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GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO…
Rogério Martins Simões
Inocento as minhas mãos.
Invento gestos.
Golpeio convenções.
Antecipo decisões
Quero chegar ao cume…
Acender o lume
E descer a vereda num sopro.
Sopra sobre mim, dá-me o trilho…
Golpe de asa no sequeiro.
Inocento a vida.
Piso um milho que suga um canavial.
Debruço-me nas tábuas silenciosas,
O arrabalde enxota um pombo num corte de asas.
Vou a caminho,
Se chegar tarde tarda o destino.
Chegará a tua vez…
Chega a todos,
Quero chegar ao cimo da rampa.
Não! Não preciso de campa,
E de bichinhos da seda,
Acendam o lume!
Golpe de asa no sequeiro
Inocento a minha fala. De que falo?
Falo de sofrimento?
Fala comigo!
Faz um gesto.
Falo!
Golpe de asa no sequeiro
Inocento a sorte. Que sorte?
Estou descalço…
Descaço os pés e coloco as botas das léguas cardadas…
Pesadas tréguas.
Falsas pistas,
Às riscas, no veludo,
É entrudo e sambo!
Não! Não sei sambar!
Danço tudo…
Danço nas letras!
Basta um toque do moscardo e irei ao fundo.
A orquestra toca,
Na toca me afundo.
Do fundo me ergo, tudo confundo,
Volto ao colete-de-forças que me não dá tréguas.
Golpe de asa no sequeiro
Inocento a pressa. Não me empurres!
Desata o atilho e solta o rouxinol …
Golpe de asa no sequeiro
Inocento a ventura.
Deram-me uma haste e um pano amarelo
Fiz mastro e uma vela.
Não sei velejar!
Tropeço num novelo,
Estatelo-me ao vento.
Arrumo as botas num vão-de-escadas
Escadas não são.
Que sorte: uma tábua de salvação.
Golpe de asa no sequeiro
Inocento o engano!
Troco uma besta
Por dois cavalos a motor.
Trago um guindaste preso a uma retroescavadora.
Que faço com a cenoura?
Que faço com a dor?
Estendo o pano e solto a alma…
Golpe de asa no sequeiro
Inocento o meu coração.
Na escada, que me leva ao azul sereno, ato um laço!
Deixa que te toque no peito.
Abraço-te!
Sinto o pulsar de uma cerejeira…
Golpe de asa no sequeiro
Inocento a esperança.
Entrego ao destino tudo o que me cansa.
Que me cansa?
A falta de esperança?
Este viver desesperado,
Na ponta de uma navalha afiada.
Estou em brasa no cativeiro
Acerto o passo nas limitações…
Não!
Nas figueiras também crescem figos secos e ovos-moles;
Os gaiatos brincam com estrelas;
O sol brilha;
A chuva molha;
A noite apadrinha os beijos;
O vento sopra e dança
O luar distende os versos
Com versos de esperança.
Secam as lágrimas no estendal
Já partiu o aguaceiro…
Golpe de asa no sequeiro…
27-10-2011 00:08:08
Poemas de amor e dor
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publicado às 02:57
Óleo sobre tela Elisabete Sombreiro
PAPOILAS DA ALMA
Rogério Martins Simões
Enquanto na planície o sol dançava,
De noite os seus desejos cresciam.
Pálida neve! O seu rosto nevava…
De olhos cansados dores sorriam.
Da janela da noite suspirava:
Desejos seus, proibidos, partiam:
A seara infecunda secava…
E as papoilas da alma nasciam…
E quando a bruma o seu corpo levou
O Alentejo, cantando, a chorou
Nos seus lindos poemas de amor.
Mas se os amores lhe foram adversos
Nem a morte apagou os seus versos:
Para sempre! Na “Charneca Em Flor”...
Meco, Praia das Bicas, 24-10-2011 21:54:38
(A Florbela Espanca)
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:19
Foto da National Geographic
CHORA TRISTEZA...
Rogério Martins Simões
Atravesso os muros
que derrubam os silêncios…
A agonia morre emparedada…
(cobardes, abutres,
Corja repugnante da sociedade…)
Chora tristeza,
Que o menino
Perdeu as asas para voar…
Morre vileza
Que ao passarinho
Nem o deixaram cantar...
Bruxas, adivinhas e contos de fadas
Nem os deixaram escutar...
