A minha poesia de homem solto
A MINHA POESIA DE HOMEM SOLTO
Rogério Martins Simões
Lancei ao vento
O meu pensamento emigrante
A minha poesia de homem solto.
E colhi por cada palavra
A aragem fresca da manhã.
E disse-me suor do campo:
-Toma o meu pólen de flor liberta
E compartilhemos o saco da fruta madura.
Lancei ao vento
O meu pensamento emigrante
A minha poesia de homem solto.
E tomei, de madrugada,
O mata-bicho em fato-macaco.
E disse-me o sujo de fábrica:
-Toma o arado
A faca feita por mim
E partilhemos o saco da fruta madura.
Lancei ao vento
O meu pensamento emigrante
A minha poesia de homem solto
E colhi por cada palavra
Na palavra, a onda calma.
E disse-me o mestre da traineira
- Toma esta rede
Come este cardume de vida
Tão cheio dos nossos mortos
E repartamos o saco da fruta madura.
Lancei ao vento
O meu pensamento emigrante,
A minha poesia de homem solto,
E colhi em toda a palavra
Um estilo novo
Numa amizade velha
E num arranha-céus da construção civil
Petiscámos todos:
O peixe vivo.
A carne fresca.
A fruta madura.
O mosto da uva.
Servidos pelo pólen da poesia livre
Colhendo a cada instante
A união do trabalho das forças produtivas.
Deixo-vos aqui
O meu pensamento emigrante
A minha poesia de homem solto…
1984