Sim, está tudo certo...
(Lisboa 2007)
(Até o cão já lhe tiraram... )
“Sim, está tudo certo.
Está tudo perfeitamente certo
O pior é que está tudo errado”
……
(Extracto de um poema de Fernando Pessoa, de 5/3/1935)
Sim, está tudo certo…
Rogério Martins Simões
São proibidas as margens curtas…
As regras definidas
Os computadores...
proibiram os versos!
Afinam as regras de mercado!
O teclado transformou o papel
Num papel ilustrado.
Esta vida é um burel,
Que me deixa prostrado.
Ainda, assim, continuo vivo
Nas palavras
Combinadas de azul:
De um azul sem rimar
Tingido de púrpura
Atingido de fel…
O plástico do teclado
Tem as letras apagadas,
Os números debotados
Os cifrões transfigurados.
E as letras... são, agora, percentagens.
Os pontos sociedades anónimas,
De rostos limitados.
Limitam o meu tempo.
Enfrento o computador…
O monitor não faz parte da poesia!
A poesia prefere as flores,
Entranhas,
Por onde perpassa a luz.
Hoje não há poesia!
Poderia tentar
um poema de amor.
Amor não!
A dor é maior que as dores.
Só o canto me apaixona!
Só o canto me desencanta!
Amores e desamores
O meu não partiu!
Paro de bater no teclado!
Não sai nada…
Nada se viu!
Ando às cegas!
Que importa ver?
A fórmula diz tudo…
As regras são impostas
Que importa saber
Se o jogo já começou…
Peito aberto!
E na ferida do meu peito
Deixo encoberto,
Na amargura e na dor,
Palavras que se soltam
De um computador…
“Sim está tudo certo
Está tudo perfeitamente certo
O pior é que está tudo errado”
Lisboa, 24 de Janeiro de 2007