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DOUTAS PALAVRAS DO CORAÇÃO
Rogério Martins Simões
Bom é partir!
Melhor é chegar!
Pois na ventura
nunca se sabe quem parte,
ou quem chega,
se quem viaja
não tiver alguém à espera.
E se acaso tropeçar,
se não restar tempo
para a tempo chegar,
conhecerá alguém
os caminhos por onde andei?
E se derem pela tua falta,
se não fizeres falta:
chamar-te-ão pelo nome
se nem nome tens?
Volto a viajar
na têmpera das palavras.
Gosto das palavras!
De apregoar ao vento,
a minha presença,
para que tenham à mão,
a água pura e pão caseiro
quando chegar.
Levarei o pó da estrada
ou as algas do mar!
Para que saibas,
para que me reconheças,
olha-me nos pés descalços,
nos trapos rotos,
e nas doutas palavras do coração.
Levarei comigo o sal
para temperar
os novos conceitos de felicidade.
E se estiveres só,
à minha espera,
e não te der nada,
ainda assim
mereci a tua presença?
Não me esperes!
Vem ao meu encontro,
pelos caminhos
por onde,
ainda,
terei de andar!
12/11/2007
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
NUVEM
Rogério Martins Simões
Havia uma nuvem que enfeitiçava,
Distendi as minhas asas e ceguei,
E quanto mais perto dela chegava,
Mais afastado, de mim, eu fiquei.
Cheguei a pensar que passava…
Mesmo passando o que passei…
Quando o vento com ela dançava,
Perdido, de mim, não mais me achei.
Pela calada da tarde desaparecia…
Era tarde e tão cedo que nem via
Que o silêncio, na noite, madrugava…
E quando a noite adormecia vestida,
Lamentando a minha triste vida,
No revés dos seus olhos chorava.
CAMPIMECO, Meco 10-09-2012 16:14:41
ABANDONO…
Rogério Martins Simões
Olhou as paredes, estavam nuas,
Sem compreender todos os porquês.
Fecharam as portas e eram duas…
Antes morresse de uma só vez.
Tinha os cabelos brancos das luas,
Trazia nas mãos o terço que fez,
Desfiando orações que eram suas,
Quanto numa lágrima se desfez.
Entrou, olhou, e sentiu-se perdida.
Era tão triste o seu final de vida:
Estranho era aquele novo lugar.
E quando já pareciam dormir,
Cercada, na luz pediu p´ra partir:
Sorriu! E não mais voltou acordar…
Campimeco, Meco 12-12-2012 23:58
ZUMBIDO
Rogério Martins Simões
Lá fora,
No colar da escuridão,
Percute o vai e vem
Das ondas do mar.
Mandei calar o vento
E o mar amainou.
Pedi silêncio à coruja
E ela acordou.
Veio o mocho
E acabou por anuir.
Lá fora
a noite nem é de grilos...
e não consigo dormir!
Aqui, nos meus ouvidos,
Um zumbido ruidoso
Corrompe este pacto de silêncio.
Amanhã,
Ordenarei ao mar
E ao vento,
Ao mocho, à coruja
E ao sino do templo,
Que não deixem silenciar a noite.
A minha noite
Não é só de grilos...
Espasmos dolorosos pulsam
E não me deixam sossegar.
Lisboa, 07-02-2010 22:36:39
(Diálogos da alma e do poeta: diário de um doente de Parkinson)
VOLTO A SACUDIR OS OLHOS…
Rogério Martins Simões
Volto a sacudir os olhos na escrita.
Por agora tenho o caderno e a mente.
Tenho tudo para ser feliz
Por ora
Uma criança chora!
Chora, não sei.
Chora sempre!
Deram-lhe tudo para ser feliz…
Quem mente?
As ondas varrem a cidade
Que flutua
Num extenso areal adornado de adereços…
Volto ao caderno.
Não escrevo!
Ligo palavras, sílabas.
Que sílabas?
Tinha tudo para ser feliz,
Por um tempo inútil,
Onde tudo não passou
De uma forte gargalhada de dor.
Doem-me as palavras rasgadas,
Tramadas.
Dói-me esta dor que se expande num tempo
Que me tinham reservado para ser feliz.
Sigo no tempo
Ou pegarei no tempo a tempo?
Que sinto?
Alguém falou?
Alguém deu nas vistas?
As vistas curtas confundem as próprias vistas!
Não viste nada. Desandas!
Se ando por fora dos papéis voo nas vistas.
Se conseguisse andar daria nas vistas…
Estou sentado numa cadeia de ferros
Tenho o caderno afundado numa teia de ferro.
A ferro e fogo.
Já fui fogo.
Água e gelo
Gelo os meus pensamentos…
Que faço destas mãos?
Levaram as sementes do meu campo de trigo
Trinco sementes de girassol
Neste cantar de desabrigo…
Estou fechado no prédio móvel…
Que é meu corpo.
Que dilema:
Perdi as forças;
E estou num colete-de-forças…
Volto a olhar para dentro,
Olho o meu corpo,
Conheço a idade do meu corpo,
Não estou mal para a sua idade…
Que idade tenho?
Quero fugir de mim
E dão-me dose dupla…
Se conseguir sobreviver
Saberei viver?
Viverá quem já não goste da vida?
Que vida?
Fechada neste cadeado?
Movimenta-me a dose dupla,
Volto a andar:
Subo o patamar da mente;
E desço de andar na escrita…
Poucos Metros me afastam da meta
Onde já fui primeiro…
Voa, atleta
Poeta
De corpo inteiro!
Meco, 12 de Julho de 2009
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
Rogério Martins Simões
Foram sete os pescadores que avistaram
Uma moira encantada e por ela morreram.
Sete os pescadores que se apaixonaram;
Sete as colinas que em Lisboa nasceram.
Daí se diga agora daqueles que a amaram
Que ao subir o castelo d´ amor renasceram
A paz interior para sempre encontraram,
Da moira encantada nunca mais souberam.
Mas, em Lisboa, toda a gente a conhece.
Logo pela manhã, quando o dia amanhece,
Subo às sete colinas onde sempre a revejo:
A moira encantada é o nosso lindo Tejo
Que no mar da prata, carregado de luar,
A Cidade de Lisboa a todos vem beijar.
ROMASI
Meco, 15-06-2012 21:08:42
TARDIA… AMARGURA
Rogério Martins Simões
Levaram a minha estrela…
Fiquei sem rumo.
Cegueira virtual
que me conduz ao abismo.
Tardia… amargura.
Pois, de tanto a amar,
Acabo por passar
Com a lua à cintura…
Preciso de luz!
Preciso de paz!
Conduziram a minha estrela…
ao hospício.
Amarraram-na
num colete-de-forças…
Medeio um conflito
entre loucos…
Rasteja barata pelas
Paredes…
Não forces o teu riso!
Se não a avisto…
Visto um disfarce
e liberto os prisioneiros…
Preciso de luz!
Preciso de paz!
Tiraram-me a estrela
De um antigo verbo amar...
Quanta ingratidão!
Deixei de vê-la
Acabo por cegar…
Ainda, assim,
Enxergo a amargura…
Preciso de luz!
Preciso de paz!
Lisboa, 3 de Maio de 2007,
Alterado em 2011
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)