BOCAGE - MANOEL MARIA BARBOSA HEDOIS DE BOCAGE, Guarda Marinha da Armada do Estado da Índia
MANOEL MARIA BARBOSA HEDOIS DE BOCAGE
A bem da cultura e da língua portuguesa, tenho a honra de dar notícia que foi encontrado o Livro da "Casa da Índia" onde se encontra registado o Decreto da Rainha Dona Maria I, datado de 31 de Janeiro de 1786, a nomear o grande poeta português, MANOEL MARIA BARBOSA HEDOIS DE BOCAGE, Guarda Marinha da Armada do Estado da Índia.
Este precioso registo encontra-se no livro
Graças à actual direcção da Direcção-Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais Sobre o Consumo este e outras centenas de livros com muitos séculos - desde o século XVI - estão, e bem, a caminho do local onde há muito deveriam estar – a “Torre do Tombo”.
Os homens da ciência, que se dedicam ao estudo das diferentes matérias, vão ter aqui muito por onde começar.
Rogério Martins Simões
Original
Livro 19
Página 81
Dona Maria por Graça de Deus, Rainha de Portugal e dos Algarves dáquem e dálem mar em Africa Senhora da Guiné e da Conquista Negociação Comércio da Etiópia Arábia Pérsia, e da Índia Nossas.
Faço saber aos que esta Minha Carta Patente virem: que Eu hei por bem fazer mercê Manoel Maria Barbosa Hedois de Bocage, de o nomear Guarda Marinha da Armada do Estado da Índia; Com o qual posto haverá o soldo que lhe tocar, pago na forma de Minhas Reais Ordens, e gozará de todas as honras, privilégios, liberdades, isenções, e franquezas, que em razão dele lhe pertencerem. Pelo que mando ao meu governador, e Capitão General do Estado da Índia, conheça ao dito Manoel Maria Barbosa de Bocage, por Guarda Marinha da Armada do Sobredito Estado, e como tal o honre estime, deixe servir e exercitar o dito posto, e haver o soldo como dito é; e às pessoas que lhe forem subordinadas, Ordeno que em tudo lhe obedeçam e que cumpram as suas ordens, quer por escrito quer verbais, naquilo que tiver a ver com o meu real serviço, como devem e a isso são obrigados; e ele jurará, da forma como é costume, de que se fará assento nas costas desta Carta Patente, que para tudo legalizar, Eu mandei escrever e por Mim foi assinada, e selada com o Selo Grande das Minhas Armas,
Dada na Cidade de Lisboa a 04/Fevereiro, Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de 1786= A Rainha = O Conde da Cunha = Patente porque Vossa Magestade há por bem fazer mercê a Manoel Maria Barbosa Hedois de Bocage, do o nomear Guarda Marinha da Armada do Estado da Índia, Como nesta Carta se declara = Para Vossa Magestade ver = Por Decreto de Sua Magestade, de 31/01/1786 = o Secretário Joaquim Miguel Lopes de Lavre a fez escrever = João Carlos Finali. a fez = regimentada a folhas 195 do livro 44 dos ofícios desta Secretaria do Concelho Ultramarino. Lisboa 15/02/1786 = Joaquim Miguel Lopes de lavre = Fica assente esta patente nos livros das Mercês, e pagou 2400 reis = Pedro Caetano Pinto de Morais Sarmento = José Rical de Pereira de Castro = pagou 540 reis, e aos oficiais 2138 reis. Lisboa 18/02/1786 = Dom Sebastião Maldonado = Regimentada na Chancelaria Mor da Corte e Reino, no Livro de Ofícios, e Mercês, folhas 316 verso, Lisboa 18/02/1786 = Mateus Roíz Viana = Despacho do Provedor = Registe-se nesta Casa da Índia, Lisboa 02/03/1786 = Dom José Joaquim Lobo da Silveira.
(Transliteração da autoria do meu colega e amigo Fernando Eduardo Gonçalves Sanches da Silva)
2ª folha
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez perdendo o Tejo
Arrostar co sacrílego gigante:
Como tu, junto ao Ganges sussurrante
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante:
Ludíbrio, como tu, da sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura:
Modelo meu tu és... Mas, oh tristeza!...
Se te imito nos transes da ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.
Bocage
Já por bárbaros climas entranhado,
Já por mares inóspitos vagante,
Vítima triste da fortuna errante,
dos mais desprezíveis desprezado:
Da figueira esperança abandonado,
Lassas as forças, pálido o semblante,
Sinto rasgar meu peito a cada instante
A mágoa de morrer expatriado:
Mas ah! Que bem maior, se contra a sorte
Lá do sepulcro no sagrado hospício
Refúgio me promete a amiga Morte!
Vem pois, oh nume aos míseros propício,
Vem livrar-me da mão pesada e forte,
Que de rastos me leva ao precipício!
Bocage