(Foto National Geographic Photos)
Pés descalços
Rogério Martins Simões
Eu vi crianças nuas
A rir e a brincar
Atravessando ruas
Vi os pais chorar
Eu vi crianças nuas
Com cus tão vermelhos
Atravessando ruas
Sem ouvirem conselhos…
Eu vi crianças nuas
Com sono… já se vê
Atravessando ruas
Sem saberem porquê
Eu vi crianças nuas
Fugindo das buzinas
Atravessando ruas
Virando as esquinas
Eu vi crianças nuas
Ó magra tristeza
Atravessando ruas
À espera de mesa.
Eu vi crianças nuas
Sonhando com fadas
Atravessando ruas
Descalças nas estradas
Eu vi crianças nuas
E os ricos às janelas
Atravessando ruas
Que lucro dão elas?
Eu vi crianças nuas
Em coro a chorar
Atravessando ruas
Sentias a cantar
“Aquela criança nua
Com o rostito chorão
Tinha por vontade sua
Não viver como um cão”
12/1973
“Na minha Rua
Havia crianças nuas
Olhando as outras…
Com horas
A brilharem ao sol…”
1968
Rogério Simões
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:30
(meus filhos)
1974
Almas Nuas
Romasi
Almas nuas
Olhares serenos
Olhos de luas
Corpos pequenos
Olham mansinhos
Ternos coelhos
Corações arminhos
Os meus espelhos…
São a pureza
Do meu novo dia
A minha riqueza
E única alegria…
Lisboa 1973
Poemas de amor e dor
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publicado às 19:52
A MINHA POESIA DE HOMEM SOLTO
Rogério Martins Simões
Lancei ao vento
O meu pensamento emigrante
A minha poesia de homem solto.
E colhi por cada palavra
A aragem fresca da manhã.
E disse-me suor do campo:
-Toma o meu pólen de flor liberta
E compartilhemos o saco da fruta madura.
Lancei ao vento
O meu pensamento emigrante
A minha poesia de homem solto.
E tomei, de madrugada,
O mata-bicho em fato-macaco.
E disse-me o sujo de fábrica:
-Toma o arado
A faca feita por mim
E partilhemos o saco da fruta madura.
Lancei ao vento
O meu pensamento emigrante
A minha poesia de homem solto
E colhi por cada palavra
Na palavra, a onda calma.
E disse-me o mestre da traineira
- Toma esta rede
Come este cardume de vida
Tão cheio dos nossos mortos
E repartamos o saco da fruta madura.
Lancei ao vento
O meu pensamento emigrante,
A minha poesia de homem solto,
E colhi em toda a palavra
Um estilo novo
Numa amizade velha
E num arranha-céus da construção civil
Petiscámos todos:
O peixe vivo.
A carne fresca.
A fruta madura.
O mosto da uva.
Servidos pelo pólen da poesia livre
Colhendo a cada instante
A união do trabalho das forças produtivas.
Deixo-vos aqui
O meu pensamento emigrante
A minha poesia de homem solto…
1984
Poemas de amor e dor
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(Foto pública no sapo)
Segredos de Lisboa
Rogério Simões
Lisboa é linda mas tem segredos!
Perto do rio, correm para o mar
Por uma intemporal porta secreta
Eu vi as pernas, as mãos e os dedos,
De um velho amolador a amolar,
Numa simples roda de bicicleta.
Tinha uma pedra para afiar!
Tinha um pedal para pedalar!
Um corno pendurado para untar,
(E ao mesmo tempo para dar sorte)
Chaves de fendas para fixar,
Panelas e ferramentas de corte.
Escutei sete silvos de flauta no ar!
Dos contos que só contava ao serão.
- Já não tenho tesouras para aguçar!
Nem uso facas de tipo ameaçador.
- Olha o amolador! Olha o amolador!
Chove! Neste dia quente de verão.
09-08-2004
Poemas de amor e dor
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publicado às 11:08
(LISBOA - ALFAMA - TEJO)
fado
Rogério Martins Simões
Nas ruas da velha mourama
Era famoso o arroz de cabidela
No velho Pereira de Alfama.
Eram os pregões das varinas
Tocavam as concertinas
E os gatos espreitavam à janela
Mas Alfama não está quieta!
Fervilha, está viva, irrequieta
E um cheiro a namorico…
Deixa o Manel de alerta
Atira-se a um manjerico…
Com ciúmes da fadista Berta
A Berta que vê o artola…
Com naifa de ponta e mola
Não cede o passo ao Manel
- Acudam! Grita a infiel…
E no meio desta algazarra
Vasos partidos e tanto brado
Surge um fadista safado
Abraçado a uma guitarra
Pára a guerra na viela!
E o povo vem à janela,
Há fadistas por todo o lado…
Toca o Chico a Madragoa
Silêncio! Que a nossa Lisboa
Vai ouvir cantar o fado…
13/06/2007
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:00
ENTRE PORTAS E PAREDES
Rogério Simões
Entre portas e paredes
Eu me divido
Centro e concentro
Hesito e parto…
A nuca lateja
Ai de mim que não veja
Uma porta de saída…
Parto em silêncio...
Na mais pura água cristalina
Entre musgos e seixos
Oiço o chiar dos eixos
De um simples carro de bois
Depois…
Mãos nos queixos
Aceno na despedida…
19-06-2005 1:09
Poemas de amor e dor
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(yong girl VAN GOGH)
CAEM LÁGRIMAS
(Rogério Simões )
Rolam-me na face
Caem no chão
Secam com o vento
As lágrimas tristes
Do meu coração!
Continuo escrevendo,
Versando tua beleza,
Apenas interrompido
Por longos suspiros
Da grande tristeza
De meu coração!
E, se depois penso…
Que jamais serás minha:
Rolam-me lágrimas
Pelo rosto molhado
Caem no chão!
Secam com o vento!
As lágrimas tristes
Do meu coração.
Abril de 1968
Poemas de amor e dor
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(Foto da National Geographic)
Deslizo
(Rogério Martins Simões)
Deslizo…
No tempo que passa.
Voo
No pensamento
Que ampara.
Fujo
Da vida que fica.
Morro
Nos bocados
Que vendo…
Fico
Com nesta ânsia
De amar
Para sempre
Neste abraço sincero
Para ti.
1975
Poemas de amor e dor
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Imortal formosura
Rogério Martins Simões
Há em ti estranha
beleza
Há em ti tanta
candura
Laivos ténues de
tristeza
que se difundem na
doçura
E não me digas que és feia
se és tão pura
Teus olhos, lindos,
ralham
cegados de ternura
caem em mim e não
baralham
a tua imortal formosura.
1968
Poemas de amor e dor
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