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O MEU OLHAR
Rogério Martins Simões
O Horizonte debaixo do meu olhar,
Profundo,
Impele-me a ficar
Até desgarrar o ver.
Este sentir nos dedos as águas deste mar;
Este fluir de pensamentos borbulhantes,
Onda atrás de onda,
Fazem de mim um náufrago
Que não se quer achar;
Que não quer sofrer…
Meco, 09-01-2013 17:45:38
NUVEM
Rogério Martins Simões
Havia uma nuvem que enfeitiçava,
Distendi as minhas asas e ceguei,
E quanto mais perto dela chegava,
Mais afastado, de mim, eu fiquei.
Cheguei a pensar que passava…
Mesmo passando o que passei…
Quando o vento com ela dançava,
Perdido, de mim, não mais me achei.
Pela calada da tarde desaparecia…
Era tarde e tão cedo que nem via
Que o silêncio, na noite, madrugava…
E quando a noite adormecia vestida,
Lamentando a minha triste vida,
No revés dos seus olhos chorava.
CAMPIMECO, Meco 10-09-2012 16:14:41
ABANDONO…
Rogério Martins Simões
Olhou as paredes, estavam nuas,
Sem compreender todos os porquês.
Fecharam as portas e eram duas…
Antes morresse de uma só vez.
Tinha os cabelos brancos das luas,
Trazia nas mãos o terço que fez,
Desfiando orações que eram suas,
Quanto numa lágrima se desfez.
Entrou, olhou, e sentiu-se perdida.
Era tão triste o seu final de vida:
Estranho era aquele novo lugar.
E quando já pareciam dormir,
Cercada, na luz pediu p´ra partir:
Sorriu! E não mais voltou acordar…
Campimeco, Meco 12-12-2012 23:58
PAPAGAIO AZUL
Rogério Martins Simões
Daquela janela virada a sul,
Por onde um ligeiro vento passava,
Um pedacinho de papel azul,
Subia ao céu e do céu baixava.
Olhei p’ra janela virada a sul,
Que a sul, afinal, ali não estava
Era um sonho e nem era azul:
O papel azul que o vento levava.
Não era janela, era sacada.
Não era o sul, talvez fosse norte.
Não era um sonho, talvez a sorte:
Tantos sorrisos com olhos de nada.
Naquela janela virada a sul,
Preso a um cordel segurava,
O meu papagaio de papel azul,
Que subia ao céu e de lá baixava.
MECO 13-11-2012 01:12:36
ZUMBIDO
Rogério Martins Simões
Lá fora,
No colar da escuridão,
Percute o vai e vem
Das ondas do mar.
Mandei calar o vento
E o mar amainou.
Pedi silêncio à coruja
E ela acordou.
Veio o mocho
E acabou por anuir.
Lá fora
a noite nem é de grilos...
e não consigo dormir!
Aqui, nos meus ouvidos,
Um zumbido ruidoso
Corrompe este pacto de silêncio.
Amanhã,
Ordenarei ao mar
E ao vento,
Ao mocho, à coruja
E ao sino do templo,
Que não deixem silenciar a noite.
A minha noite
Não é só de grilos...
Espasmos dolorosos pulsam
E não me deixam sossegar.
Lisboa, 07-02-2010 22:36:39
(Diálogos da alma e do poeta: diário de um doente de Parkinson)
SEMPRE…
Rogério Martins Simões
Sempre que estas mãos não amparam o choro,
para que não se perca uma migalha de ternura,
Esfrego os meus olhos na ventura,
Apago as lágrimas
E parto à procura da poesia
Campimeco, Aldeia do Meco, 08-08-2012 19:24:17
POETA DE CORPO INTEIRO
Rogério Martins Simões
Sigo num tempo
Que atento sinto:
Que sinto?
Alguém falou?
Alguém deu nas vistas?
As vistas curtas confundem as próprias vistas.
Não viste nada!
Desandas!
Volto ao caderno.
Não escrevo!
Ligo palavras, sílabas.
Que sílabas?
Tinha tudo para ser feliz…
Tempo inútil,
Onde tudo não passou
De uma forte gargalhada de dor.
Uma criança chora!
Chora, não sei:
Chora sempre!
Que sente?
Doem-lhe estas palavras rasgadas,
Tramadas,
Dói-me esta dor
Que se difunde,
E confunde, em contratempo:
Deram-lhe tudo para ser feliz…
Quem mente?
As ondas varrem a cidade
Que flutua
Num extenso areal adornado de adereços…
Volto ao caderno.
Não! Escrevo!
Ligo palavras, sílabas.
Que sílabas?
Tinha tudo para ser feliz,
Por um tempo inútil,
Onde tudo não passou
De uma forte gargalhada de dor.
Se ando por fora dos papéis voo nas vistas.
Se conseguisse andar daria nas vistas…
Estou sentado numa cadeia de ferros
Tenho o caderno afundado numa teia de ferro.
A ferro e fogo.
Já fui fogo.
Água e gelo.
Gelo os meus pensamentos.
Que faço destas mãos?
Levaram as sementes do meu campo de trigo
Trinco sementes de girassol
Neste cantar de desabrigo…
Estou fechado no prédio móvel
Que é meu corpo.
Que dilema:
Perdi as forças e estou num colete-de-forças.
Volto a olhar para dentro,
Olho o meu corpo,
Conheço a idade do meu corpo,
Não estou mal para a sua idade…
Que idade tenho?
Quero fugir de mim
E dão-me dose dupla…
Se conseguir sobreviver
Saberei viver?
Viverá quem já não goste da vida?
Que vida?
Fechada a cadeado?
Movimenta-me na dose dupla
e volto a andar:
Subo o patamar da mente;
e desço de andar na escrita…
Poucos Metros me afastam da meta
Onde já fui primeiro…
Voa atleta:
Poeta
De corpo inteiro!
Meco, 12 de Julho de 2009
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Processo n.º 2079/09)