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ODISSEIA…
Rogério Martins Simões
Se ao menos me dissessem:
- podes esperar!
Se a soma dos meus pensamentos
fossem a resolução dos meus lamentos:
voltaria a ter um sorriso aceso de criança,
gaiato,
pendurado no beiral
da plenitude da minha odisseia.
Desfaço o nó imaginário,
na corda
que enrola as minhas mãos,
e deixo deslizar o pião…
08-06-2006
(Registado no Ministério da Cultura
Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C.
Processo n.º 2079/09)
E A VIDA ACONTECE
Rogério Martins Simões
Os anos vão passando,
a manhã já vai alta
e a tarde já escapa.
A vida corre para a meta
e a meta fica mais próxima
em cada Natal;
Em cada ano novo;
Tudo foge!
Caem os cabelos,
o rosto fica mais rugoso
e a vida acontece.
Mas um Menino tão antigo
permanece menino como nasceu.
Que magia!
Como encanta este menino,
como sai bonito das mãos do carpinteiro.
Como renasce perfeito na roda de um oleiro.
De barros somos todos nós!
Ainda, assim, dá para expressar sentimentos
e, no virar de página,
de mais um ano,
nós, viajantes de um espaço terreno,
aproveitamos o tempo que nos resta
para lembrar os amigos que partiram
e os que estão entre nós.
É por isso que vos recordei
com um carinho muito especial.
pois os anos vão passando,
e a manhã já vai alta
a tarde já escapa
e a vida acontece.
Gosto tanto de vós!
Lisboa, 24 de Dezembro de 2007
UM SANTO E FELIZ NATAL
(FOTO PADRE PEDRO)
SOLUÇO
Rogério Martins Simões
O rio que corre no meu olhar,
De tantas vezes corrente,
Finge e vai desaguar
Aos meus olhos de nascente.
E se volta a soluçar
Dando conta da enchente;
O rio faz transbordar
A tristeza que sente…
Campimeco, Aldeia do Meco, 18-12-2011 22:32:33
COBRI DE ROSAS
(Rogério Martins Simões)
Cobri de rosas
A tua rosa
O teu botão.
Abri a rosa
Cortei a pétala
Pétala a pétala
Enchi o chão.
Mas se ao menos
O teu rosto sorrisse
E a tua boca
Dissesse palavras
De ternura:
Eu te daria
De novo rosas
Formosas
E em botão.
1987
(Caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 41)
(Poetas Almadenses)
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
Amanhã estarei melhor
Rogério Martins Simões
Hoje continua o lastro
do meu estado de alma
do dia de ontem.
Estou envolvido
Numa teia que enleia.
Estou como que pregado
A um madeiro
Sem pregos ou cordas.
Solto uma terrível agonia
E, sem dar conta,
Nem vómitos dão a perceber.
Sou uma represa invisível
Num turbilhão de água
Pesarosa.
Se ao menos chorasse.
Se ao menos morresse.
Sou um ser solitário,
Acompanhado
Com a mulher mais presente:
- O amor da minha vida.
Será do tempo?
Hoje meu corpo
Nem o Tejo espreitou!
Sinto-me agarrado a nada,
E nem mesmo a lua
Terá saudades em me ver.
Este vazio imenso
Parece furtar
As palavras do coração.
Parece levar a alma,
Que renascia,
Quando noite fora partia,
Pelo Tejo,
Em busca de uma bruma de saudade.
Será do Inverno?
Não! O Inverno esquivou-se
Nas estações esquecidas,
Onde nem as carruagens
De terceira classe param.
Amanhã estarei melhor!
2008
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
NÓ CEGO…
Rogério Martins Simões
Vezes sem conta… que contam?
Os deslizes desta vida nas bordas;
Os precipícios inclináveis sem retorno;
Ou a demência descontrolada num forno
Nos baloiços dos suplícios sem cordas…
Deixo ir os sentidos… que montam?
A carcaça seca de um velho barco
Ou o ginete de um gato parco
Capado, coitado, sem ego…
De gatas, às gatas, em nó cego…
Às vezes tenho guizos… que gizo?
A senda de um marinheiro acorrentado…
A contenda de um plano inclinado
Ou a arte de escapar à descida,
Atravessada, cordata, vencida…
Deixo estas palavras: descontem!?
Confusos sentimentos sem viso?
Deixo de fora a estética: preciso?
De um soneto heróico de Camões
Ou de um jogo combinado a feijões?
Hoje nada conta: abro o misturador
E pico as palavras no obliterador…
Vezes sem conta! Desmontem…
Lisboa, 01-07-2008 20:57:28
(Registado no Ministério da Cultura
Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C.
Processo n.º 2079/09)
(Poema dedicado ao filho da minha companheira, Ricardo Palma Ferreira,
que faleceu, em 1989, num acidente de mota na ponte 25 de abril)
UM PÚCARO DE SAUDADE…
Rogério Martins Simões
Regressei à velha casa da aldeia,
Procurei a chave que nunca serviu
E à luz da velha candeia
O trinco da porta sorriu…
Espreitei!
