CHORA TRISTEZA
Rogério Martins Simões
- Atravesso os muros que derrubam os silêncios…
A agonia morre emparedada…
- (cobardes, abutres,
Corja repugnante da sociedade…)
- Chora tristeza que o menino
Perdeu as asas para voar…
Morre vileza,
Que ao passarinho
Nem o deixaram cantar...
- Bruxas, adivinhas e contos de fadas:
Nem os deixaram escutar...
- Chora tristeza
Que o menino
Lágrimas não tem para deitar…
…Nem tem como fugir...
Meco, 25-06-2011 18:14:12
(Registado no Ministério da Cultura )
PUBLICADO
Simões, Rogério, in “GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2014)
ISBN 978 989 51 1233 3
Poemas de amor e dor
conteúdo da página
publicado às 12:11
PARA ALÉM DO VENTO…
Rogério Martins Simões
Volúpias em corpos que bailam submersos,
Dispersam, em nós, o sémen da procriação.
São inocentes os nossos dias em tentação,
Anseios da natureza doces como versos…
Mordiscaste a minha boca em provocação...
Desejos inatos; tão diferentes; tão diversos,
Anunciando um tempo novo, sem reversos,
Ardendo como o fogo em adoçada erupção….
E a natureza nos cobriu com vento criador,
Confiando as sementes num ato de amor,
Quando o teu corpo fértil comigo dançava!
Além de nós havia um tempo pouco visível,
Para que recomeçássemos num cio sensível,
E o teu corpo, com ingénita sedução, bailava…
Aldeia do Meco, 26-10-2007 23:11:43
Simões, Rogério, in “POEMAS DE AMOR E DOR”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2019)
1ª edição: Agosto, 2019 página 47
ISBN: 978-989-52-6450-6 Depósito Legal n.º 459328/19
Poemas de amor e dor
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publicado às 18:34
(Foto datada de 22/09/1947, Hospital de Arroios, Médicos, Enfermeiras, Administrador e a minha madrinha, Maria da Nazaré Simões, natural da Pampilhosa da Serra, Póvoa, que consagrou toda a sua vida aos doentes e aos mais pobres.)
VEM DAÍ AMAR AO PRÓXIMO
Rogério Martins Simões
Os espelhos aglutinam as dores,
Quando os desesperados
Perdem os sorrisos
Alimentando os sonhos
No teto da lua…
Nunca digas que estás bem
Se não furtares o espelho
Do desespero…
E não te despojares
Do que te faz falta.
Para que te revejas:
Acende uma vela
Por cada obra tua…
E pincela com orvalho
Cada sapato que te sobra.
Não consegues disfarçar
A razão de quereres tudo
Nem irás confessar
Que queres mais
Se, mesmo assim, te sobrarem os trastes
Não os entregues aos puros
Porque te podem fazer falta…
Nunca te pedirei demais…
Porque nada tens que seja teu!
Dou-te o espelho
Que nunca foi meu…
Devolve-me os sonhos
Que guardaste no cofre…
Se nada disto te disser alguma coisa
Vem daí!
Enrosca-te, na noite fria,
Para escutares comigo,
O rumor dos mais desesperados…
Lisboa, 15/12/2007 0:18:46
Simões, Rogério, in “POEMAS DE AMOR E DOR”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2019)
1ª edição: Agosto, 2019
ISBN: 978-989-52-6450-6
Depósito Legal n.º 459328/19
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:49
PERDIDAMENTE DOCE
Rogério Martins Simões
Uma abelha beija um malmequer,
Retira o pólen e a flor sorri.
Nada saberei do mel…
Que vais deixando por aí:
Dos teus seios,
cor de cereja madura,
Adoçando a minha boca
Contigo louca, insegura,
Esvoaçando sobre meu peito despido,
Despida
E tão perdidamente doce.
