Fénix
Rogério Martins Simões
Nestes dias
que passam a correr:
Sem sentir.
Nestes pedaços
de tempo velho:
A renascer.
Reaparece a vida:
Nas folhas novas a nascer.
Nas flores lindas por abrir.
Porém,
Tudo acaba por se varrer.
Todos acabamos por sofrer,
Pelo que há-de vir.
E eu, que nada sei,
Por nada ser:
Em cinzas irei partir.
E das cinzas renascer.
1/08/2004
Poemas de amor e dor
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(foto da NGeographic)
OLHAR NÃO É PECADO…
Rogério Martins Simões
Rapaz enamorado um colo não deixa!
Velho embasbacado… olha para o meio…
Olhar só é pecado quando se desleixa,
Se deixa de apreciar um perfeito seio.
E se for de mulher bela cor de ameixa…
Com beijos enfarinhados de centeio…
Que importa a farinha? Quem se queixa?
- Deixa p´ra lá a janta que hoje não ceio…
Não ceio, o gato tem peixe e não come…
Ou tem barriga cheia; ou não tem fome:
- Anda cá sardinha não voltes para o mar…
Pois se a fome é maior que a barriga,
Come-se a ameixa, a farinha e a espiga:
Comer não é pecado! Pecado será olhar?
15-01-2007 21:57
Poemas de amor e dor
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publicado às 20:22
Água Salgada
Rogério Martins Simões
Tenho sede...e sofro
É em vão a minha dor.
A vida acaba
Quando espero o seu começo.
Triste, já cansado,
Fatigado de andar
Busco água
No oceano da vida.
Retiro-me, procuro o mar
Mergulho…,
Afogo a minha sede de vida!
E morro…
Olhos salgados de mar…
Novembro de 1968
Poemas de amor e dor
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ERA NOITE, NÃO SE OUVIA VIVALMA
Rogério Martins Simões
Era noite, não se ouvia vivalma,
Nem o ranger da cama de cima…
Esta quietude que não me acalma.
Aquele silêncio que lateja e rima…
E meu corpo desafiava a alma.
Meus olhos tristes, que triste sina.
Estava tão só… como esta calma,
Abismo fundo da profunda mina…
Sentida agonia de quase morto,
A fétida melena me denunciava:
Mais tempo houvesse eu era horto.
Olhei em redor tudo era branco.
Deitado na maca sinistra do banco.
Estivera morto e ressuscitava…
(Memórias do poeta)
16-05-2005 19:07
Poemas de amor e dor
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A ESTRELA MAIS BELA QUE ENCONTREI!
(Rogério Martins Simões)
Sabes encontrar-me pela manhã,
No riacho cristalino do desapego,
Onde, renunciando, dores refego,
Para que a esperança não seja vã.
Livre da dor e tortura é este afã.
Cuido este corpo onde me apego.
Tarde libertar-me deste carrego,
Que extingue o carma de amanhã.
E se estiver na hora quero propor:
Irei de mãos dadas pelo caminho,
Perdido eu de amores, devagarinho,
Levarei comigo o meu lindo amor,
A estrela mais bela que encontrei.
Não quero perder quem tanto amei!
Lisboa, 27-03-2008 22:04:08
Poemas de amor e dor
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PARA ALÉM DO VENTO…
Rogério Martins Simões
Volúpias em corpos que bailam submersos,
Dispersam em nós o sémen da procriação.
São inocentes os nossos dias em tentação,
Anseios da natureza doces como versos…
Mordiscaste a minha boca em provocação...
Desejos inatos tão diferentes, tão diversos,
Anunciando um tempo novo sem reversos,
Ardendo como fogo em adoçada erupção….
E a natureza nos cobriu com vento criador,
Confiando as sementes num acto de amor,
Quando o teu corpo fértil comigo dançava!
Além de nós havia um tempo pouco visível,
Para que recomeçássemos, num cio sensível,
E o teu corpo com ingénita sedução bailava…
Aldeia do Meco, 26-10-2007 23:11:43
Poemas de amor e dor
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publicado às 21:33
NA NOITE
ROMASI
Na noite,
Há milhões de vidas,
Milhões de mortes,
Seres tímidos
Tornando-se fortes.
