Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA
Poeta: Rogério Martins Simões
Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004
Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda
Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA
Poeta: Rogério Martins Simões
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Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda
(Todas estas fotografias foram cedidas pelo Sr. Padre Pedro da Pampilhosa da Serra)
O BARBEIRO
Maria.
Espero que ao receberes esta carta estejas bem que nós por cá vamos na graça de Deus.
Recebi a tua última carta onde me dizias palavras lindas, como só tu sabes dizer, e com ela vinha a senha para levantar o cabaz das mercearias que nos mandaste pela camioneta.
Já recebemos a encomenda, estava tudo bem, mas escusavas de te incomodar.
Aqui na terra tudo vai como no costume.
A cabra da Ti Rosário entrou na horta e foi dar cabo da vinha do tê pai.
Ouvimos dizer que o Ti Chico fugiu para França. Que raio é que deu ao homem que tinha aqui tanto mato para roçar.
O Zé do fundo do lugar, coitado, é que não teve a mesma sorte. A família dele está de luto! Morreu de uma bala ao atravessar a fronteira. Mas esse, coitado, não tinha aqui nada para comer. Agora que vai ser dos filhos dele. É assim! Temos de nos conformar…
Maria! Vieram-me contar, (aqui na terra há cá umas mexeriqueiras), que estás apaixonada e que até lhe escreveste, numa carta, umas sem vergonhas.
Vê lá que eu nem queria acreditar. A TI Aninhas, que é cá uma coscuvilheira, pediu ao primo que trabalha aí em Lisboa para descobrir se era verdade.
Sabes lá: o Ti Manel da estiva, que é um magano, roubou a carta ao teu namorado.
Maria - nem sabes a vergonha por que estamos a passar. Ainda se fosses um rapaz... mas logo uma menina tão bem educada que fez a comunhão e tudo
Aproveito para te mandar uma cópia da carta que o barbeiro copiou.
Vê lá se foste tu que a escreveste, pois quero desmentir o povo.
Desculpa a letra mas o Ti António barbeiro cortou-se na navalha.
Por hoje não tenho mais para te dizer. Espero a tua resposta na volta do correio.
Beijos da tua mãe
Estes desenhos da alma foram construídos a partir de um comentário que escrevi directamente a um texto, lindo de amor, que a amiga Maria do saudoso blog “Cumplicidades” escreveu.
Só por falta da sua autorização para transcrever o seu poema de amor escrito para a sua alma gémea, fez com que eu, narrador, não mostrasse o texto que o bom António “Barbeiro” copiou e que juntou à carta que foi remetida à Maria por sua mãe.
Ora vejam:
“Maria desculpa a letra e não ligues, tudo vai passar.
Ouvi dizer na Rádio Moscovo que a PIDE vai ser corrida pelos comunistas e que as mulheres irão votar.
Por favor queima a carta e manda-me um frasco de “Pitralon” que depois pago.
Este que se assina
António Barbeiro.
Mas a Maria já respondeu! E escreveu à sua mãe uma linda carta.
Afinal, porque estava na Cidade, não se preocupou com as “linguareiras”
Resposta da Maria na volta do correio
Mãe, Sim estou apaixonada. A carta que te chegou às mãos, minha querida mãe, fala de um amor imenso, puro e que me faz tão feliz. Por isso minha mãe te peço, fica feliz por a tua filha conhecer o amor, por a tua filha se viver em felicidade.
Sabes mãe, não conheço outra forma de viver que não através dele, e isso minha mãe, aprendi contigo. Por isso te peço, ignora o povo, e não sintas nunca vergonha. O amor não se vive dela. Nada do que consta nessa carta são sem vergonhas, minha mãe.
Lê, repara em cada palavra, em cada sentir que elas revelam, não é isso que é a vida minha mãe?
Não é assim que deveríamos todos viver, no amor? Acredito que se todos se vivessem nele, saberiam compreender, e com toda a certeza o mundo seria muito mais humano, estariam todos muito mais disponíveis para os outros. Não concordas? Não desmintas, mãe. Confirma que foi a tua filha que a escreveu. E não ligues à voz do povo, o importante não é que saibas que a tua filha, está bem? Da filha que te ama...
