Regresso à Aldeia

Chegaram pela manhã de uma longa jornada.
O tempo era ameno e de repente lembraram-se do Verão onde tantas manhãs foram suas.
Pararam, nada disseram um ao outro, como esperassem que algo acontecesse e de repente toda a Aldeia fosse ao seu encontro.
Já tardam tão cedo as manhãs, que ainda só agora começam, e os seus pés, tão pesados, já não são da viagem…
Finalmente quebraram o silêncio:
- Lembras-te Isabel da queda… no musgo que crescia à beira do curral!
Olharam em redor!
Tudo parecia demasiado pequeno, distante, ao alcance de um braço.
Notei, na quietude, as fragilidades com que tentavam disfarçar a insegurança daquele breve momento.
Então, vi no rosto dos meus pais:
“olhos de água cristalina,
da mais pura nascente da serra,
correndo em levada”
Cheios de recordações, como se mais nada existisse que os fizesse ficar, partiram.
Rogério Martins Simões
(A meus pais)
Regresso à Aldeia foi escrito há muitos anos numa antecipação ao dia 18/6/2004.
Tal como versei num soneto, chegou o tempo de concretizar a profecia:
“E regressaram à aldeia no final do caminho”.
Meus pais, para quem a palavra amor é para mim insuficiente para lhes expressar o que por eles sinto, foram visitar as suas aldeias: A Malhada (Colmeal) e a Póvoa (Pampilhosa da Serra).
Meu pai, com 82 anos, não visitava a sua Aldeia há quase meio século,
Hoje, mais que em qualquer momento, faltam-me as locuções e sobram-me as glorificações.
Lisboa, 19/6/2004
Rogério
Reedito um “post” que publiquei em “Poemas de Amor e dor” em 2004 por sugestão de uma amiga, “blogueira” no SOL, a quem agradeço.
Meus pais estão vivos! Eis ainda outra boa razão para vos dar a conhecer o que um dia apaguei.
Saudades