Chora tristeza
Que o menino
Lágrimas
Não tem para deitar…
…Nem tem como fugir...
Meco, 25-06-2011 18:14:12
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:53
CRAVOS VERMELHOS ENVERGONHADOS…
Rogério Martins Simões
Ainda há pouco eu era prisioneiro de opinião no meu próprio país;
Ainda ontem engrossava a multidão com cravos.
O tempo passou depressa e, na pressa, vai-se esquecendo que, para haver liberdade, muito foram os que lutaram e morreram.
Volto ao antes de ontem, adolescente, escrevendo poemas por metáforas com medo de ser preso.
Hoje, volto a pensar nos meus sonhos de abril;
Nas minhas mãos cheias de cravos: ilusões, e resquícios d´um odor a cravos vermelhos envergonhados...
Rogério Martins Simões
Poemas de amor e dor
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publicado às 18:38
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A MINHA POESIA DE HOMEM SOLTO
Rogério Martins Simões
Lancei ao vento,
O meu pensamento emigrante,
A minha poesia de homem solto.
E colhi, por cada palavra,
A aragem fresca da manhã.
E disse-me “suor do campo”:
-Toma o meu pólen de flor liberta
E compartilhemos o saco da fruta madura.
Lancei ao vento,
O meu pensamento emigrante,
A minha poesia de homem solto.
E tomei, de madrugada,
O “mata-bicho” em fato-macaco.
E disse-me o sujo de fábrica:
-Toma o arado,
A faca por mim feita,
E comeremos também
a fruta madura.
Lancei ao vento
O meu pensamento emigrante,
A minha poesia de homem solto,
E colhi por cada palavra,
Na palavra, a onda calma.
E disse-me o mestre da traineira:
- Toma esta rede!
- E come também
este cardume de vida,
Tão cheio dos nossos mortos,
E repartamos o saco da fruta madura.
Lancei ao vento
O meu pensamento emigrante,
A minha poesia de homem solto,
E colhi em toda a palavra
Um estilo novo;
Numa amizade velha…
E, num arranha-céus da construção civil,
Petiscámos todos:
O peixe vivo.
A carne fresca.
A fruta madura.
O mosto da uva.
Servidos pelo pólen da poesia livre
Colhendo a cada instante
A união do trabalho das forças produtivas.
Deixo-vos aqui
O meu pensamento emigrante,
A minha poesia de homem solto…
1984
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09 )
Poemas de amor e dor
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publicado às 21:32
POETA! ESTAIS DE PARTIDA
Rogério Martins Simões
Retomo a minha viagem,
Peço aos céus coragem,
P´ra enfrentar a descida…
Parte barco numa onda,
Que o meu corpo se esconda,
Dos acenos da partida.
Vai o barco a soluçar,
O cais fica a chorar
Numa lágrima despida…
Mar que bem cedo se agita,
Chama o arrais que grita:
Poeta! Estais de partida…
Meu barco que não comando
Diz, aos céus, por seu desmando
Que a viagem acaba ali…
E a alma vendo-me triste,
Solta o corpo que resiste,
Olha o meu barco, e sorri…
Praia das Bicas, Meco, 07-10-2011 20:00:42
Poemas de amor e dor
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publicado às 21:24
O RIO AO FUNDO…
Rogério Martins Simões
O rio ao fundo do vale
Leva consigo as lágrimas deste povo que sofre
Deste povo que labuta e vê partir nas águas
Outras almas em busca de outros mirantes
Que triste é viver num país sem esperança
Sem futuro!
Meco, 05-10-2011 01:33:52
Poemas de amor e dor
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publicado às 01:47
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Poemas de amor e dor
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publicado às 10:45
ASAS INSEGURAS
Rogério Martins Simões
Era triste a triste violeta,
Morava perto do jardim,
O jardim fechava às oito,
A violeta pegava às vinte…
Asas aladas e inseguras,
Andava de mão em mão,
Vendia falsas ternuras
Quem lhe daria o condão…
Tinha o passado às escuras.
O presente era um vulcão…
Perdeu as espigas maduras,
Deitou fora o coração.
Era triste a triste violeta,
Morava perto do jardim,
O jardim abriu às oito
A Violeta partiu às vinte…
Praia das Bicas – Meco 01-10-2011 00:54:26
Poemas de amor e dor
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publicado às 03:09