Terra queimada
TERRA QUEIMADA
Rogério Martins Simões
Pegara na caneta e pusera de parte o olhar. Diria, quem o visse, que era um antigo hábito pela forma decisiva como escrevia.
Ao começo hesitou nas palavras que nem tinha pensado em escrever; na verdade não pensava em coisa nenhuma, apesar de começar a preencher, no papel, umas quantas linhas de um caderno vazio.
Aquele verão não tinha nada de parecido com o que, por regra, a terra deixava antever nesse local: umas quantas nuvens reprovavam a paisagem. Dir-se-ia, que o vento as pendurava do mar. Tudo se está a alterar – pensava.
Recentemente tinha visto um documentário que o impressionou. Certamente não se recordava de tudo, mas aquelas imagens com cidades irreconhecíveis ficaram-lhe gravadas nos sensores da memória. Não era apenas um acontecimento, mas, uma sequência descontrolada de factos anormais que faziam com que ele escrevesse.
Na mesma hora e em locais diferentes, onde a chuva deveria fazer a sua aparição, a terra queimava expulsando e queimando os homens e os animais.
Na terra queimada, há muito, tinha desaparecido o último vestígio verde e com ele, ou parte dele, todos tiveram de fugir.
Algum dia ele teria de voltar a escrever…
Meco 18/7/2010