A mesa ainda estava posta…
No meu lugar vazio encontrei:
Um prato, um talher desirmanado
E um corpo longínquo…
Mesmo ao meu lado,
Tal como a tinham deixado,
Estava uma caixa de silêncio…
Tinha sede…
Procurei no prego enferrujado
O púcaro da saudade…
Então, uma mulher adelgaçada
Abraçou o cântaro;
Pegou na rodilha,
E partiu para a fonte…
Meco, 27-09-2011 14:54:00
O CIÚME MATA...
(Rogério Martins Simões)
Abri a janela do quarto
Quatro paredes! Deserto…
A sensação de estar farto!
E o meu chão ali tão perto...
Afunda a noite na alma,
Na dor, por amor, sofreu
Esta noite não está calma,
É tão escura como breu.
Clamo por minha loucura.
Desatino tenho certo…
Não tenho medo da altura:
E o chão ainda mais perto...
Olho de novo p´ro rio,
Hoje nem luar de prata.
É verão mas tenho frio,
É o ciúme que me mata.
Nuvens que o ciúme deu.
Luar sem ter lugar certo.
Amor, que te aconteceu,
Perdidamente tão perto…
Lisboa, 10/5/1989
Alterado 2011
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
TERTÚLIA POÉTICA NO MARTINHO DA ARCADA
30 de novembro de 2011
Sejam bem-vindos ao Martinho da Arcada no dia em que se completam 76 anos da morte de Fernando Pessoa.
Caros amigos
Tal como Fernando António Nogueira Seabra Pessoa, também corro atrás dos sonhos. Foi assim no primeiro evento, aqui realizado, para comemorar o Dia Mundial da Poesia. Será assim nesta noite em que o sonho cria forma e se transforma num convívio de poetas e amigos para celebrar o génio criador de Pessoa.
Neste sonho entra um amigo, aqui presente, o Manuel Augusto.
Foi o seu exemplo de luta pela vida, e as suas palavras, que me motivaram para dar início à realização deste novo sonho. Assim, e depois de ter a anuência do meu amigo e poeta, José Baião, entrei em contacto com o Sr. António Sousa, sócio-gerente do Martinho da Arcada, que mais uma vez acreditou que o sonhador conseguisse encher esta sala.
Não foi fácil conseguir reunir este grupo devido às desistências com que não contava. Conseguimos trazer amigos pessoais, e aqui agradeço o esforço das poetisas Dalila Moura, Anabela Portugal e da minha amiga Maria da Luz. As minhas saudações ao talentoso pintor de Lisboa, aqui presente, REAL BORDALO.
Mas os sonhos só se concretizam com persistência e, apesar dos obstáculos colocados na pista de cinza onde já não corro, vou conseguindo superar aos poucos essas barreiras com a ajuda de alguns amigos.
Durante mais de 25 anos andei, aos Sábados, pelos caminhos da arqueologia – a minha segunda grande paixão. Certo dia, ao escavar uma sepultura medieval, deparei com aquilo que restava do que tinha sido uma sola de um sapato que, supostamente, pertenceu a um defunto.
Reparei que aquela sola estava intrometida no meio duma forte e grossa raiz de um plátano.
Vi através dos furos feitos na sola, pelo sapateiro, que passavam raízes daquela árvore.
Afinal, a raiz grossa ramificou-se para ultrapassar o obstáculo e voltou a reunir-se mais à frente, formando novamente uma raiz compacta em busca do alimento que permitiu a frondosa árvore viver.
Se até a raiz ultrapassou o obstáculo qual a razão para desistirmos?
Não desisti! Aqui estou entre vós mais uma vez.
Porém não basta reunir um grupo de amigos para concretizar o sonho. Era necessário criar um programa de qualidade à altura do Poeta. Aqui entra o poeta José Baião que nos irá surpreender e enriquecer esta noite.
Mas o José Baião ainda nos vai dar música acompanhado por um amigo, o Eduardo Abrantes, a quem desde já agradeço por nos acompanhar ao piano.
Nesta programação surge outro trabalho a cargo dos poetas António Barroso Cruz e do Policarpo Nóbrega que vieram da Madeira.
Uma especial saudação para o Policarpo, para o Soares Teixeira que têm o dom de bem recitar e à Joaninha pela arte de encantar.
Para esses e todos os restantes amigos que nos vão dar o prazer de os escutar o meu muito obrigado.
Finalmente, um beijo para a minha esposa e companheira - a Elisabete Sombreireiro Palma - que, para além de me proteger e amparar, ainda tem a arte e a paciência de aturar este vosso humilde poeta.
Ou como escreveu Alberto Caeiro:
"Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho..."
"Alberto Caeiro - Guardador de Rebanhos"
Lisboa, 30 de novembro de 2011
Rogério Martins Simões
ROMASI