CICLO FECHADO
CICLO FECHADO!
(O MEU SEGUNDO GRITO!)
Rogério Martins Simões
Se o teu rosto não sorri,
E o teu cabelo não desliza,
É porque a tua boca se encerra,
E a minha não será precisa…
O gesto, o medo, o ódio:
Tudo te corrompe.
E, até, não preciso de ponte
Encheste-me a baliza…
Espalhou-se a brisa;
Abriu-se a porta de vidro;
A janela da esperança;
E o vento até desliza…
Mas… se ao menos O teu rosto sorrisse!
E os teus cabelos se soltassem
Voltarias a encontrar
Os melhores passos para ti,
Porque o melhor de ti fui eu
Que adoecia dizendo olá!
O melhor de ti fui eu
Que te segurei, quando fugias...
Ou então sempre errei
Quando te amparei E tremias.
Não!
Nada sobrou de mim
Não me faças sentir assim
Pois tudo agora findou.
Sabes!
Tudo é nada
Quando nada começa!
E o fim não existe
Se não há princípio.
Para quê essa pressa!?
Se o inicio era nada,
E tudo foi retalhado:
Nefasto é o sofrimento
Quando não há, sequer, sentimento!
Se assim não fosse
Poderias dizer, ao menos, como eu
Longe!
Muito longe de ti.
Olá!
Olá poeta!
Não fiques desesperado
Não faças nada apressado!
Não!
Não penses sequer Que te quero!
Quem quer o nada
Se nada tem?!
Tu não vês que não há regresso
Quando não há ponto de partida!
E tu nem entendes a chegada...
Olha!
Eu tinha um guizo,
Cabeça de andorinha,
Que corria atrás do vento
Ao desafio com as aves.
À procura de outras asas!
E voava,
Voava, sem ser preciso.
Chamavam-lhe cabeça de vento…
Certo dia fugiu,
Voou numa folha de papel
Toquei novamente o guizo,
E tantas vezes subiu
Que se partiu o cordel.
Sabes!
Agora quero sorrir!
Tenho gosto, tenho vida!
Despejei a "selha de lágrimas"
Encontrei-me no "corpo ausente"
E num arco-íris
Descobri manhãs
Com que sonhei e sempre quis.
Afinal estou magoado!
Porque fui muito infeliz!
Mas não há dúvida!
Ainda serei feliz!
Lisboa, 1989