FERRO NAS PALAVRAS...
(Auto-de-fé em Valladolid)
EU, ANTÓNIO JOÃO
(Rogério Martins Simões)
Eu, António João,
Filho de João Anes, lavrador,
E de Isabel Pires, Lavradeira,
Cristão Velho
Perante vós do Santo Ofício
juro por Deus e só por isso
que outra fé não tenho
A que sempre fui submisso
Desde os tempos de antanho
Pois pertenço ao rebanho
Do priorado da minha terra
Temente e a Deus fiel
Assim foi meu crescimento
E nunca lhe fui infiel
Por Jesus no Sacramento
E por minha mãe Isabel
(Mensagem M. de 12/9/2014)
(António João, do Vale Serrão, Pampilhosa da Serra, condenado pela Inquisição)
Ferros nas palavras…
Rogério Martins Simões
Os ferros prendem as letras
Quando as letras formam
Palavras inconvenientes…
O que sentiste quando
Te cortaram a respiração?
Como engoliste as palavras,
Quando te torturaram
Pelas palavras
E te colocaram a ferros?
Com que ferros te marcaram,
E te secaram o grito.
Que raiva quando nos deixam sem ego!
Ainda assim:
Os cobardes vestidos de negro
Não te mandaram para a fogueira…
Nem te queimaram os ossos...
Quando nem os deuses
Protegiam os inocentes…
Meco, 12/9/2014 22:17
(Ao António João, do Vale Serrão, Pampilhosa da Serra, condenado pela Inquisição e a todos os perseguidos…)