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POEMAS DE AMOR E DOR

Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA Poeta: Rogério Martins Simões Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004 Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda

POEMAS DE AMOR E DOR

Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA Poeta: Rogério Martins Simões Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004 Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda

Flor de campina

 

 

 

Flor de campina

Rogério Martins Simões

 

Teu corpo

Leve, leve, como o vento!

Meu guizo

Correndo,

Tocando, atrás do tempo

E é qual espuma

Batendo

Dançando docemente

Como teu corpo

Que desejo e alento!

 

Teu corpo

Leve, leve, como o vento!

Por cima dos muros

Comendo amoras silvestres

É qual gesto

Que tão lesto

Não nos ocupa tempo!

Como este guizo

Tocando atrás do vento.

 

Teu corpo

Que canto,

Ao desafio com as aves,

É qual menina traquina,

Vermelha papoila do campo.

 

A liberdade meu amor,

Que a tanto guisa e alento,

É qual campina em flor,

Leve, leve, como o vento.

 

1981

 

Poemas de amor e dor conteúdo da página

25 de Abril



 

Crónica presente de Abril longínquo

(José Baião Santos)

Há na vida momentos que ficam para sempre inesquecíveis. Permanecem na memória por longos anos de forma inalterada, quase tão reais como a própria consciência do presente; ou como o reverso desse mundo ideal que construímos, aleatoriamente a cada impulso da poética trazida pela resistência quotidiana. Na narrativa dos acontecimentos confundem-se os factos com os sentimentos, fruto de um movimento de inversão do factor distância. Quanto maior é o afastamento no tempo, mais intensa e carnal é a recordação emotiva dos factos, é como se compensássemos a perda irremediável do passado, no rasto dos planetas, com a representação de um novo conto de fadas. Cada um desses momentos participa da nossa substância humana e religiosa.

Abril amanheceu com tonalidades de coragem. Bento ensaiava naquele dia, como vinha sendo hábito nos últimos três ou quatro anos, os passos iniciais do seu ritual matinal que o conduziriam ao seu emprego. Enfrentava a sua imagem no espelho com distraída indiferença. Era uma figura justaposta e de uma estranha familiaridade. Muitas vezes culpamo-nos, à beira da impiedade, pela inconsistência dos modelos que construímos para preenchimento dos buracos vazios da vida. A curta distância um aparelho de rádio emitia música marcial. Era uma aurora densa de mais para aquele tempo de primavera. O poder deveria ter enlouquecido de vez, pensou. Mas não, a voz de sua mãe, vinda da cozinha, a meio do corredor, exclamava entre perplexidade e medo (sentimentos que naqueles tempos sempre nos acompanhavam – e ainda hoje carregamos!): “Oh! Bento, deve estar a passar-se alguma coisa. Só estão a transmitir marchas militares no Rádio Clube! Não me digas que é algum golpe?!”. Aquelas palavras deixaram-no aturdido, paralisado, frente ao espelho grande da casa de banho onde a pouco e pouco se ia perdendo, na neblina do vapor de água, o seu rosto jovem, envolto de frondosos cabelos negros. “Não me digas que é algum golpe?!”. Ficaram os dois em silêncio, tão-só a escutar a emissão que naquela manhã, entre as sete e meia e as oito, parecia querer sublevar o povo, em defesa da pátria ameaçada. A espera valeu a pena.

“AQUI MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS… “. Havia nos seus olhos uma erupção de felicidade, abraçavam-se aos pulos pela casa. Estavam só os dois. Bento foi até à janela e gritou: “Abaixo o fascismo! Viva Portugal!”. Nas ruas do bairro poucos davam mostras de ter conhecimento que a tropa já ocupava, a essas horas, alguns postos chave para enfrentar as forças leais ao regime. Regime que viria a desmoronar-se às mãos de um punhado de capitães valorosos a que se juntou mais tarde a elite dos generais, à vista de um povo determinado, ingénuo e desejoso que invadia as praças e avenidas da capital.

