Abismo
ABISMO
Rogério Martins Simões
Tento dar tudo dando nada
Sou ditongo nasal,
tenho a narina entupida
Sou prova oral
tenho a voz engolida…
Ando cansado e as pernas
não flectem
Oiço barulho e estou surdo
Quanta tristeza vai em mim
Quanta mágoa!
Que sobra
se já não sou e pouco resta.
Resta o pensamento!
Carga imaginária
que não se esgota
que me afronta,
não me derrota e me limita…
Tenho a testa nos confins
do semblante
Desconfio da sorte
que não me sai
Desconfio da esperança
e do momento.
Cismo, cismo, cismo!
O corpo não mexe,
pouco importa
Importa-me a desventura,
má sorte,
Que me conduz ao abismo.
Vai,
segue em frente
que o precipício não te é
indiferente
Semente do desencanto
de quem tanto sofreu.
Vai,
segue agonia viajante
e diferente
E recorda-te que já fui sorte
05-03-2007
Boa noite José Baião
Rogério Simões
(correspondência entre poetas)