Abismo pátrio
Abismo pátrio
José Baião Santos
trago de volta a lua sonâmbula
de álamos e alma articulável
dois dedos fazem grande diferença
na forma de segurar uma criança
trago na consciência sinos bizarros, alarmes falsos
só de ver os palcos adoecer no leito dos versos
ser afinal um, entre pusilânimes e ascetas
que de tanto voar se diz descendente de profetas
trago nacos de fome dentro do alforge
para matar serpentes neste meu abismo solitário
e quando se ouvir o arrastar das correntes
já estarei livre de salafrários e de impotentes
para quê cuidar dos jardins
enrolar o sémen das palavras ao coração
fingindo que todas as estrelas permanecem deitadas
nas margens fósseis dos rios das levadas
estou prestes a cair - a qualquer momento
posso contrair uma lesão multicelular
exposta Mas fiquem a saber que
me é tão indiferente rasgar as unhas ao nevoeiro
ou cantar à desgarrada
para salvar o que resta da pátria e da musa deificada
diante do busto inacabado dum poeta caeiro
Aquele abraço
7/03/2007
José Baião Santos
(correspondência entre poetas)