Meco, 03/09/2014 18:30:42
Simões, Rogério, in “POEMAS DE AMOR E DOR”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2019)
1ª edição: Agosto, 2019
ISBN: 978-989-52-6450-6
Depósito Legal n.º 459328/19
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:52
Versos de amor
Rogério Martins Simões
Logo! Logo muito cedo,
Irrompe a luz, sem medo,
E descobre meu olhar.
Entra, sem bater à porta,
Quando o sol conforta:
Lembranças a despontar.
Em cima da velha mesa
Eu tinha a roupa presa
Com o prato da merenda:
Manteiga e pão escuro;
Que o branco era duro,
E só pela encomenda...
Solto os meus pés à légua
Que, na escola, a régua
Não aceita a demora...
Quisera, então, aprender,
A ler, para escrever,
Os meus poemas de agora.
Revejo, neste caminho,
Meus pais, com tanto carinho,
Neste nosso trilho em flor.
Volta o sol, que me beija,
Nesta manhã, que cereja,
Em meus versos de amor.
Lisboa, 30-10-2010 22:33:19
Simões, Rogério, in “POEMAS DE AMOR E DOR”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2019)
1ª edição: Agosto, 2019
ISBN: 978-989-52-6450-6
Depósito Legal n.º 459328/19
Poemas de amor e dor
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publicado às 19:17
DIÁSPORA
Rogério Martins Simões
Gosto de viajar para casa.
Regressar é um desejo de quem parte
E não quer ir.
Vou!
Já fui tantas vezes na ventura
Calcetando pedras,
Dormitando em tábuas,
Onde me perco sem contemplações,
Encalhado nos confins das terras,
Para amealhar uns tostões.
Tivesse asas para acompanhar o pensamento…
Que as asas só se levantam tendo penas.
Penas eu tenho!
Pena não tenho da fome e dos xailes pretos…
Deixei em casa corpos em metamorfose,
Silêncios e silvas,
Que crescem entre os muros e dão amoras…
Comprei a última tesoura de podar:
Tenho a barriga a dar horas
E um sonho para voltar...
A vinha ficou brava…
A casa fechada e a hortas são agora pasto de chamas!
- Aldeia porque me chamas filho
Se eu só tive madrasta!?
- Nação porque me pedes o voto se já nem te sei ler!?
Gosto de regressar, mas não posso ficar…
Falo agora esta meia língua estranha,
Porque já esqueci a minha…
Volto a percorrer as estradas
Que me afastam do que resta...
Levo uns trocos para a viagem
E, quando lá me virem,
Vai ser cá uma festa….
Vou petiscar couratos
E beber uns copos
Com os rapazes do meu tempo.
Regressarei um dia para cuidar da vinha…
Por agora durmo a sesta…
Voltarei para cumprir a promessa…
Beberei, nos corpos deixados,
Um néctar guardado
Entre fragas e pinheiros…
Agora tenho de ir…
Regressarei à casa nova que construí
E em cada degrau
Limparei as lágrimas definitivas
Da minha saudade.
Vou partir mas quero regressar…
Oh Pátria amada,
Onde se acolhem os sonhos do meu regresso:
- Porque me deixaste partir?
Oh Pátria amada deixa-me regressar
Ainda que só te enxergue,
No que resta,
Dos penhascos e das pedras pretas.
Quero todo o barro, granito e lousa.
Quero a água cristalina que emergia das fragas.
Quero depositar uma coroa de rosas
Nas campas rasas dos meus pais.
E uma coroa de espinhos nos que me obrigaram a seguir…
Sonhei voltar!
Não voltarei para partir…
Não voltarei a sonhar.
Vou ficar!
Tenho filhos e netos neste lugar
Retalha a saudade
No que resta do meu corpo!
Viajarei gavião….
Por agora recebo notícias do meu país
- Dizem que as motas todo-o-terreno
Debutaram nas silvas da minha aldeia…
E se a língua portuguesa
é a minha raiz profunda,
Afundo as minhas mágoas
por não poder regressar
Porque regresso escreve-se agora noutra língua.
