A luz não nos segura
A luz não nos segura
José Baião Santos
a voz baixa - trémula - escondia
a raiva de uma ambiguidade afectiva
a sua alma sentia os clarões da pele de cada vez que
a morte se insuava no manto das ervas naquelas manhãs de
aproximação ao outro extremo do universo para se furtar à acidez da luz
- a luz aderente
havia palidez e denso nevoeiro nas marés enquanto
desfibrava a dor com lenta sobriedade
para ninguém se aperceber nem ele próprio
que o equilíbrio metafórico do corpo
representava uma forma de religião
sem crenças
silenciosa como o espaço opaco e vazio que preenche
a face oculta da melancolia
foi a sorrir que enfrentou aluminosidade dos nenúfares trazidos pela chuva
pensando que era feliz nesse instante
em que a luz não nos segura
Aquele abraço, de permeio com as palavras da noite
José Baião Santos
5/3/2007
(correspondência entre poetas)