Carta aberta ao Poeta José Baião
Zé Baião, um abraço
Estou aqui em “pulgas” para saber como decorreu o sarau poético. Contigo no comando estou certo que tudo correu bem.
E o meu poema foi bem aceite?
E será que alguma vez o irá ser - no tempo?
Fico feliz por saber que representas um grupo por onde a poesia se passeia no conforto das palavras.
Além de mais és poeta e criei contigo uma empatia de poeta para poeta. Por isso desculpa estar para aqui a escrever, num tempo de Outono esquisito em que o calor da noite não me deixa dormir, porque afinal a mão direita ainda escreve…
Que desconforto seria para mim se não conseguisse escrever. Os poetas são uns operários da caneta e trazem pensamentos errantes que debutam no papel. Que papel nos está reservado? Serei poeta?
Quanto a mim que nada sou, serei o que o destino quiser, porém, sou poeta:
Um poeta sonhador que tantas vezes lhe roubaram os sonhos.
Hoje estou nesta! Enquanto houver alguém a procurar a minha poesia não irei desistir de a escrever ou de a chorar.
Ainda hoje um colega nosso me dizia que tinha visitado o meu blog no Sapo e que estava impressionado ao ponto de se identificar com ela. Já não é a primeira vez que o dizem! Foi por isso que voltei a escrever parando de rasgar como era meu hábito fazer.
Ainda bem que estás virado para organizares e recitares poesia. Tivesse saúde tentaria fazê-lo como tu o bem fazes.
Hoje apetece-me reflectir em vez de escrever poesia e para não falar para as quatro paredes resolvi escrever-te, aditando palavras, com palavras que hoje tenho espalhado por aí.
Pergunto muitas vezes:
Que faço com estes versos?
Sentir-se-ia desconfortável o lixo com o peso dos versos?
Em Portugal quem liga à poesia?
E se eu os mandasse mesmo para o lixo não suavizariam o mau odor que por aí anda de saltos altos…
Vou terminar.
Pouco me importa que em Portugal a poesia não tenha expressão! Só me entristece que no dia de Camões e de Portugal pouco se fale de poesia
Zé! E se em vez de medalhas, no 10 de Junho, condecorassem com poemas dos Lusíadas ou com versos de Caeiro?
Camões tem poesia para todos os gostos. Antes, nas escolas, ensinava-se os Lusíadas, agora nem um só canto. Quantos conhecem a sua lírica? As chamadas elites culturais?
No meu caso nada de elites - sou povo! Como é enorme o povo em – Pessoa!
Meu pai e mestre, como não tinha rendimentos para nos dar sobremesas à refeição, enchia-nos o prato com saborosos poemas – os seus e os dos grandes poetas. Mas isto é pelintrice e pouco importa. Importa é estar na berra, importa é mandar umas tretas para que o povo se entretenha e não pense.
Por mim não quero que pensem! O problema é que um dia o povo irá acordar e vai ser terrível!
Tudo mudou e sem poesia o mundo é menos sonhador e mais desumano
Repara amigo - quando se escreve poesia não está só! Não estamos sós!
A poesia enche-nos a casa de lágrima ou de sorrisos e reverte os sonhos desfeitos em estrelas cadentes para voltarmos de novo a sonhar. Estamos sozinhos quando as paredes emparedam os pensamentos e nem uma só lágrima se verte.
Há pouco visitámos um amigo que está num lar, um bom lar! Que lar substitui a família! Curioso! Chegámos a casa os dois fatigados e estivemos com sono durante umas horas. Agora acordei e estou nesta:
Carta para o Baião!
Carta a um poeta!
O que é a poesia?
O que é ser poeta?
A poesia é a magia que espreita a ponta dos dedos esborratados de tinta…
Ser poeta é quase morrer e renascer num canto ou num verso.
Paro, tenho de parar, porque amanhã voltarei à rotina e sem rotina não tenho possibilidade de viver.
Todos andamos num carreiro, para cá e para lá sem saber ao que vamos. Andamos, corremos, pensamos como fazer para sobreviver e não vemos! Como podemos ver se nada há para ver e se vemos teremos de parar para reflectir?
Deixam-te reflectir?
Que reflexão fazemos nas nossas vidas?
Quantas televisões temos em casa?
Quantos tabuleiros se enchem de pratos no desconforto da mesa vazia?
Porque esfria a comida na espera e cresce bolor no pão que não sobra?
Que desconforto quando não há poesia!
Saudades
Rogério Martins Simões