TEMPO
TEMPO
Rogério Martins Simões
Noite de desespero nos teus seios
Meios vazios
Meios cheios
Em minha boca
Leite materno adiado
Meco – Praia das Bicas 29/01/2014 23:30
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TEMPO
Rogério Martins Simões
Noite de desespero nos teus seios
Meios vazios
Meios cheios
Em minha boca
Leite materno adiado
Meco – Praia das Bicas 29/01/2014 23:30
(Isabel Martins de Assunção, nasceu na Malhada- Colmeal - Góis em 15/2/1925)
RESQUÍCIOS
Rogério Martins Simões
Lentamente o tempo sorve os resquícios das inimagináveis páginas que ficaram por escrever.
Era uma vez…
Colocou as tamancas nos seus pés que nunca foram meninos.
Sorriu para o vestido de chita.
Alisou os seus cabelos finos.
Pegou na rodilha e colocou a sua aldeia à cabeça.
Conhecia os caminhos da Malhada como ninguém: longas e íngremes veredas, pastos matosos, distantes das letras apenas reservadas aos futuros homens.
E, enquanto subia ao alto da serra por velhos caminhos de cabras, ia dizendo adeus às meninas pastoras, suas companheiras, que por ali ficavam à espera das velhas casamenteiras.
Talvez um dia também as deixassem partir, ou aprender a ler e a escrever - pensava.
Finalmente alcançou o local de paragem do autocarro onde uma multidão também já o esperava.
Poisou a carrego.
Lavou-se na levada.
E levou à boca um naco de broa que trazia para a jornada.
Ouviu-se o roncar da velha camioneta que ao Farroupo chegava.
Tinha chegado a hora de partir. Entrou a sorrir mas uma lágrima disfarçava
Chegou à Lousã e tinha à sua espera um comboio que nunca vira.
Entrou e assomou logo à janela da carruagem e cantarolava.
Tudo lhe era estranho: como o fumo preto que a máquina movida a carvão deitava.
Decidida a lutar por uma vida melhor, chegou a Lisboa com seus olhos de mel.
Mãe
Entrei pela luz, da sua luz: tenho vida
No brilho dos seus olhos me revejo
No seu coração encontrei sempre guarida
Obrigado, minha mãe: um eterno e terno beijo
Meco, Praia das Bicas, 26/01/2014 21:53:24
ROMASI
De repente o céu desabou em mim!
Se não sou capaz de abotoar a camisa com a mão esquerda como irei ter forças para suster o céu?
Chorei! Sim um homem também chora! Mas não me vou embora, embora às vezes até me apeteça partir… abandonar tudo. Estas foram as palavras que escrevi, em 2004, quando fui diagnosticado com Parkinson - tinha 54 anos. Porém, com os meus actuais conhecimentos sobre a doença, reconheço que desde os anos 90 do século passado já tinha sinais evidentes da doença.
Durante estes últimos 10 anos vejo que os medicamentos começaram a perder o seu efeito e tenho pedido a Deus, à vida, ou ao Universo, para ter coragem.
Pouco a pouco, sinto-me a derrapar, derrubado, derrotado e muitas vezes recolhido num silêncio profundo ou a escrever poemas de dor:
Rebolo-me na cama, não consigo dormir, não tenho forma de estar e tenho dificuldade em me levantar.
Engulo as palavras e tenho de me repetir para me fazer entender, prende-se mais a perna esquerda, o braço esquerdo, e tremo, e temo!
É neste contexto que me encontro.
Avançam as sombras.
Se soubésseis como estas palavras tristes já não me servem de catarse.
Fogem-me as palavras da esperança.
Começo a estar farto de carregar com o peso desta inércia: Quero ajudar e não posso! Não quero pesar e não posso e a família sofre!
- Perdi a alma.
Não é que a sentisse fugir. Nada fiz para a afastar, nem tão pouco ela se foi em busca da minha poesia.
De vez em vez chegam notícias que me prometem ajudar a segurar o tecto do céu com as minhas duas mãos de esperança.
