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POEMAS DE AMOR E DOR

Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA Poeta: Rogério Martins Simões Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004 Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda

POEMAS DE AMOR E DOR

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PÓVOA: REZAS, TRADIÇÕES E MESINHAS (Pampilhosa da Serra)

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 (Do lado esquerdo a capela de Santa Eufémia. Do lado direito a casa que o meu falecido primo mandou restaurar e que pertence a 4 Herdeiros e mais uns quantos a quem se devem tornas.) 

PÓVOA: REZAS, TRADIÇÕES E MESINHAS 

Rogério Martins Simões

 

Tal como a minha avó fazia, meu pai rezava sobre a minha cabeça as mesmas orações que a minha avó lhe rezava. Algumas são autênticas “ladainhas” e nunca as consegui decorar. Havia uma que era rezada três vezes e era assim: Cruz digna, cruz magna, coisa que Deus fez em si, coisa má não venha aqui. E rezava, três vezes, o Pai Nosso.

O quebranto, na Póvoa, era tirado a animais e pessoas. Punham água dentro de um púcaro de barro e numa pequena fogueira queimavam quatro paus. Quando estavam em brasa agarravam os paus com uma pequena tenaz, que deixavam cair na água e rezavam orações já perdidas. Repetiam por três vezes e quando as brasas vinham ao cimo da água o quebranto já tinha passado.

Existiam tradições bem interessantes e quiçá ainda conhecidas de algumas pessoas da Póvoa: “O DIA DE SANTA CRUZ”.

Em Maio, as pessoas da aldeia, faziam cruzes, em madeira, que colocavam em todas as hortas que tinham cultivado.

Recordo que foi com muito labor e sacrifício que este nobre e valente povo construiu as hortas. Com a tradição de “O DIA DE SANTA CRUZ “procurava-se pedir a proteção divina para que as trovoadas, de Maio, não causassem enxurradas e não destruíssem as terras.

Por falar em trovoadas, quando as havia e eram fortes, as mulheres da aldeia rezavam orações a interceder pela preservação das suas casas e das casas dos vizinhos.

Bem interessante era o ritual do “OFERECIMENTO DE LUZ AOS MORTOS”.

Quando morria alguém, na Póvoa, iam de todas as casas para o velório. Todas as mulheres levavam uma candeia de azeite acesa, que depositavam, na sala, onde estava o corpo, para iluminar a alma do defunto. Depois, todos rezavam o terço durante a noite que ofereciam por sua alma. Arremata o meu pai que nesse dia a família não fazia comida e que era oferecida pelos vizinhos.

Já no Carnaval “CORRIAM O ENTRUDO”. Dois rapazes, um de cada lado da casa visada, ou da povoação, tocavam cornetas, com bastante sonoridade, e proclamavam alto e a bom som factos divertidos, de escárnio e maldizer, relacionados com pessoas daquela casa ou da aldeia.

Tal como noutros locais existiam as “JANEIRAS”.

O grupo era composto por homens e rapazes. Tocavam guitarras, harmónios, ferrinhos, e percorriam toda a aldeia, cantando, parando em todas as portas, com o fim de obterem chouriços, carne ou lombo de porco, vinho e outras iguarias.

O meu pai recorda-se de uma quadra que contavam e era assim:

“Senhora que está á fogueira

Assentada na sua cortiça

Deite a faca ao seu fumeiro

E traga já uma chouriça.”

Esta recolha de alimentos tinha por finalidade realizar um grande banquete comunitário, em dia de reis, e acabava tudo em festa.

Mais uma vez se nota aqui a unidade deste povo que, ainda, perdura noutras tradições.

Finalmente uma tradição que muitos, como eu, conhecem quase sem dar por isso. Tenho pena que não se tenha mantido nestes novos tempos de alheamento total.

Diz o meu pai que quando qualquer pessoa saía da Póvoa, isto é, quando se ausentava por muito tempo, a pessoa que deixava a aldeia ia a todas as casas dizer adeus até ao seu regresso.

Quando voltavam à aldeia da Póvoa iam, os que lá estavam, à casa do que tinha chegado para o cumprimentar.

Quanto às “MEZINHAS” era hábito enraizado em todos os Beirões. Os serranos tinham por hábito curar as suas “maleitas”, doenças diversas, com diversas flores e plantas.

Utilizavam a flor de laranjeira; a carqueja; o sabugueiro; a marcela; folhas de oliveira; o alecrim; a erva-cidreira; as urtigas; hortelã e outras. Para curar a constipação utilizavam as papas de linhaça que num pano colocavam no peito, mas sempre quente, e bebiam aguardente com mel.

Para as dores do corpo esfregavam-se com aguardente de mostarda.

Seguindo a descrição do meu pai, a quem mais uma vez tive de recorrer, na Póvoa não só se semeava a mostarda como também a linhaça.

A mostarda era semeada nos alfobres, no nosso caso, no Vale da Maia.

Quando a planta tinha as sementes secas, era colhida e sacudida para se soltarem os pequenos grãos numa manta ou toalha branca.

Diz meu pai que a minha avó recolhia cerca de 3 a 4 litros de mostarda, que guardava num saquinho de pano muito bem tapadinho.

Faziam a mesinha e o que restava era guardado dentro do saco, na arca do milho, ou pendurada nas lojas ou em outro lugar seco.

A preparação era simples: pegava-se em meio litro de aguardente e despejam-se duas colheres de sopa de mostarda que se deixavam em infusão. Depois utilizava-se e ia-se acrescentando mais aguardente, mais mostarda, até se voltar fazer tudo de novo.

Utiliza-se para curar constipações ou para aliviar as dores no corpo.

A restante mostarda era para dar aos vizinhos.

Mais uma lição de solidariedade deste povo.

Também cultivavam e colhiam a linhaça. Depois era cozida e pisada num almofariz. Após ter sido esmagada era aquecida em papa, embrulhada num pano e colocada no peito ou nas costas para tratarem as graves constipações.

Toda a gente tinha linhaça e mostarda em casa.

Também semeavam tabaco na primavera. Era plantado às escondidas, em lugares afastados das hortas.

Termino aqui o que o meu falecido pai me contou sobre a sua Aldeia, a Póvoa: num tempo em que muitos lá viviam se ajudavam mutuamente e para resolver algum “assunto” iam todos juntos

Partiam as pessoas ficou o lema:

 “VAMOS TODOS COMO OS DA PÓVOA”

(parte de uma entrevista ao Serras online)

 

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Por que sou triste?

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POR QUE SOU TRISTE?

Rogério Martins Simões

 

Saber, quero saber por que sou triste?

Querer, por mais querer, o riso ensejo.

Chorar? Não mais chorar é meu desejo.

Saber por que razão meu choro insiste?

 

No meio deste silêncio, e que persiste,

Razão tem a razão em que me revejo.

Chorar será o clamor do meu arpejo.

Saber, quero saber em que consiste.

 

Perguntei ao meu rio Tejo, a soluçar,

Que me desse a razão deste meu estar:

Saber, quero saber que fiz de errado?

 

Sorrindo para mim para que o visse,

Cuidai desse teu riso, e mais me disse:

- Chorar, e mais chorar, será teu fado…

 

Meco, Praia das Bicas, 2013-12-12

Simões, Rogério, in “GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO”,

(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2014)

 

 

 

 

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MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Simões
 
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
11/4/1975

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