Bento reuniu alguns dos seus correligionários das campanhas contra o marcelismo, entre os quais Joana, e aventuraram-se pelos caminhos da revolta popular contra a ditadura que nesses dias de Abril mudaram os protagonistas da história e revelaram a face oculta de um país mergulhado na profunda amargura da opressão violenta. Ao passarem por uma coluna militar Bento, ajudado pela multidão, subiu a uma chaimite e depôs no cano da espingarda de um soldado, o cravo vermelho que Joana lhe oferecera. Joana sorriu, pensando que o “POVO ainda é QUEM MAIS ORDENA”. Já à tarde no Largo do Carmo quando o Presidente do Conselho estava prestes a assinar simbolicamente o acto de rendição condicional, Bento e Joana, cansados mas felizes da jornada, encontravam-se no espaço público de uma livraria junto à Estrada de Benfica, em animada discussão sobre o desenrolar dos acontecimentos daquele dia, atentos, todos, às últimas notícias que chegavam pela rádio. E chegou, finalmente, o momento inesquecível por todos ansiado; o ditador, a esfinge do regime capitulava com a garantia do exílio e da entrega do poder aos generais. O Zeca comentou: “O mal disto tudo é que nós não vamos ter direito a nada!”. Ninguém moveu o olhar. Houve uma longa pausa, apenas cortada pelo ruído exterior do tráfico rodoviário.

Estou a lembrar-me de uma passagem do filme “Os Capitães de Abril”. Quando a coluna militar atravessava o arco da Rua Augusta um dos oficiais do exército que integrava o movimento revoltoso, disse que, depois de passados os instantes de liberdade e de euforia populares, o sistema se reorganizaria nos bastidores, numa nova ordem em proveito e sob as ordens dos detentores do poder. “Terás alegria ou terás poder (…); mas não terás as duas coisas.” afirmou Joana, tentando reproduzir de memória um trecho de um escritor americano que comentara meses antes durante uma aula do curso de filosofia.

Bento ainda recorda, hoje, esses dias vividos na esperança de um mundo igualitário e solidário. Ainda revive aquele minuto em que ergueu o cravo da vitória e em que Joana lhe sorriu num breve culminar de ilusões. Bento sempre soube que o poeta do povo não se enganava. O seu canto de fraternidade fez tremer os chacais, é verdade!, mas acabou por se perder o sentido dos versos que se imortalizaram “Dentro de ti ó cidade”. A flor das águas traz os corpos filhos da madrugada libertadora. A cidade é hoje um lugar superlotado, sujo, cruzamento de avidez e lucro, espaço multiracial desgovernado, sombra dos grandes ideais e nomenclatura do ridículo disfarce da burguesia decrépita.

Bento alisou os cabelos e saiu deixando atrás de si a emissão de rádio, num outro comprimento de onda.                  

                                                               José Baião Santos – Abril de 2007





 

 

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DIÁSPORA

 

DIÁSPORA

Rogério Martins Simões

 

Gosto de viajar para casa!

Regressar é um desejo de quem parte

e não quer ir.

Vou!

 

Já fui tantas vezes na aventura

calcetando pedras,

dormitando em tábuas,

onde me perco sem contemplações,

encalhando nos confins das terras,

amealhando uns tostões.

 

Tivesse asas para acompanhar o

pensamento

porque as asas só se levantam tendo

penas.

Penas tenho!

Pena não tenho!

Da fome e dos xailes pretos…

 

Deixei em casa corpos em metamorfose,

silêncios e silvas,

que crescem entre muros e dão

amoras…

Comprei a última tesoura de podar

Tenho a barriga a dar horas

E um sonho para voltar...

 

A vinha ficou brava…

A horta e a casa fechada

são agora um pasto de chamas.

- Aldeia porque me chamas filho

se só tive madrasta!?

- Nação porque me pedes o voto

se não te sei ler!?

 

Gosto de regressar mas não posso

ficar…

Falo agora esta meia língua estranha,

porque já esqueci a minha…

 

Volto a percorrer as estradas

que me afastam do que resta...

Levo uns trocos para a viagem

e quando me virem vai ser cá uma

festa…

Vou petiscar couratos

e beberei uns copos

com os rapazes do meu tempo.

Regressarei um dia para cuidar da

vinha…

Por agora durmo a sesta…

 

Voltarei para cumprir a promessa.