(Resposta escrita por Maria Branco, Blog Cumplicidades, a quem agradeço)
-Maria esqueceste o “Petralon” para a barba e que o Ti António Barbeiro pediu.
Mas o bom António quando a carta chegou já não a leu.
O narrador volta a chamar pelo poeta
P.S:
Aos Homens grandes
O António que escreveu as cartas à Maria era um homem notável: barbeiro de profissão; médico-enfermeiro nas horas vagas.
António foi buscar o saber aos velhos livros de medicina, e, porque era letrado - poucos na sua Aldeia aprenderam a escrever - lia e escrevia as cartas do povo que não sabia ler nem escrever.
Mas o António “Barbeiro” gostava de ouvir!
(Os barbeiros escutam sempre e nem sussurram as confidências!),
E mal tarde tardasse a noite, pé ante pé como se fosse um salteador, acendia o velho aparelho e de novo sintonizava a Rádio Moscovo.
António era um homem prevenido.
À noite colocava por cima do rádio um copo de água e se, no silêncio das quatro paredes, a telefonia emitisse uns silvos esquisitos, baixava o som até quase não se ouvir.
- Não viesse por ali algum “bufo” para o denunciar e agente da polícia política para o levar.
Mas o “Barbeiro” que sabia tanto procurava descobrir na onda curta, da telefonia, o que as emissoras oficiais não lhes contavam.
Foi assim que ouviu dizer, aos comunistas, que iriam libertar o povo e que as mulheres iriam votar
Talvez por isso, o António, barbeiro de profissão, enfermeiro e escritor nas horas vagas, escrevia abusivamente nas entrelinhas, algumas linhas, com recados pessoais para quem eram dirigidas as cartas.
Certa noite de intensa tempestade o António Barbeiro desapareceu e ninguém mais o viu vivo!
Dizem na Aldeia que conhecia os caminhos como ninguém!
(Desenhos da alma e do pensamento do poeta ao sabor da pena)
À Maria Branco o meu agradecimento por completar este diálogo.
Rogério Simões.
(Homenagem póstuma ao Ti João Barbeiro da Póvoa, amigo de meu pai e que ainda conheci)
De vez a vez, tenho por hábito rever os papéis que guardo no meu armário. Hoje, quando cheguei a minha casa, resolvi reler os poucos exemplares de uma pequena publicação a que a direcção da comissão de Melhoramentos da Póvoa deu corpo. E se digo poucos é porque sabem a pouco - tão ricos o são
“Ecos da Póvoa” tinha uma periodicidade – Trimestral – e contava com a colaboração de todos os que, como eu, temos um amor muito grande por esta pequena aldeia.
O 1º “jornal” foi publicado no 1º trimestre de 1999 e era dirigido pelo meu parente e amigo César Oliveira.
É um regalo reler a coluna principal, intitulada “ Alpendre de Santa-Eufémia”, da autoria do ilustre Dr. António Ramos de Almeida, escritor e poeta.
Existiam, ainda umas colunas: “Coisas de Antigamente”; “Gente com Passado”; “Nós e os Outros…o Olhar de quem visita a Póvoa”; “O meu testemunho”; “Nós…e a história”; “ O retiro dos Poetas”; “Coisas de Antigamente”; “Pequenos escritores”
Hoje resolvi trazer da coluna “ Coisas de antigamente” uma recolha popular de duas orações, ambas da memória de Maria Nunes da Veiga Casalinho:
“Oração para a cura de ossos partidos”
“Este(braço) da (o)foi partido, rangido, ou estrangido. Por parte de Deus te requer que volte ao mesmo sentido.
Padre-nosso e Ave-maria”
“Oração e receita para cura da erisipela”
3 gotas de água
3 pedras de sal
3 paus de oliveira
3 gotas de azeite
(junta-se tudo para esfregar)
Pedro e Paulo foram a Roma, Nossa Senhora encontraram, Nossa Senhora lhes perguntou: - que viste vós Pedro e Paulo?
