De repente o céu desabou em mim!
De repente o céu desabou em mim!
Se não sou capaz de abotoar a camisa com a mão esquerda como irei ter forças para suster o céu?
Pouco a pouco, sinto-me a derrapar, derrubado, derrotado e muitas vezes recolhido num silêncio profundo ou a escrever poemas de dor:
Rebolo-me na cama, não consigo dormir, não tenho forma de estar e tenho dificuldade em me levantar.
Engulo as palavras e tenho de me repetir para me fazer entender, prende-se mais a perna esquerda, o braço esquerdo, e tremo, e temo!
É neste contexto que me encontro.
Avançam as sombras.
Se soubésseis como estas palavras tristes já não me servem de catarse.
Fogem-me as palavras da esperança.
Começo a estar farto de carregar com o peso desta inércia: Quero ajudar e não posso! Não quero pesar e não posso e a família sofre!
- Perdi a alma.
Não é que a sentisse fugir. Nada fiz para a afastar, nem tão pouco ela se foi em busca da minha poesia.
Diário de um doente de Parkinson
Rogério Martins Simões