E beberei nos corpos deixados,

um néctar guardado,

entre fragas e pinheiros…

Verberarei palavras de fel,

embrulhadas com cargas de explosivos

abrindo estradas,

caminhos que me deixaram partir

Agora tenho de ir…

 

Regressarei à casa nova que construí,

e em cada degrau,

limparei as lágrimas definitivas

da minha saudade.

Vou partir mas tenho de regressar…

 

Oh Pátria amada,

onde se acolhem os sonhos do meu

regresso,

porque me deixaste partir?

 

Oh Pátria amada deixa-me regressar

ainda que só te enxergue,

no que resta,

penhascos e pedras pretas.

 

Quero todo o barro, granito ou lousa

Quero a água cristalina que emergia das

fragas.

Quero depositar uma coroa de rosas

nas campas rasas dos meus pais.

E um coroa de espinhos nos despojos

dos que me obrigaram a seguir…

 

Sonhei voltar.

Não voltarei para partir…

Não voltarei a sonhar.

Vou ficar

Tenho filhos e netos neste lugar

 

Retalha a saudade no que resta do meu

corpo!

Viajarei gavião….

 

Por agora recebo notícias do meu país

- Dizem que as motas todo-o-terreno

debutaram nas silvas da minha aldeia…

 

E se a língua portuguesa é a minha raiz

profunda,

afundo as minhas mágoas por não poder

regressar,

Porque, agora, regresso, escreve-se

noutra língua

e já nem sei o caminho de retorno…

8/03/2007



 

 

 

 

 

 

 

(Este poema é dedicado ao grande poeta português Armando Figueiredo - Daniel Cristal e a todos os emigrantes na diáspora.)

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Parkinson (soneto)

 

 
(Foto cedida por Padre Pedro)
 
 
 
 
 
HOJE É O DIA MUNDIAL DA DOENÇA DE PARKINSON
 
Para todos os meus "companheiros" na doença - muita esperança!
 
 
 

 

PARKINSON
(DIAGNÓSTICO)
Rogério Martins Simões
 
Meu amor! Tu não estavas enganada!
Só tu darias pela diferença no gesto,
Pela minha expressão algo errada,
O meu lado esquerdo menos lesto.
 
Hoje, tu não ficaste surpreendida.
Componho este poema e não desisto:
A direita, com que escrevo, agradecida!
Com a esquerda não escrevo mas insisto!
 
Com a direita escrevo o “A” de amor!
Com a esquerda se escreve o “D” de dor!
E o resto deste poema em desespero!
 
Pois sofrer, tanto sofrer não conhece.
O meu corpo, tanto sofrer, não merece.
Sofrer mais, por sofrer, não quero!
 
04-06-2002
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Desafio ao poeta

 

 

(óleo sobre tela

Elisabete Maria Sombreireiro Palma)

 

 

 

 

DESAFIO AO POETA

Rogério Martins Simões

 

Iniciámos juntos a caminhada,

Proclamámos versos ao sol-pôr

Percorria um violino a estrada

E soltava uma canção de amor

 

Acendi nos anos todas as velas…

Não consigo disfarçar a ventura

Enfeitava teus cabelos na loucura

Se te visse voltarias às estrelas…

 

Esvoaçaram pérolas de violetas

Manhãs de sol, chuva e Primavera

Cresceram nos canteiros borboletas

Se te ler nos olhos serás quimera…

 

Olhei a manhã ver se não te via

Seguias os teus passos paralelos

Trago meiguice nos meus desvelos

Recordo em ti versos e alquimia

 

Não te sei sentir indiferente

Ocupa-me agora com o olhar

Cego não te irei olhar de frente

Resta o violino para recordar

 

Dança! Agora, vamos dançar

Melodia inacabada… clave de sol

Não te podia ver! Se te ver irei corar

Esvoaçam versos em girassol….

 

Lisboa, 03-04-2007 22:52:51

 

 

 

DESAFIO AO POETA
DECLAMADO PELA POETISA BRASILEIRA
ANNE MÜLLER
 
Para escutar este poema no YOUTUBE por favor desligue o fundo musical do blog



 

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amrosaorvalho.gif

MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Simões
 
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
11/4/1975

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