Na noite
Na vida do sangue
Há cocaína.
Vampiros…
Heroínas...
Na noite
Há olhos tristes
Há ódio
Espadas em riste…
Na noite
Na escuridão que já viste
Os cegos têm
A sensação que já sentiste.
Na noite
Uma mulher chora
E o homem afoito
Na rua mora.
Na noite
A lua destoa
É a impotência
Do eclipse do dia.
Na noite
Dizem que há amor
Mas não andam os girassóis.
Lisboa, 10 de Janeiro de 1971
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:31
Poema suave
Rogério Martins Simões
Venham de lá as flores
Neste nosso verbo amar
Que as folhas estão caindo.
As dores estão sentindo
Uma criança chorar.
Venham de lá as flores
E os frutos por colher
Que as dores estão sentindo
Os homens que vão partindo
A chorar e a sofrer.
Venham de lá as flores
E o Outono vai passar
Que as dores estão sentindo
A Primavera chegar.
Venham de lá as flores
No milagre do nascer
Que as dores estão sentindo
As verdes folhas, crescer….
Venham de lá as flores
E a alegria de viver!
Lisboa, 1989
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Nasceu na Malhada - Comeal
15/02/1925
Isabel Martins de Assunção, Minha mãe, nasceu numa pequena aldeia da Beira Serra. Desde muito cedo começou a trabalhar e, por isso, nem a deixaram aprender a ler.
O seu amor por meu pai, pelos seus 3 filhos, pela família e amigos é a verdadeira razão para se ter esquecido de si.
Neste dia em que completa 84 anos estamos de “abalada” para comprar o bolo de aniversário e fazer a festa. A minha doce Bete já tem tudo pronto.
Reparto convosco a minha felicidade e dou a conhecer uma mulher extraordinária, prima direita do falecido Presidente do Tribunal Constitucional Luís Manuel César Nunes de Almeida, minha querida mãe
Rogério
MÃE
Mãe que não aprendeu a ler
Mas sabe sempre os meus ais
Mãe que cedo lutou para ter
O tanto que nos deu e me dais
E depois de si minha mãe?
Quando um dia me faltar
Não a tiver a acariciar
Este pedaço de si também!
De si, minha querida mãe.
Mãe!
Passe-me as suas mãos pelo peito
Que este seu filho perdeu o jeito…
E nem as estrelas consegue agarrar…
Um beijo minha querida mãe,
Parabéns pelo seu aniversário,
Seu filho,
Rogério Martins Simões
Poemas de amor e dor
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publicado às 12:18
PÁRA
Rogério Martins Simões
Segredaste-me tantas palavras,
Esta noite meu amor,
Quando no quarto imperava o silêncio!
E disseste tantas coisas,
Em silêncio,
Que nada ficou por dizer!
Tu sabes que eu gosto do silêncio!
De respeitar o silêncio,
Mesmo que ele incomode.
Incomodam-me
Mais os estados de “não alma”,
Que perturbam o silêncio,
Com palavras ditas de forma não calma.
Eu sei que não conheces
As “não palavras:
Que me ferem os tímpanos,
Que não acalmam!
Que me pulverizam o silêncio
Aniquilando o alento!
Que me cortam a respiração
E me deixam frustrado,
Cabisbaixo,
Adiando ou extinguindo
Para sempre a inspiração!
Que génio teriam os poetas
Se lhes parassem a respiração,
O pulsar e a pena?!
De que forma?
Com que sentido,
Teriam estas palavras,
Se as minhas palavras
Fossem desprovidas de qualquer sentido.
Sentidas foram as tuas palavras
Quando me disseste,
Sem falar,
Estas palavras:
Pára de escrever!
Porque as palavras te fazem sofrer!
Pára, vem descansar!
Para o corpo retemperar!
Mas meu amor
O meu descanso
Está nas palavras que não comando!
E se sofrer eu sofro
Escrevendo
Pior sorte seria
Não escrever chorando.
Poemas de amor e dor
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publicado às 18:56