tempo do mundo...

Nessa época, os meus pais, mesmo sem vagar, porque as suas vidas por vezes eram duras, tinham todo o tempo para mim. E os avós, quem os tinha, ensinavam aos meninos os contos mágicos, inscritos no livro do pensamento, que lhes tinham sido transmitidos oralmente pelos seus antepassados.

Há sempre tempo para tudo, digo eu, e na luz irradiante da família aprendi a amar e a ser amado; aprendi a respeitar e a ser respeitado; aprendi a ser feliz e a fazer felizes os outros; aprendi a acatar e a escutar os mais velhos; aprendi a dar valor às pequenas coisas, e, como os meus pais davam tudo o que podiam, aos seus parentes, aprendi a ser solidário.

Depois, ainda havia a minha madrinha.

Eu tive madrinha! Era a irmã mais velha de meu pai, a Nazaré, que trabalhava nos Hospitais Civis de Lisboa, no Hospital de Arroios, e como ela descobri que havia seres humanos que sofriam.

Mas, como era menino, corria pelos claustros do hospital e brincava com os meninos doentes às escondidas.

Foi aí que constatei que a minha madrinha era uma santa, pois consagrou toda a sua vida aos doentes.

Eu tive a felicidade de ter madrinha, e como madrinha substitui os pais, levava-me a visitar os acamados a quem emprestava o único rádio que tinha para lhes aliviar a dor.

Era assim: dava-me rebuçados (ficava todo lambuzado); aturava-me enquanto meus pais iam trabalhar e ensinava-me que até a dor pode ser aliviada escutando um belo fado da Amália...

 

(Parte ll)

“R” mais “o” é RO; “g” mais “é” GÉ; “r” mais “i” é RI mais “o” com o faz ROGÉRIO, assim me ensinava a escrever o meu a minha professora, a Dona Susana, da “Escola Republicana de Fernão Botto Machado”.

Gosto do meu nome embora seja invulgar. Aprendi que dava jeito, pois, quando era chamado a exame, éramos ordenados por ordem alfabética e sempre tinha mais algum tempo para estudar. Tinha os seus inconvenientes: estava sempre no fim da lista e em algumas situações, de tanto esperar, desesperava e aproveitava para roer as unhas...

Há sempre tempo para tudo - digo eu.

Existiu um tempo para ser desejado sem dar por isso; um tempo para ser amado sem dar por isso e, quando dei por isso, reparei que tive e ainda tenho, felizmente, todo o amor e carinho dos meus pais.

Vou parar por aqui esta minha meditação. A minha ascendência é significativamente a razão da minha conduta, da minha decência, da minha consciência.

Tive e todos nós tivemos tempo para tudo.

Errei, levantei-me. Escutei sempre o coração, empenhei sempre a alma controlada pela minha consciência. Voltei a errar e voltei a erguer-me aprendendo sempre com os meus erros.

Reconheço os disparates que fiz (todos os fazemos) ao longo das nossas curtas vidas.

Mas a minha glória está em reconhecer os meus defeitos, combater os meus erros, sublimando as minhas atitudes de comportamento que não se reviam ou revêem na herança do meu sangue ou e na educação que recebi dos meus pais.

Sou um humilde poeta! Nunca serei um homem pequeno...

Rogério Simões

 

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Anseio

 

 

 

ANSEIO
Romasi
 
Quisera ser poeta
Mas não de uma elite ultrapassada
Um poeta sem nome
Sem cor ou raça
Apenas um poeta
 
Gostaria de ter palavras doces
Mas só me saem palavras duras
E difíceis de roer
Queria ser livre
Para poder encontrar
O que quero ler…
Para poder estudar
O que quero aprender…
Mas não!
Só a minha cabeça se levanta
E nesta tristeza
A que chamam de nada…
Que me faz sofrer
Que me faz pensar
Resta uma certeza:
Poderei até não ser poeta
Mas continuarei a lutar…
 
Lisboa, 1973
 

 

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Lutas a carvão

 

Lutas a carvão


 

(Romasi)

Rogério Martins Simões

 

A secura da terra

Tornou os lábios

Húmidos

De ira à natureza

Porque a chuva

Ficou nas nuvens.

 

A hulha cheira mal

E o seu gás

Destrói os brônquios

O fumo é preto,

suja os macacos…

E as velhas tossem

asma dos gatos.

 

 

Um tipo mascarrado

Tinha o rosto preto…

Por isso confundiram-no

Chamaram-lhe cão.

12/12/1973

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À noite só

(foto do Padre Pedro)

À NOITE SÓ

ROMASI

 

À noite, só,

Incrustado no escuro

Esperando o amanhecer

À noite, só,

Chorando

Lágrimas invisíveis

Empedernidas de lamentações

À noite, só,

De rastos

Procurando, no escuro,

Ilusões

Milhões de astros...

À noite só,

Eu,

E tantos abandonados,

Sem a lua...

1975

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Vacilar...

(Foto do Padre Pedro)

VACILAR

Romasi

 

Na falta de ser, eu sou:

Sou da terra,

Sou do ar ou da lua

Mas sou!

Da minha terra e da tua.

Só me falta viajar,

E sentir

O meu sentido pelo ar...

Quase vivo

Quase

Morto.

 

13-05-1972

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MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Simões
 
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
11/4/1975

Todos os poemas deste blog, assinados com pseudónimo de ROMASI ou Rogério Martins Simões, estão devidamente protegidos pelos direitos de autor e registados na Inspecção-Geral das Actividades Culturais IGAC - Palácio Foz- Praça dos Restauradores em Lisboa. (Processo 2079/2009). Se apreciou algum destes poemas e deseje colocar em blog para fins não comerciais deverá colocar o poema completo, indicando a fonte. Obrigado

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