A dor que se tenta esquecer
A DOR QUE SE TENTA ESQUECER
ROMASI
Quantas vezes
Dizes esquecer,
Mas não podes esconder:
A traição que me rasgou o corpo.
O corpo que te tapou o gesto.
O gesto que te alentou a vida.
Quantas vezes
Soletras ódio.
O ódio que destrói a alma.
A alma que sustém a vida.
A vida que retém a dor.
A dor que me sobra tanto.
O tanto que te dei
E que canto.
Quantas vezes
De luto me visto.
Visto dar sem receber
Receber nada, sem nada ter
Tenho a dor que não quis
- Quisera alguém sofrer?
Quantas vezes
De cor me viste…
Visto que só luto me deste.
Deste amor sem amar
Amar sem amor não compensa
Compensa perdidamente ficar?
Ficar?
Só quando o amor apareça.
Quantas vezes
Hesitei e não parti.
Parti sem coragem e voltei
Voltei a morrer e morri
Morri mas ressuscitarei.
Sabes:
O amor perdido por vezes
À espera que algo aconteça
Retém o corpo por meses
E nós ficamos sem pressa
Quantas vezes
Deveria ter partido
E mais partido fiquei…
Maio de1979
(Publicado em Índex Poesis - Almada)
(Caderno “uma dúzia de páginas de poesia n.º