E eu já nem sei o caminho do retorno…
8/03/2007
Simões, Rogério, in “GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2014)
ISBN 978 989 51 1233 3
Poemas de amor e dor
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publicado às 19:37
POR QUE SOU TRISTE?
Rogério Martins Simões
Saber, quero saber por que sou triste?
Querer, por mais querer, o riso ensejo.
Chorar? Não mais chorar é meu desejo.
Saber por que razão meu choro insiste?
No meio deste silêncio, e que persiste,
Razão tem a razão em que me revejo.
Chorar será o clamor do meu arpejo.
Saber, quero saber em que consiste.
Perguntei ao meu rio Tejo, a soluçar,
Que me desse a razão deste meu estar:
Saber, quero saber que fiz de errado?
Sorrindo para mim para que o visse,
Cuidai desse teu riso, e mais me disse:
- Chorar, e mais chorar, será teu fado…
Meco, Praia das Bicas, 2013-12-12
Simões, Rogério, in “GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2014)
Poemas de amor e dor
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publicado às 21:51
DEIXA A TERNURA
Rogério Martins Simões
Quando desesperado assim me deito,
Quantas vezes calado em sobressalto,
Como uma onda varrendo lá do alto,
Assim é a imensa dor que rasga o peito.
Cruel este sofrer sem qualquer proveito,
Arfando até não mais, e neste assalto,
Para onde o meu presente levou a salto:
Esta imensa dor que me dói e que rejeito.
Luta desigual, foi esse o meu receio,
Que bem cedo legou este meu tormento.
Tarde me tarda meu último momento…
Eterna prisão foi esta a que me enleio,
Sobra-me este grito; É minha a loucura:
Quase tudo levou: deixa a ternura!
Meco, 01/03/2019 18:04:43
Simões, Rogério, in “POEMAS DE AMOR E DOR”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2019)
1ª edição: Agosto, 2019
ISBN: 978-989-52-6450-6
Depósito Legal n.º 459328/19
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:08
TRISTEZA NO MEU OLHAR Rogério Martins Simões
Quanta tristeza tem este meu olhar.
Que aos poucos vai morrendo: que viver?
Se lentamente passo este sofrer:
Neste viver, assim, sem desejar.
Já passei tantas datas por datar…
Mais que os anos, perdidos, sem os ver
Que para mais estar, e sem morrer,
Na morte vive quem mais esperar.
Que não seja por mim a pouca sorte,
Pois que, neste meu invólucro de morte,
É na vida que a alma se deslinda.
E neste desespero em que me vejo,
Minha alma, num momento de sobejo,
Recorda-me que não quer partir ainda.
Meco, 05/03/2015 19:30:42
Simões, Rogério, in “POEMAS DE AMOR E DOR”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2019)
1ª edição: Agosto, 2019
ISBN: 978-989-52-6450-6
Depósito Legal n.º 459328/19
Poemas de amor e dor
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publicado às 17:34
HERDEIROS DO MEDO Rogério Martins Simões
Derramam-se palavras incertas,
Presságios e angústias certas,
Das terras ao mar profundo.
Com que prece fogem do medo,
Os heróis do sobressalto, a salto
Das guerras dos senhores do mundo.
Soa um alarme que se solta,
Há náufragos no alto mar.
É tarde e só estará de volta
A onda para os levar…
Somos os filhos do medo,
Que levámos aos confins do mundo.
Com que fim se desdobra
A angústia e o mau presságio
Heróis do sobressalto, a salto
Através do mar profundo?
São os herdeiros do medo
Heróis sacrificados, deserdados
Nas mãos dos senhores do mundo.
Campimeco, Meco, 06/02/2018 15:28:14
Simões, Rogério, in “POEMAS DE AMOR E DOR”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2019)
1ª edição: Agosto, 2019
ISBN: 978-989-52-6450-6
Depósito Legal n.º 459328/19
Poemas de amor e dor
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publicado às 21:17