Eu nasci numa casa pobre
(Pampilhosa da Serra foto Padre Pedro)
EU NASCI NUMA CASA POBRE
Eu nasci numa casa fundeira
Cresci numa casa da serra
As ruas eram a estrumeira
Do esterco se alimenta a terra
As casas eram velhinhas
Mas tinham boas lareiras
Minha mãe e as vizinhas
Levavam estrume p´ras leiras
Só se juntavam à noite
Ou quando estava a chover
Punham lenha na fogueira
Para todos bem receber
Éramos todos primos e amigos
Todos juntos a conviver
Punha-se mais lenha no lume
Foi ali que aprendi a ler
Todas elas nos contavam
Cada qual a sua história
Atentos todos escutavam
Tudo ficava na memória
Depois de tantas histórias
Coisas que havias nas terras…
Tínhamos as nossas glórias
Subíamos ao alto das serras
Quando chegámos ao cimo
Avistávamos o horizonte
Era a serra mais alta
No largo tinha uma fonte.
Saía a água da rocha
Muito pura e cristalina
Logo os dois nos baixámos
Para beber água tão fina.
Quando olhámos os astros
Vimos o sol a nascer
Era a coisa mais bonita
Que podia acontecer
Depois de o sol arraiar
Corremos todos os montes
Em todos os vales corria
Água em todas as fontes
Terras cobertas de matos
Tão bonitas, uma beleza
Todas ali se criaram
Com o sol da natureza
Depois descemos para a aldeia
Com saudade e alegria
Já sabíamos muitas coisas
Era verdade o que se dizia.
Já na escola fui aprender
A lição que já sabia
Recordo e não irei esquecer
A lição de astrologia.
Lisboa, 12 de Dezembro de 2006
(Poema da autoria de meu pai e mestre que nasceu em 1922)