(Autor Mestre Real Bordalo)
A ESPAÇOS NADA ENTENDO
Rogério Martins Simões
A espaços nada entendo
É como se tudo desaparecesse
Todo o universo se juntasse
E ao mesmo tempo nada existisse.
Quem sou eu afinal?
Que faço eu aqui?
Quem vai ler o que escrevo
Se nada existe ali…
Estarei por certo mal
É como se tudo parasse
E na calmaria só o vento...
-Vento! o que és afinal?
-O vento vira furacão
E faz da cidade um lugar.
Aluga-se o meu pensamento…
Cede-se um espaço ao luar
Penduro-me na cabeça do momento
E vou por aí a navegar
A terra é redonda
A lua está ao alcance da mão
O espaço não se monda
Tudo junto, tudo certo
Céu aberto
Como o meu coração
Que no meu corpo manda
E desanda…
A minha alma vai e vem
Vem! Sou um simples mortal
Quando, sem esperança final,
Toda a esperança se tem...
09-09-2005 20:19
Poemas de amor e dor
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publicado às 00:33
(Óleo sobre tela - Elisabete Sombreireiro Palma)
Se voltasse não mais choraria
Rogério Martins Simões
Gosto dos simples como gosto de poesia.
Até gosto d´ervas que crescem daninhas.
Não gosto de choros e tristezas minhas.
Viver por viver jamais viveria.
Provei o vinho amargo, da amarga agonia,
Feito de fel, alegrias-poucas, dores minhas.
Se voltasse não mais choraria,
Beberia o vinho novo colhido das vinhas.
Como poeta eu seja lembrado.
Num cantar errante mas perfumado.
Volte amanhã de novo a florir.
E serei poema em forma de trigo,
Semente de amor; cantar de amigo,
Para que não mais chore o meu sorrir!
16-05-2005
Poemas de amor e dor
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publicado às 00:01
Não chores por mim, não chores, sabiá…
Rogério Martins Simões
Debaixo do sabiá está um homem a descansar
Dorme, dorme, cortador que sabiá não é pinho…
-Dorme, trabalhador que sabiá te vai abrigar!
-Sabiá onde estás? Oh meu lindo passarinho?
-Toma cuidado oh sabiá não o deixes acordar
Num galho de um sabiá, o sabiá faz o ninho
Vai-te embora oh caçador que sabiá quer pular,
Do cimo do sabiá, para a mata de rosmaninho
Uniram-se os sabiá e o homem ficou ao sol…
Debaixo do sabiá está agora um guarda-sol
Volta sabiá! Canta sabiá que alegria já não há
Eu vi um sabiá com uma semente no bico
Deitou-a a meus pés, eu com ela não fico
Volta a dar sombra sabiá! Vem cantar sabiá!
Lisboa, 13 de Março de 2007
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:11
DIA MUNDIAL DA POESIA
Comemora-se hoje o dia mundial da poesia.
A minha homenagem a todos os poetas conhecidos ou desconhecidos. O meu agradecimento a todos os poetas que doam a sua poesia.
O meu agradecimento a vós todos que, como eu, gostais de poesia.
Como humilde poeta, mas poeta, não posso deixar passar este dia sem que vos diga, que respiro poesia, que amo a poesia, que a poesia faz bem à alma e regenera o corpo.
A poesia é para mim a expressão da alma - a alma de poeta - e se por vezes pareço morrer num verso, ressuscito novamente num canto, - no canto mágico dos poetas.
Hoje é o nosso dia: o dia da poesia e dos poetas.
A poesia é linda!
A poesia é eterna!
Rogério Simões
21-03-2007
SINTONIA
Contigo, aprendi a saber o que é unidade
A ouvir o que não chega ser dito,
A sentir o que tu pensas,
Sabendo que pensas o que sinto…
Aprendi a saber de mim, através do que sei de ti…
Aprendi a conhecer o silêncio
A conhecer o seu dicionário mudo
Apenas pelo olhar,
Não preciso de palavras, para saber de ti
E sei que também não precisas
Porque sabemos o que sentimos…
Aprendi a suportar o mistério que nos une
A força que nos comanda
A energia que sentimos…
Aprendi contigo o valor de sermos “dois” e “um”
Estarmos juntos, estando separados,
Numa integridade única de quem sabe o que quer…
Aprendi contigo e com essa empatia
Que temos ainda muito que aprender
Que rir, cantar, chorar e amar
É apenas o segredo de sermos
Duas almas num só corpo…
MARIA CELIA SILVA
Dúvida
Romasi
Vejo-te ir,
Não vou conseguir chegar,
Se partir…
Vais regressar,
Mas tu já saíste,
E eu fiquei!
