Estas palavras, agora, não serão virgens...

ESTAS PALAVRAS, AGORA, NÃO SERÃO VIRGENS
(Rogério Martins Simões)
Quando o desespero nos aperta
E do peito saem soluços
É que o gesto
Toma o lugar incerto
O caminho louco
Corre louco
Como a pena com que escrevo.
Alinho minhas palavras
Cem palavras
Ritmadas
A muita pulsação
Por minuto
E nesta cadência
Arrasto
Meu arrasto
Minha canoa virada ao tempo.
E que gesto
Meu gesto se transforma
Num acto
Numa viagem apressada
Cadenciada
Vencendo quem sabe
O desastre que arrasto
À razão do tempo adulto.
Que decência é a cadência do gesto
Do acto
Porque neste momento exacto
Mais palavras não serão virgens…
1978
(Caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 41)