Hoje chega mais uma boa-nova através do Jornal diário PÚBLICO aqui=» http://www.publico.pt/ciencia/noticia/uma-dieta-rica-em-acido-folico-podera-prevenir-ou-retardar-a-doenca-de-parkinson-1620115?fb_action_ids=10202940035683253&fb_action_types=og.recommends#/0
Aproveito este local para enaltecer os profissionais de saúde e os cientistas que, procurando amenizar a dor, colocam o amor, o saber e o conhecimento científico ao serviço da humanidade.
Sejam todos muito felizes.
Rogério Martins Simões
Por Ana Gerschenfeld
Jornal «Público» – 20/01/2014
A vitamina dada às grávidas para evitar malformações fetais conseguiu, em experiências com moscas-do-vinagre feitas por uma equipa liderada por um cientista português, restaurar funções afectadas pela doença.
Uma equipa de cientistas portugueses, italianos e britânicos descobriu um mecanismo celular inédito que, quando se encontra deficiente, provoca os problemas motores e a degeneração neuronal característicos da doença de Parkinson. E mostrou que, em moscas-do-vinagre mutantes com sintomas semelhantes aos do Parkinson, bem como em culturas de neurónios humanos afectados, um simples tratamento vitamínico consegue restaurar o normal funcionamento desse mecanismo celular e, ao que tudo indica, cancelar as manifestações da doença. Os seus resultados foram publicados online, neste domingo ao fim da tarde, na revista Nature Cell Biology.
A doença de Parkinson é a mais frequente doença neurodegenerativa do envelhecimento humano a seguir ao Alzheimer. Manifesta-se, entre outras coisas, através de sintomas motores, tais como rigidez e tremores – e ao nível do cérebro provoca a morte celular em massa numa estrutura chamada “substância negra”, cujos neurónios produzem dopamina, um dos principais mensageiros químicos que asseguram a comunicação nervosa. Actualmente, para colmatar esse défice, administra-se aos doentes com Parkinson, com maior ou menor sucesso, medicamentos capazes de fazer aumentar os seus níveis cerebrais de dopamina.
O inédito mecanismo agora descoberto pela equipa de Miguel Martins, da Unidade de Toxicologia do Conselho de Investigação Médica britânico em Leicester (Reino Unido), tem a ver com as mitocôndrias, pequenas estruturas que existem às centenas em cada célula e que transformam o oxigénio que respiramos na energia química que serve para alimentar a miríade de processos que pautam a vida celular. Ora, quando as mitocôndrias não funcionam – ou funcionam “a meio gás” –, não conseguem produzir suficiente energia.
As mitocôndrias têm a particularidade de possuir um pequeno anel de ADN próprio (o resto do ADN encontra-se dentro do núcleo da célula). Mas embora estas “baterias” celulares sejam assim, em certa medida, independentes do controlo genético “central” da célula, precisam de comunicar com o núcleo para a célula funcionar, explica Miguel Martins num texto a que o PÚBLICO teve acesso. E são precisamente determinados defeitos dessa comunicação intracelular que se pensa estarem ligados a doenças humanas como a Parkinson.
Por outro lado, sabe-se hoje que as mutações num gene humano chamado PINK1, que conduzem a um funcionamento deficiente das mitocôndrias, estão relacionadas com casos precoces da doença de Parkinson.
Miguel Martins e colegas estudaram esses defeitos de comunicação entre as mitocôndrias e o núcleo em moscas-do-vinagre com mutações no gene equivalente ao PINK1. Tal como os doentes com Parkinson, estes insectos apresentam sintomas motores – por exemplo, não conseguem voar – e perdem os seus neurónios produtores de dopamina.
O SOS das mitocôndrias
Os cientistas descobriram então que, nas moscas mutantes, as mitocôndrias deficientes enviam um “pedido de ajuda” ao núcleo da célula, instando-o a fabricar a maquinaria e a matéria-prima necessárias à produção do ADN mitocondrial, de forma a conseguir assim gerar novas mitocôndrias, capazes de colmatar o défice energético provocado pela mutação no dito gene. “O que descobrimos é bastante surpreendente”, diz Miguel Martins.