-Vimos erisipelas e erisipelões.
- Vão para casa e curem em meu nome: com água da fonte, sal da marinha e azeite da oliveira.
Padre-nosso e Ave-maria
Em nome de Pedro e de Paulo
(Feito 3 vezes ao dia durante nove dias)
Na coluna “ Coisas de hoje” do “ECOS DA PÓVOA” nº 6, encontra-se um artigo assinada por “ Maria da Fonte”, também foi publicado em “ Comarca de Arganil de 18/03/2000.
Desse artigo retirei um diálogo fabuloso, à luz dos nossos dias, ora vejam:
“O tempo tudo altera, e muito se repete. Num ainda próximo passado, em que imperava a ditadura, a “badministração” do País caracterizava-se pela dureza da autoridade e por leis muitas vezes iníquas, muito mal aceites pelo Zé-povinho e que, apreciadas hoje, parece impossível terem existido.
Na pacata vivência do aldeão serrano, homem livre de leis, a não ser a adua das águas e quinhões de moinhos, apareceu de repente a GNR, para fazer cumprir a lei!
- Lei? – Perguntou um pobre boleiro, abordado pela autoridade, que lhe mede o pico da aguilhada e o multa porque entende que tem um cagagéssimo a mais.
Qual não é o espanto do mesmo, ao puxar um pobre isqueiro de torcida com pederneira, para acender o cigarrito, feito pelo próprio com papel de murtalha reles, lhe pedem a licença do mesmo.
- Licença de quê? – Respondeu o humilde homem não percebendo patavina o que ele queria.
-Ah! Não tem licença? Então ou paga a multa ou vai preso para o posto!
Impunha-se a lei do espartilho, e por tudo e por nada o pobre povo daquela altura era penalizado por imposições e multas absurdas.”…
Desconheço o seu autor. Foi escrito sob o pseudónimo de “Maria da FONTE”
O tempo era ameno e de repente lembraram-se do Verão onde tantas manhãs foram suas.
Pararam, nada disseram um ao outro, como esperassem que algo acontecesse e de repente toda a Aldeia fosse ao seu encontro.
Já tardam tão cedo as manhãs, que ainda só agora começam, e os seus pés, tão pesados, já não são da viagem…
Finalmente quebraram o silêncio:
- Lembras-te Isabel da queda… no musgo que crescia à beira do curral!
Olharam em redor!
Tudo parecia demasiado pequeno, distante, ao alcance de um braço.
Notei, na quietude, as fragilidades com que tentavam disfarçar a insegurança daquele breve momento.
Então, vi no rosto dos meus pais:
“olhos de água cristalina,
da mais pura nascente da serra,
correndo em levada”
Cheios de recordações, como se mais nada existisse que os fizesse ficar, partiram.
(A meus pais: Isabel Martins de Assunção e José Augusto Simões)
Rogério Martins Simões
Regresso à Aldeia foi escrito há muitos anos numa antecipação ao dia de ontem (18/6/2004).
Tal como versei num soneto, chegou o tempo de concretizar a profecia:
“E regressaram à aldeia no final do caminho”.
Os meus pais, para quem a palavra amor é para mim insuficiente para lhes expressar o que por eles sinto, foram visitar as suas aldeias: A Malhada (Colmeal) e a Póvoa (Pampilhosa da Serra).
Meu pai com 82 anos, não visitava a sua Aldeia há quase meio século,
Hoje, mais que em qualquer momento, faltam-me as locuções e sobram-me as glorificações.
Lisboa, 19/6/2004
Rogério
Poemas de amor e dor
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publicado às 20:18
MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Simões
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
11/4/1975
Todos os poemas deste blog, assinados com pseudónimo de ROMASI ou Rogério Martins Simões, estão devidamente protegidos pelos direitos de autor e registados na Inspecção-Geral das Actividades Culturais IGAC - Palácio Foz- Praça dos Restauradores em Lisboa. (Processo 2079/2009). Se apreciou algum destes poemas e deseje colocar em blog para fins não comerciais deverá colocar o poema completo, indicando a fonte. Obrigado