Escarpa...
(Foto de Rogério Simões)
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(Foto de Rogério Simões)
(Óleo sobre tela
da minha querida e amada companheira
Elisabete Maria Sombreireiro Palma
Foto de Rogério Martins Simões
SANTA PÁSCOA
Improviso
da alma e do poeta
(Rogério MartinsSimões)
Dia a dia o desamor
Quebra o sentido da vida
Sofre-se em segredo
E na incerteza...
Reina a ganância,
A injustiça
O sofrimento, a pobreza,
E o medo!
É fácil dizer:
Temos de ser solidários!
Ser… não é fácil?
A vida é tortuosa,
Manhosa,
Vai tudo numa pressa.
E na pressa tudo olha
Nada se vê!
Olho! Nada vejo!
Olho! Nada sinto!
Olho! Olho! Olho!
Que vejo?
Vai tudo na pressa
À velocidade do salário
Vai tudo na pressa
À velocidade do ganho!
E o homem virou máquina,
Computador
Autómato.
Mas… o luar está igual
O céu não mudou!
Mudou a humanidade
Que perdeu a individualidade.
Passámos a ser números,
Peças de inventário.
Desumanidade!
Dia a dia
Caem os valores morais
Perfilam as estatísticas
Dos ganhos:
Ganha a produção:
Ganha-se menos!
Trabalha-se mais:
Ganha-se menos!
Que importa?
Se um homem tem fome?
E se há revolta.
Que importa?
A quem importa?
Importa é o dinheiro
Ser rico,
Virar banqueiro.
Mas… a areia cintila no deserto!
E nem tudo o que brilha é oiro
- Não vedes o céu a irradiar?!
Não! A humanidade não luz:
A sociedade é egoísta,
Prolifera o desamor.
Importa é estar na "berra"
E neste egoísmo nada sobra.
Está quase a bater no fundo!
Estes tempos são difíceis
Só há tempo para o fútil,
Para a notícia brejeira,
Para a asneira
Para a coscuvilhice.
E nesta agitação…
A alma consome
E o corpo mata.
Mas o mar permanece azul!
O melro assobia
O vento vira furacão.
Passou o tempo…
(O tempo passa depressa)
E na pressa
Não há tempo para filhos.
Dos filhos para os avós.
Dos avós para os netos.
Dos meninos para a família!
Volta poesia!
Volta poeta...
Acredita...
Que estamos no Outono,
Mais logo… será Inverno,
Vem aí a Primavera
Tudo será verde… renascido,
E de volta ao lar,
Em redor da lareira
Quando o dia findar,
Os avós,
Os pais
E os netos
Recordarão histórias da vida,
Contadas sem segredos,
(Segredos bem guardados).
E desses segredos
Renascerão
Os gestos colectivos de amor
Repreendidos
E esconjurados
Os actos egoístas
De desamor.
E os meninos
De volta às escolas
(Sem números nas camisolas)
Pintadas a lápis de cor
Vão ter recreios doirados
Em mil e uma aventuras.
E se treparem às árvores,
Subirão à “Torre de Babel”
E todos se entenderão
Na mesma língua.
Porque a terra vai ser paraíso
E os frutos não serão proibidos...
Lisboa, 29-10-2004 22:27:03
(Registado no
Ministério da Cultura
-
Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
Castelo de S. Jorge (Foto de Rogério Martins Simões)
DIÁLOGOS: AS PEDRAS
Rogério Martins Simões
Hoje pisei as pedras da calçada,
Devagarinho!
E as pedras disseram baixinho
- Olá poeta
Lisboa, 8/02/2011
HOJE É O MEU DIA... DIA MUNDIAL DA PARKINSON
SEJAM TODOS MUITO FELIZES
SEM PARKINSON!
PARKINSON
(DIAGNÓSTICO)
Rogério Martins Simões
Meu amor! Tu não estavas enganada!
Só tu darias pela diferença no gesto,
Pela minha expressão algo errada,
O meu lado esquerdo menos lesto.
Hoje, tu não ficaste surpreendida.
Componho este poema e não desisto:
A direita, com que escrevo, agradecida!
Com a esquerda não escrevo mas insisto!
Com a direita escrevo o “A” de amor!
Com a esquerda se escreve o “D” de dor!
E o resto deste poema em desespero!
Pois sofrer, tanto sofrer não conhece.
O meu corpo, tanto sofrer, não merece.
Sofrer mais, por sofrer, não quero!
04-06-2002
Rogério Simões com 5 anos de idade
Memórias de um Inverno em 1954
Rogério Martins Simões
De repente, do céu,
esvoaçaram farrapos de algodão
e através da vidraça eu via
que a minha rua se revestia
Com uma veste branca e fria:
Era o inverno
Que ainda não conhecia…
E apresentava-se esplendoroso
Ali, ao alcance da mão,
Nevava, em Lisboa, nesse dia.
E os meus pais assomaram à janela,
Enquanto, entre os dois,
em bicos de pés eu crescia…
Queria tanto brincar com ela,
E a neve não me via…
Bem cedo parti à descoberta.
Nada se sabe
e tanto se descobre no dia-a-dia.
Todos os meninos são marinheiros,
cavaleiros andantes,
que, pouco a pouco, vão sitiando
com olhares e andares
as terras e os mares.
Tantas coisas me tinham ensinado...
“Os meninos são marinheiros
São cavaleiros andantes
Os meninos são guerreiros
Homens pequenos, gigantes.”
Meu irmão ocupava, agora, o berço
que tinha sido meu.
Estava irreconhecível;
Era pequeno
e pintado de azul.
Olhava.
Ali estava um menino
parecido comigo,
e eu desejoso por brincar.
- Cresce depressa e vem brincar.
- Cresce depressa
para fazeres parte da minha história.
-Sou um menino pequenino,
maior do que tu,
cresce para seres como eu:
Cá em casa tudo é grande…
Pelas tábuas da velha casa
jogávamos ao berlinde.
Meu irmão,
olhava o berço que já foi seu,
que já foi meu,
e repetia as mesmas palavras:
- Cresce depressa
para brincares comigo.
E a nossa mãe
dava de mamar ao nosso irmão.
E ralhava!
Ralhava connosco,
ao ver os buracos
feitos no chão.
Havia, agora, três meninos;
Três buracos no chão,
Pequeninos,
do tamanho dos berlindes.
O tempo passa depressa
e a escola começara.
Conheci outros meninos
que jogavam ao berlinde na rua.
E tinham abafadores,
berlindes grandes,
com que “abafavam”
os berlindes dos outros…
Aprendi a guerrear…
nunca fiz parte dos fracos…
E se por qualquer razão,
A razão que em mim manda,
Certo estava, às vezes não.
“Escutei sempre o coração
Essa voz que me comanda”.
Nunca mais nevou na minha rua!
(Memórias)
Lisboa, 2005-02-28