Desce a noite...
Desce a noite…
Rogério Martins Simões
Desce a noite
De seda fina
de fino trato.
A lua clama:
que a flama afoite!
Desce a noite!
Cai o pano!
Sobe o tacto…
23/9/2007
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Desce a noite…
Rogério Martins Simões
Desce a noite
De seda fina
de fino trato.
A lua clama:
que a flama afoite!
Desce a noite!
Cai o pano!
Sobe o tacto…
23/9/2007
MODIGLIANE
José Régio
José Maria dos Reis Pereira, (José Régio), nasceu em Vila do Conde em 1901 e foi um dos fundadores da revista “presença”. Com uma vasta obra editada transcreve-se um dos seus sonetos.
CÂNTICO
Num impudor de estátua ou de vencida,
Coxas abertas, sem defesa..., nua
Ante a minha vigília, a noite, e a lua
Ela, agora, descansa, adormecida.
Dos seus mamilos roxos-azuis, em ferida,
Meu olhar desce aonde o sexo estua.
Choro... e porquê? Meu amor, irreal, flutua
Sobre funduras e confins da vida.
Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos...
Enquanto o luar a nimba, inerte, gasta
Da ternura feroz do meu amplexo.
Cantam-me as veias poemas nunca feitos...
E eu pouso a boca, religiosa e casta,
Sobre a flor esmagada do seu sexo.
(Antologia de Poesia Erótica e Satírica)
(Edição de Fernando Ribeiro de Melo)
“Afrodite”
Lisboa, à direita a antiga escola Comercial Patrício Prazeres
Regresso da escola
Romasi
Rogério Martins Simões
Regresso da escola,
percorro os mesmos passos;
as mesmas ruas;
é rotina!
Por isso não ligo às ervas que crescem
entre as pedras da calçada...
Aos cegos que por mim passam…
Sou tal como eles: não vejo!
Ah! Agora, recordo:
As barracas amontoadas
ao fundo da escola
e aquelas crianças nuas,
brincando,
no gelo dos corações caridosos?!
Também há rosas!
Não! Havia!
Arrancam-nas
Põem-nas na lapela
e as pétalas caem
no odor que fica…
Depois, tudo se esquece,
Tudo passa!
Passa e gira na rotina
E, no limiar da porta,
tiro a chave,
acordo,
e vejo o mundo...
Lisboa, 30/01/1969
(Registado no Ministério da Cultura
Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C.
Processo n.º 2079/09)
Menina, seja onde for…
Romasi
Rogério Martins Simões
Terna e doce recordação
de uma certa menina:
luzia no meu coração
numa caixa pequenina…
Sonhava sempre contigo!
Nunca havia traição!
Apenas o injusto castigo:
Terna e doce ilusão…
“Terna e doce recordação
Nunca deixaste de me pertencer
É meu, o teu coração
Por favor ajuda-me a viver”
Menina, seja onde for,
Onde e quando Deus quiser.
Rio de seiva na tua flor…
Ontem menina, hoje mulher…
Curiosa Lucerna, descoberta entre muitas outras, na localidade de Santa Bárbara dos Padrões
CASTRO-VERDE - ALENTEJO
Lucerna de época romana (século I -III d.C)
Museu da Lucerna - Castro-Verde
CINZAS INGRATAS
Rogério Martins Simões
Afirmo que as nuvens estão vazias
e os astros estão em chamas.
Afirmo que os poetas são pastores,
das noites vadias…
de estrelas e chamas…
Afirmo que os versos se perderam,
no meio das sílabas,
quando as sílabas silvaram soluços
de alfabetos longínquos…
Afirmo que os poemas incompletos
são retalhos intrínsecos
de soluços irrequietos…
Não voltarei a olhar para trás…
As cinzas ingratas…
fertilizam as noites frias!
Praia do Meco 06-07-2010
Minha mãe que vai ser de mim?
Rogério Martins Simões
Minha mãe que vai ser de mim?
Passos os dias a cuidar do gado,
Implore à senhora do Bonfim,
Que me arranje um bom noivado!
Minha mãe está bem assim?
Lavei o rio no meu corpo criado…
Não visto cambraia! Visto cetim.
Seios de carmim e corpo rosado.
Minha mãe e se eu for ao baile,
Não precisa de vestir seu xaile…
Minha mãe! Vou ter cuidado:
Viço de rosa, cravo e alecrim,
Minha mãe reze por mim,
Que eu não tenho namorado!
Lisboa, 22-09-2007 23:36:37
A VIDA CANSA
Rogério Martins Simões
O telefone descansa…
A barriga pança,
E a vida cansa.
Sem desconfiança
Não há lembrança
De tanta “chança”:
O telefone descansa...
A puta dança…
Da vida que cansa.
Je parle français.
Vive la França
É tudo uma merda…
É tudo cagança:
Je faire pipi
Na mudança…
A vida cansa!
1989
Foto de Rogério Martins Simões - Olhares -
NOS ESPELHOS DO FAROL
Rogério Martins Simões
Maestro ou actor!
Nada!
Tenho a casa assombrada:
Sofrimentos meus,
Partem em debandada
Em passo de caracol…
Virei feitiço!
A minha agitação
É um constante compromisso
Entre a terra,
a lua e o sol…
Sementes de girassol,
Sem agiotas,
Alimentam toupeiras e gaivotas…
Estou louco!
Gritei!
Meu rumo é viajar.
Deixem-me levitar,
Açor nas tardes frias,
Nos espelhos de um farol…
De degrau em degrau,
Subo e quero ser:
Pássaro nocturno;
Silêncio ou profeta,
Nos confins do arrebatamento.
Vagabundo
das partidas adiadas.
Remador
de uma nave galáctica…
Toupeiras acenam à despedida.
Gaivotas perdem sementes.
O espanto é de espera…
Subo e vou ser:
Pássaro nocturno,
Silêncio ou profeta,
Argonauta ou asceta,
Nas asas de uma quimera…
Praia das Bicas - Meco
02-11-2009 21:38:24
“O direito de autor é reconhecido independentemente de registo,
depósito ou qualquer outra formalidade,
artigo 12.º do CIDAC, aprovado pela Lei 16/08 de 1 de Abril”
Chegaram pela manhã de uma longa jornada.
O tempo era ameno e, de repente, lembraram-se daquele… Verão onde tantas manhãs foram suas.
Pararam, nada disseram um ao outro, como esperassem que algo acontecesse e toda a Aldeia fosse ao seu encontro.
Já tardam tão cedo as manhãs que ainda só agora começam, e os pés, tão pesados, já não são da viagem…
Finalmente quebraram o silêncio:
- Lembras-te, Isabel, da queda… no musgo que crescia à beira do curral…
Olharam em redor!
Tudo parecia demasiado pequeno, distante, ao alcance de um braço.
Notei, na quietude, as fragilidades com que tentavam disfarçar a insegurança daquele breve momento.
Então, eu vi no rosto dos meus pais:
“olhos de água cristalina,
da mais pura nascente da serra,
correndo em levada...”
Cheios de recordações, como se mais nada existisse que os fizesse ficar, partiram.
Rogério Martins Simões
(A meus pais)