POETA DE CORPO INTEIRO
Rogério Martins Simões
Sigo num tempo
Que atento sinto:
Que sinto?
Alguém falou?
Alguém deu nas vistas?
As vistas curtas confundem as próprias vistas.
Não viste nada!
Desandas!
Volto ao caderno.
Não escrevo!
Ligo palavras, sílabas.
Que sílabas?
Tinha tudo para ser feliz…
Tempo inútil,
Onde tudo não passou
De uma forte gargalhada de dor.
Uma criança chora!
Chora, não sei:
Chora sempre!
Que sente?
Doem-lhe estas palavras rasgadas,
Tramadas,
Dói-me esta dor
Que se difunde,
E confunde, em contratempo:
Deram-lhe tudo para ser feliz…
Quem mente?
As ondas varrem a cidade
Que flutua
Num extenso areal adornado de adereços…
Volto ao caderno.
Não! Escrevo!
Ligo palavras, sílabas.
Que sílabas?
Tinha tudo para ser feliz,
Por um tempo inútil,
Onde tudo não passou
De uma forte gargalhada de dor.
Se ando por fora dos papéis voo nas vistas.
Se conseguisse andar daria nas vistas…
Estou sentado numa cadeia de ferros
Tenho o caderno afundado numa teia de ferro.
A ferro e fogo.
Já fui fogo.
Água e gelo.
Gelo os meus pensamentos.
Que faço destas mãos?
Levaram as sementes do meu campo de trigo
Trinco sementes de girassol
Neste cantar de desabrigo…
Estou fechado no prédio móvel
Que é meu corpo.
Que dilema:
Perdi as forças e estou num colete-de-forças.
Volto a olhar para dentro,
Olho o meu corpo,
Conheço a idade do meu corpo,
Não estou mal para a sua idade…
Que idade tenho?
Quero fugir de mim
E dão-me dose dupla…
Se conseguir sobreviver
Saberei viver?
Viverá quem já não goste da vida?
Que vida?
Fechada a cadeado?
Movimenta-me na dose dupla
e volto a andar:
Subo o patamar da mente;
e desço de andar na escrita…
Poucos Metros me afastam da meta
Onde já fui primeiro…
Voa atleta:
Poeta
De corpo inteiro!
Meco, 12 de Julho de 2009
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