Porém, a ajuda do núcleo não chega e é aí que a segunda descoberta da equipa, “muito simples” mas “espantosa”, entra em cena. “Nós conseguimos detectar essas mensagens de SOS e ajudar as mitocôndrias, através de estímulos externos”, explica-nos o investigador num email.
Mais precisamente: manipulando um outro gene, chamado dNK, nas moscas mutantes, os cientistas conseguiram reforçar a produção de ADN mitocondrial – e daí, a geração de novas mitocôndrias. “Criámos super-moscas – mais rápidas, com mais energia e mais resistentes às substâncias que são tóxicas para as mitocôndrias”, diz ainda Miguel Martins.
E o mais "incrível" (palavra do investigador) é que também descobriram que nem sequer era preciso alterar o gene dNK para obter o efeito desejado: tudo o que precisavam de fazer era fornecer às células um composto químico bem conhecido: ácido fólico.
O ácido fólico, ou vitamina B9, é o mesmo composto que é administrado às grávidas para prevenir malformações no feto. “Nas moscas, tanto os músculos que controlam o movimento das asas como os neurónios dependem das mitocôndrias para produzir energia”, escreve-nos ainda Miguel Martins. “Nas moscas mutantes, as mitocôndrias explodem literalmente. Mas quando alimentamos as moscas com ácido fólico, as mitocôndrias recuperam completamente.” E claro, os insectos voltam a conseguir voar.
A equipa também cultivou, em presença de ácido fólico, neurónios humanos com uma actividade deficiente do gene PINK1 – e obteve resultados que apontam para o mesmo efeito reparador da vitamina. Nessas células, “as mitocôndrias já não estão doentes”, constata Miguel Martins.
Estes resultados sugerem que talvez seja possível, graças a dietas ricas em ácido fólico ou a suplementos alimentares como os que tomam as grávidas, proteger as mitocôndrias e portanto prevenir ou travar, não só a doença de Parkinson, mas também outras doenças humanas do envelhecimento associadas a problemas mitocondriais, concluem os cientistas.
Inês Pimenta de Castro, co-autora do estudo e actualmente a trabalhar no Instituto Gulbenkian de Ciência em Oeiras, está agora a testar as novas potencialidades do ácido fólico.
Precisamente um ano depois voltou a tempestade e destruiu casas e haveres aos campistas.
Ao inicio da noite do dia 19/1/2014, um vento ciclónico acompanhado de chuva forte fez cair árvores sobre algumas casas do parque. Foi um grande susto, parecia que tudo voava e com uma violência fora do comum. Eram 3 da manhã quando amainou o vento e foi possível ter uma pequena ideia do que tinha acontecido. Quando rompeu a manhã podemos constatar e fotografar os estragos.
Algo está a mudar na Terra onde, todos os dias, vamos assistindo ou tendo notícia de factos anormais, e extremos, que afetam todos quantos a habitam.
Leiam por favor o que no século XIX, sobre a emigração escreveu: António Correia Herédia
(1822 – 1899)
Na Biblioteca da Direcção-Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o consumo encontrava-se, no tempo em que lá trabalhei, um Relatório, em forma de livro, com 130 folhas, editado pela Imprensa Nacional no ano de 1876, intitulado “RELATÓRIO do PROJECTO DE REGULAMENTO GERAL DAS ALFÂNDEGAS pelo Inspector das Alfândegas António Corrêa Heredia”. Penso mesmo que este importante trabalho deveria ser reeditado a bem da cultura portuguesa.
Depois de “folhear” este magnífico trabalho concluí que foi seu autor, António Correia Herédia, um Ilustre colega das Alfândegas Portuguesas que tinha a categoria profissional de Inspector das Alfândegas, chefiando a Alfândega do Porto.