Deriva de mim a dúvida
E o conselho a seguir:
Rir de acordo,
Ou acordar a rir,
e ir
Ir por aí
Por onde o meu passo me leva
Atrás de tudo e de nada,
Porque tudo afinal se queda
Estou novamente perdido!
Vi-te partir,
Vais regressar,
Afinal prometeste voltar…
1985
“ O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve
Na dor lida sentem bem
Não as duas que ele teve
Mas só a que eles não tem.”
Fernando Pessoa
POESIA! QUERO NAMORAR CONTIGO…
(Rogério Martins Simões)
Nos tempos de diamante em bruto,
quando o horizonte era a eternidade,
escrevia poemas no universo estrelar.
Nesses tempos de que me lembro bastante,
por não recordar os poemas,
costumava versar as estrelas cadentes e,
pendurado na ponta de um cometa,
atravessei galáxias
onde registei os meus versos.
Certo dia reparei, porque o disseram,
que as estrelas cadentes eram, afinal,
restos de poeiras cósmicas
– Mas eu não acreditei!
Sempre que avistava uma estrela cadente
escrevia um poema.
Era como os devolvessem embrulhados em luz…
- Rogério que fizestes aos poemas?
-Os poemas maiores são todos aqueles
que se soltam das palavras
e tão libertos esvoaçam sem vento,
sem tempo…
Talvez eu veja na poesia
a forma mais sublime
de passar a barreira
da comédia das nossas vidas.
Prefiro as cerejas penduradas nas orelhas.
Beijar a lua
e acordar numa gota de orvalho
manhã cedo de Outono.
Poesia! És tão linda!
Gosto tanto de namorar contigo.
18-09-2006 22:49
Poemas de amor e dor
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publicado às 00:29
(Óleo sobre tela - Elisabete Palma)
VESTÍGIOS…
Rogério Martins Simões
Por vezes faço as pazes comigo,
Sem-abrigo, viajante diurno,
Durmo ao leme, embarco e sigo,
Ponho a minha alma de turno…
Meus medos são cerejas fingidoras
Que se me enrolam nos dedos.
Meus medos são janelas voadoras
Que esconjuram os medos
Não quero esticar a corda
Sigo em frente sem enredos
Cem segredos a minha alma recorda.
Hoje sou um rio sem segredos.
Cego viajo, sem tempo acorda.
Acorda! É dia e a noite remonta!
É estranho viajar de dia!
Prefiro as noites cegas
Sem guia…
Que não têm regras.
Hoje, sou um farelo amadurecido!
Sou um tempo de milho
Bem-parecido
Mas só a noite me encontra!
23-10-2006
Tio Rogério
( TIAGO SIMÕES )
Tens um olhar sublime como o mar um gesto sereno como a brisa do vento um abraçar como a luz do sol as palavras como água de nascente. Num gesto transformas muito porque tens alguém junto a ti que é como a areia molhada pelo mar como o doce cheiro da terra no Outono como um campo de flores quando a Primavera chega.
17/12/2006
(obrigado Tiago, meu sobrinho, pelo poema que deixaste em forma de comentário. A Bete e eu agradecemos as tuas lindas palavras.
Fico à espera de poemas teus e de fotos dos teus quadros.)
E para que conheçam um pouco da sua arte - eis este belo quadro, que adquri em 2000, em que o Tiago foi co-autor )
Rogério Simões
Poemas de amor e dor
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publicado às 21:41
EUGÉNIO DE ANDRADE
Lenço alvo... acena
Na cena da despedida
Lírio do campo
Minha alma açucena
Toda vestida de branco
Por ti
Pudesse eu juntar-te rosas...
