Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA
Poeta: Rogério Martins Simões
Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004
Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda
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Poeta: Rogério Martins Simões
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Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda
Gostaria de cantar coisas doces, mas só me saem palavras beliscadas
Com formas aguerridas e duras de roer.
Queria ser livre! Para ler e estudar, mas não consigo
E na minha tristeza
Este meu findar
Este meu esquecimento
romasi
1972
1974
RENOVAÇÃO
ROMASI
Se há algo que não concordo
É da injustiça e do medo
Das torturas que me recordo
Dos homens que partiram cedo
Atraídos à cilada
Despedaçados com matracas
Por discordarem da vida
Que levavam nas barracas
Só pediam pão, só isso!
E um pouco de educação
Só queriam paz e justiça
E o fim da opressão!
Fugiram, os que puderam,
Para França ou para qualquer lugar
E foi lá que souberam
Que podiam regressar.
Aqueles que escaparam à morte
Que para África foram lutar
Desfilaram cantando a sorte
Por poderem regressar
E no 1º Maio fizeram a festa
Que há muito estava proibida
Não há festa como esta
De chegar à liberdade com vida:
“Maio dos bravos,
Maio primaveril
Nascem viçosos os cravos
Do vinte e cinco de Abril.
1974
Um dia depois…
26 de Abril de 2008
Este é o meu protesto!
A liberdade está a ficar cercada e os nossos votos de nada servem. Os nossos sonhos viajantes estão a ficar cansados. Onde estão os valores de Abril?
Que futuro podem ter os jovens com trabalho precário?
Serão de facto velhos os desempregados com 40 anos de idade?
Qual a razão que assiste, a quem nos governa, para não respeitarem os compromissos assumidos com os seus eleitores?
Por que fecham os hospitais sem alternativa?
Por que razão mudaram as regras da aposentação?
Dizem – Mudamos a regra porque a esperança de vida é agora maior! Será assim? Vejamos!
Se nos aumentaram o tempo para alcançar a reforma, é por que nos querem, nos nossos postos de trabalho, até mais tarde.
Nada mais falso! O que querem é reduzir os montantes das aposentações!
É por isso que nos incentivam a ir para a reforma mais cedo. Qual a razão para nos anunciarem a pré-reforma? Não! Estes senhores apenas querem retirar direitos adquiridos e antecipar reformas com penalização.
Qual a penalização nos vencimentos dos políticos?
Será que o político tem uma profissão de desgaste rápido?
Onde estão e por onde param esses profissionais quando saem da política?
Será que ainda posso protestar?
Ontem fui um dia igual aos outros. Ah! Não é verdade! Ontem ergui o meu copo, do mais sublime néctar, aos militares que me restituíram a liberdade.
SEMPRE ROMASI, desculpem! Dizem que ainda há liberdade,
Há na vida momentos que ficam para sempre inesquecíveis. Permanecem na memória por longos anos de forma inalterada, quase tão reais como a própria consciência do presente; ou como o reverso desse mundo ideal que construímos, aleatoriamente a cada impulso da poética trazida pela resistência quotidiana. Na narrativa dos acontecimentos confundem-se os factos com os sentimentos, fruto de um movimento de inversão do factor distância. Quanto maior é o afastamento no tempo, mais intensa e carnal é a recordação emotiva dos factos, é como se compensássemos a perda irremediável do passado, no rasto dos planetas, com a representação de um novo conto de fadas. Cada um desses momentos participa da nossa substância humana e religiosa.
Abril amanheceu com tonalidades de coragem. Bento ensaiava naquele dia, como vinha sendo hábito nos últimos três ou quatro anos, os passos iniciais do seu ritual matinal que o conduziriam ao seu emprego. Enfrentava a sua imagem no espelho com distraída indiferença. Era uma figura justaposta e de uma estranha familiaridade. Muitas vezes culpamo-nos, à beira da impiedade, pela inconsistência dos modelos que construímos para preenchimento dos buracos vazios da vida. A curta distância um aparelho de rádio emitia música marcial. Era uma aurora densa de mais para aquele tempo de primavera. O poder deveria ter enlouquecido de vez, pensou. Mas não, a voz de sua mãe, vinda da cozinha, a meio do corredor, exclamava entre perplexidade e medo (sentimentos que naqueles tempos sempre nos acompanhavam – e ainda hoje carregamos!): “Oh! Bento, deve estar a passar-se alguma coisa. Só estão a transmitir marchas militares no Rádio Clube! Não me digas que é algum golpe?!”. Aquelas palavras deixaram-no aturdido, paralisado, frente ao espelho grande da casa de banho onde a pouco e pouco se ia perdendo, na neblina do vapor de água, o seu rosto jovem, envolto de frondosos cabelos negros. “Não me digas que é algum golpe?!”. Ficaram os dois em silêncio, tão-só a escutar a emissão que naquela manhã, entre as sete e meia e as oito, parecia querer sublevar o povo, em defesa da pátria ameaçada. A espera valeu a pena.