António Herédia inicia do seu relatório, a fls. 3, e passo a transcrever uma ínfima parte para situar no tempo o seu autor. Este magnífico e pioneiro trabalho inclui citações e ideias bem interessantes e, quiçá, a repensar nos dias de hoje:
Referindo-se a uma polémica quanto à emigração da Ilha das Flores para a América do Norte e à livre troca entre as Flores e o Corvo diz entre outras citações a seguinte:
“A emigração não é uma viagem de recreio; ninguém abandona com prazer a terra natal; a saudade da pátria é um mal que não tem compensação nem lenitivo. Quando se emigra é porque todas as esperanças acabaram, e porque o futuro, que se antolhava medonho, já deixou de ser futuro, e o infortúnio caiu como rochedo sobre a cabeça da sua vítima que foge quando pode, e tão depressa pode, da terra onde é assim esmagada. E não há direito para dizer ao que de tal modo se separa de uma sociedade mal organizada «não vades, que tendes aqui obrigações para cumprir» ”
Meco, 17/1/2014
Rogério Martins Simões
(Nesta fotografia estou eu com 10 anos de idade e o meu irmão Jaime Simões)
O PRATO ESFRIAVA!
Rogério Martins Simões
Bancos de areia cobrem
Os meus pensamentos.
Nuvens transportam
Toalhas por secar…
Aguaceiros dispersam
Memórias dos tempos
Salpicando, aqui e além,
Histórias por contar…
Minha tia mandou-me ao poço
Para lavar o meu sorriso!
E disse-me para ter juízo…
Que não a fizesse esperar…
Como era tão menino e moço
Meti bolas de sabão ao bolso
Com um sorrir a transbordar…
-Vamos aos peixes!
Rolávamos pelos montes;
Subíamos as serras;
Atirávamos pedras
Sempre nus
Sempre descalços.
E entre musgos nascia
A água cristalina
Brotando das nascentes:
Mãe de todas as fontes.
Luz de todas as sementes.
Ajoelhávamos!
E bebíamos!
Levantávamos
E corríamos
Sobre trilhos e pedras redondas:
Seixos e calhaus rolados.
Bastava um rio
Uma água corrente
Que o calor aquecia…
- Quem pula primeiro
Do alto da fraga?
E havia um primeiro mergulho,
Depois mais outro,
Mais outro
E outros…
Olhávamos o Sol,
Que horas seriam?
Passava do meio-dia!
Já espreitava
O pôr-do-sol!
Já ralhava a minha tia!
E o prato esfriava…
Lisboa, 29 de setembro de 2008
(Memórias da Póvoa, poema dedicado à minha tia Laura Simões)
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
DIAS VIVAZES
Rogério Martins Simões
Acordam os sentidos
Despertam em mim as cores
Das manhãs
Dos dias vivazes
E em cada dia novo
Descubro que há em mim
Tanta vontade para viver
Olho! Estou sempre a olhar
E de observação em observação
Reparo que os dias se estreitam
Quando há lugar à felicidade
Os caminhos por onde passo
São os mesmos
Dirás tu mais uma vez
Mas a mudança
Não está nos estáticos
Ou nos perenes objetos
Que se fixam em cada viagem
Mas na luz
Que os nossos olhos abraçam
Meco, 15/01/2014
VOLTASTE
Rogério Martins Simões
Voltaste!
Tanto desejei que voltasses
E trazias contigo o pedaço de mim
Que me faltava
Quando sem querer ficaste
Pelos corredores confidentes
Onde as horas agonizam...
Voltaste!
E quiseste logo lavrar os campos
Que te recordam searas
Prados verdes e papoilas
Que crescem no teu rosto
Num perder de vista.
E vi em ti um celeiro
Onde acolhes e repartes
As palavras amenas do teu coração.
Voltaste!
O importante era chegares,
Deixando para trás
As horas perdidas,
Quando perdidamente me sentia tão só.
Lisboa, 9/1/2014
(A publicar no meu segundo livro)
(Óleo sobre cartão
Elisabete Sombreireiro Palma)
A CAMINHO DA LUZ
Rogério Martins Simões
Além...
na estação dos acenos,
num tempo de ginjas maduras,
partirei num comboio a carvão:
deitando fumo;
lançando faúlhas,
alimentando a combustão,
A caminho da Luz!
Lisboa, 20-01-2011 02:40:11
(Registado no Ministério da Cultura