Havia uma sombra...
HAVIA UMA SOMBRA
Rogério Martins Simões
Havia uma sombra,
Que aos pés da minha cama,
Todas as noites desafinava,
- Dó, ré, mi, fá, sol.
Talvez fosse uma criança
Que sem piano.
Tão triste chorava.
- Lá si dó
Ou uma jovem promessa,
Que por ali ficou sem esperança,
Que voejou tão depressa,
E todas as noites a escutava.
- Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó.
Partiu o piano e ficou uma guitarra
Onde está o piano
E o pianista que não via
Que para o não ver
A minha cabeça tapava
Ouviram-se os acordes duma guitarra
Que desgarrada sozinha trinava.
Tocava e ninguém via.
Eu vi um velho tão velho
Que no corredor se desenhava
E tocava!
E quando pelo longo corredor o medo levava.
Senti uma mão fria que me afagava
Gritei! Chorei, corri e cheio de medo
E na cama dos meus pais me fui escudar
Minha mãe sobre o que vi me perguntava,
Meu pai apenas rezava…
Não mais eu ouvi aquela guitarra
Mas o medo mexia comigo
Quando pelo escuro corredor correndo passava…
Recordava que foi ali que tão cedo aprendi a ouvir e a rezar
Meco, 01/08/2017 00:29
Ao meu querido avô paterno, António Antunes Simões.
Nasceu em 1881 na Pampilhosa da Serra – Aldeia Velha – casou na Póvoa e migrou para Lisboa em 1897.
Trabalhou como estivador e era um exímio tocador de guitarra.
Do pouco que sei do meu avô, dizia meu pai, que terá ensinado o Armandinho a tocar guitarra. Na verdade em investigação posterior constatei que o meu avô viveu no Pátio do Quintalinho quando o Armandinho tinha 5 anos de idade. Foi sócio da Juventude Monárquica Conservadora para poder tocar guitarra, tendo falecido na Póvoa em 1934.
Do seu neto: Rogério Martins Simões