“AQUI MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS… “. Havia nos seus olhos uma erupção de felicidade, abraçavam-se aos pulos pela casa. Estavam só os dois. Bento foi até à janela e gritou: “Abaixo o fascismo! Viva Portugal!”. Nas ruas do bairro poucos davam mostras de ter conhecimento que a tropa já ocupava, a essas horas, alguns postos chave para enfrentar as forças leais ao regime. Regime que viria a desmoronar-se às mãos de um punhado de capitães valorosos a que se juntou mais tarde a elite dos generais, à vista de um povo determinado, ingénuo e desejoso que invadia as praças e avenidas da capital.
Bento reuniu alguns dos seus correligionários das campanhas contra o marcelismo, entre os quais Joana, e aventuraram-se pelos caminhos da revolta popular contra a ditadura que nesses dias de Abril mudaram os protagonistas da história e revelaram a face oculta de um país mergulhado na profunda amargura da opressão violenta. Ao passarem por uma coluna militar Bento, ajudado pela multidão, subiu a uma chaimite e depôs no cano da espingarda de um soldado, o cravo vermelho que Joana lhe oferecera. Joana sorriu, pensando que o “POVO ainda é QUEM MAIS ORDENA”. Já à tarde no Largo do Carmo quando o Presidente do Conselho estava prestes a assinar simbolicamente o acto de rendição condicional, Bento e Joana, cansados mas felizes da jornada, encontravam-se no espaço público de uma livraria junto à Estrada de Benfica, em animada discussão sobre o desenrolar dos acontecimentos daquele dia, atentos, todos, às últimas notícias que chegavam pela rádio. E chegou, finalmente, o momento inesquecível por todos ansiado; o ditador, a esfinge do regime capitulava com a garantia do exílio e da entrega do poder aos generais. O Zeca comentou: “O mal disto tudo é que nós não vamos ter direito a nada!”. Ninguém moveu o olhar. Houve uma longa pausa, apenas cortada pelo ruído exterior do tráfico rodoviário.
Estou a lembrar-me de uma passagem do filme “Os Capitães de Abril”. Quando a coluna militar atravessava o arco da Rua Augusta um dos oficiais do exército que integrava o movimento revoltoso, disse que, depois de passados os instantes de liberdade e de euforia populares, o sistema se reorganizaria nos bastidores, numa nova ordem em proveito e sob as ordens dos detentores do poder. “Terás alegria ou terás poder (…); mas não terás as duas coisas.” afirmou Joana, tentando reproduzir de memória um trecho de um escritor americano que comentara meses antes durante uma aula do curso de filosofia.
Bento ainda recorda, hoje, esses dias vividos na esperança de um mundo igualitário e solidário. Ainda revive aquele minuto em que ergueu o cravo da vitória e em que Joana lhe sorriu num breve culminar de ilusões. Bento sempre soube que o poeta do povo não se enganava. O seu canto de fraternidade fez tremer os chacais, é verdade!, mas acabou por se perder o sentido dos versos que se imortalizaram “Dentro de ti ó cidade”. A flor das águas traz os corpos filhos da madrugada libertadora. A cidade é hoje um lugar superlotado, sujo, cruzamento de avidez e lucro, espaço multiracial desgovernado, sombra dos grandes ideais e nomenclatura do ridículo disfarce da burguesia decrépita.
Bento alisou os cabelos e saiu deixando atrás de si a emissão de rádio, num outro comprimento de onda.
José Baião Santos – Abril de 2007
Poemas de amor e dor
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publicado às 01:17
MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Simões
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
11/4/1975
Todos os poemas deste blog, assinados com pseudónimo de ROMASI ou Rogério Martins Simões, estão devidamente protegidos pelos direitos de autor e registados na Inspecção-Geral das Actividades Culturais IGAC - Palácio Foz- Praça dos Restauradores em Lisboa. (Processo 2079/2009). Se apreciou algum destes poemas e deseje colocar em blog para fins não comerciais deverá colocar o poema completo, indicando a fonte. Obrigado