Às tuas orquídeas e frésias...
É ainda Primavera!
Dou-te um cravo vermelho
Colhido na minha cidade.
É tarde!
Não vai chegar a tempo...
Não ouvirás falar de mim
Encarnado na resistência
Entre fragas e falésias...
Poeta menor, assim.
De génio e claridade
É a tua poesia
Minha alma açucena
Toda vestida de branco
Por ti
Eugénio de Andrade
14/06/2005
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:47
A derradeira oração marca uma época da minha vida.
A guerra colonial estava a marcar profundamente a minha juventude e as cicatrizes nos corpos das vítimas inocentes enlutavam as famílias.
Católico praticante, militante na Juventude Operária Católica, não concebia, devido aos ensinamentos e à minha consciência, ter de pegar numa arma para matar. Daí as contradições. Por um lado o ensinamento Cristão - não matar; por outro lado era-se obrigado a pegar em armas para salvar a pele.
DERRADEIRA ORAÇÃO
Romasi
Senhor meu Deus,
para aqui ando a combater
nesta horrível e tremenda guerra
e que tenho de matar
para salvar a minha terra,
perdoa-me!
Antes não quero viver
que ser vil assassino.
Como tantos demais…
que mataram nossos pais,
e nos querem matar a nós.
Levai-me,
Dai-me a morte
Levai-me para junto de vós.
No meu capacete de aço já furado,
Com sangue derramado,
outra bala bate com furor.
Se mais abaixo fosse
já não existiria
e tudo acabaria.
Mas que contas Vos haveria de dar
Que fizera eu para este mundo salvar
Se me tinha acobardado?
Nada!
Antes quero morrer
A ver alguém perecer
Com uma praga na boca
Por eu o assassinar.
De novo outra bala me bate.
No peito uma mancha de sangue.
Caiu no chão!
Estou exangue!
Minha vida já findou!
Tudo está acabado!
Já não sinto o coração.
Já nem posso rezar
a minha última oração.
22/08/1968
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:18
(Óleo sobre tela Elisabete Sombreireiro Palma)
Alentejo, debruado a Arraiolos
Rogério Martins Simões
Na dourada planície alentejana,
Onde o sol penetra e tudo teima,
A falta de água, mísera e insana,
Quebra a vontade, abate e queima.
Nessa imensa e dourada pradaria,
Onde o vento de suão seca a cortiça…
Leva consigo, numa lenta agonia,
O suor a que chamam de preguiça.
Mas, o Alentejo, é belo e majestoso!
Quem o ama, chama-lhe de formoso.
Quem parte, volta!, nunca diz adeus.
Por isso há sempre vozes em coro.
Canto alentejano em vez de choro.
A alma alentejana é força de Deus!
19-04-2005
Poemas de amor e dor
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publicado às 00:36
(Foto Padre pedro)
EIS, AQUI, UM HOMEM!
Romasi
Rogério Martins Simões
Eis, aqui, um homem,
nos passos vazios da história,
na penumbra do esquecimento,
objecto, e falsa lamúria,
dormitando numa toca de rato…
Eis, aqui, o homem:
Estátua nocturna;
abandonado à chuva,
fruto desta sociedade moderna,
que o transforma num pato…
Eis, aqui, e por todo o lado,
seres humanos sem idade,
(iguais na desigualdade),
vergonha da indigesta sociedade
que na ganância engole o prato…
E se ao fim do dia
sobrarem os jornais,
com que se cobrem os indigentes,
e os demais,
que desçam dos pedestais
oh insanas gentes:
- P´ro relento como dorme o gato!!!
Lisboa, Fevereiro de 1975
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09 )
Poemas de amor e dor
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publicado às 20:16
Água Salgada
Rogério Martins Simões
Tenho sede...e sofro
É em vão a minha dor.
A vida acaba
Quando espero o seu começo.
Triste, já cansado,
Fatigado de andar
Busco água
No oceano da vida.
Retiro-me, procuro o mar
Mergulho…,
Afogo a minha sede de vida!
E morro…
Olhos salgados de mar…
Novembro de 1968
Poemas de amor e dor
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