Pára
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(óleo sobre tela Elisabete Maria Sombreireiro Palma)
ANTES
Na prosa um poema
Na solidão dele uma prisão
Na prisão o grito esvai-se pelas grades...
Cá fora corações perros...
Encerram a morte dos poemas
romasi
5/02/1969
Quisera eu ser poeta, um poeta sem nome ou raça.
Apenas um poeta
Gostaria de cantar coisas doces, mas só me saem palavras beliscadas
Com formas aguerridas e duras de roer.
Queria ser livre! Para ler e estudar, mas não consigo
E na minha tristeza
Este meu findar
Este meu esquecimento
romasi
1972
1974
RENOVAÇÃO
ROMASI
Se há algo que não concordo
É da injustiça e do medo
Das torturas que me recordo
Dos homens que partiram cedo
Atraídos à cilada
Despedaçados com matracas
Por discordarem da vida
Que levavam nas barracas
Só pediam pão, só isso!
E um pouco de educação
Só queriam paz e justiça
E o fim da opressão!
Fugiram, os que puderam,
Para França ou para qualquer lugar
E foi lá que souberam
Que podiam regressar.
Aqueles que escaparam à morte
Que para África foram lutar
Desfilaram cantando a sorte
Por poderem regressar
E no 1º Maio fizeram a festa
Que há muito estava proibida
Não há festa como esta
De chegar à liberdade com vida:
“Maio dos bravos,
Maio primaveril
Nascem viçosos os cravos
Do vinte e cinco de Abril.
1974
Um dia depois
26 de Abril de 2008
Este é o meu protesto!
A liberdade está a ficar cercada e os nossos votos de nada servem. Os nossos sonhos viajantes estão a ficar cansados. Onde estão os valores de Abril?
Que futuro podem ter os jovens com trabalho precário?
Serão de facto velhos os desempregados com 40 anos de idade?
Qual a razão que assiste, a quem nos governa, para não respeitarem os compromissos assumidos com os seus eleitores?
Por que fecham os hospitais sem alternativa?
Por que razão mudaram as regras da aposentação?
Se nos aumentaram o tempo para alcançar a reforma, é por que nos querem, nos nossos postos de trabalho, até mais tarde.
Nada mais falso! O que querem é reduzir os montantes das aposentações!
É por isso que nos incentivam a ir para a reforma mais cedo. Qual a razão para nos anunciarem a pré-reforma? Não! Estes senhores apenas querem retirar direitos adquiridos e antecipar reformas com penalização.
Qual a penalização nos vencimentos dos políticos?
Será que o político tem uma profissão de desgaste rápido?
Onde estão e por onde param esses profissionais quando saem da política?
Será que ainda posso protestar?
Ontem fui um dia igual aos outros. Ah! Não é verdade! Ontem ergui o meu copo, do mais sublime néctar, aos militares que me restituíram a liberdade.
SEMPRE
ROMASI, desculpem! Dizem que ainda há liberdade,
Sempre,
Rogério Martins Simões
(Óleo sobre tela - Elisabete Maria Sombreireiro Palma)
(2008)
POESIA OU TALVEZ NÃO EM DIA MUNDIAL DA POESIA!
VIVA A POESIA!
POESIA
Rogério Martins Simões
Os poetas são operários da caneta
E trazem pensamentos errantes
que debutam no papel.
Serei poeta?
Que papel nos estará reservado?
E eu que nada sou,
serei o que o destino quiser,
porém, sou poeta!
Um poeta sonhador
a quem, tantas vezes,
lhe roubaram os sonhos.
Hoje estou nesta!
Mas, não irei desistir
de a escrever
ou de a chorar!
Hoje, apetece-me reflectir!
Não irei escrever poesia!
Aditarei palavras,
com palavras que
tenho espalhado por aí…
Que farei com os meus versos?
Sentir-se-á o lixo desconfortável,
com o seu peso?
E se os mandasse, mesmo, para o lixo?
- Não suavizariam o mau odor
que anda de altos…saltos?…
E na minha Pátria
quem liga à poesia?
Pouco me importa
que não tenha expressão!
Que pouco se fale de poesia.
- E se, em vez de medalhas,
medalhassem
com poemas Lusíadas
ou com versos de Caeiro?
Quantos conhecem a lírica de Camões?
- As chamadas elites culturais?
No meu caso,
nada de elites - sou povo!
Como é enorme o povo em – Pessoa!
Meu pai, meu mestre,
enchia-nos o prato
com saborosos poemas:
os seus e dos grandes poetas.
Mas isto é pelintrice
e pouco importa.
Importa é estar na berra.
Importa é mandar umas tretas
para que o povo se entretenha e não pense.
Ai quando o povo acordar!
Por mim não quero que pensem!
Tudo mudou!
Sem poesia
o mundo é menos sonhador,
é mais desumano!
Quando se escreve poesia
não se está só,
não estamos sós!
A poesia enche-nos a casa
de lágrimas
ou de sorrisos!
A Poesia reverte os sonhos desfeitos
em estrelas cadentes
para voltarmos, de novo, a sonhar.
Estaremos sós
quando as paredes
emparedarem
os pensamentos
e nem uma só lágrima se verta.
O que é a poesia?
O que é ser poeta?
A poesia é a magia
que espreita a ponta dos dedos
esborratados de tinta…
Ser poeta é quase morrer
e renascer
num canto ou num verso.
Paro! Tenho de parar!
Porque amanhã voltarei à rotina,
e sem rotina
não podemos viver.
Todos andamos num carreiro.
Para cá, para lá
sem saber ao que vamos.
Andamos,
corremos,
pensamos.
Como fazer para sobreviver
se não vemos!
Como podemos ver,
se nada há para ver.
E se vemos?
Poderemos parar para reflectir?
Deixam-te reflectir?
Que reflexão,
fazemos das nossas vidas?
Quantas televisões temos em casa?
Quantos tabuleiros se enchem de pratos
no desconforto da mesa vazia,
que esfria,
na espera?
Crescerá o bolor no pão que não sobra?
Que desconforto quando não há poesia!
ROMASI
SANTA PÁSCOA
Voltei a escrever e já não queria
Voltei a escrever e já não queria
Pensava ter esquecido este meu versejar
Ser poeta é criar e sofrer todo o dia
Passar ao papel o que a alma encontrar.
Este estado de alma que já não ousaria
Que nos faz sofrer, para me encontrar,
Deixa o meu corpo quando escrevo poesia,
Nos poemas que ela cria, para me libertar.
A ti que mais amo e sem querer
Se fico triste e te faço sofrer
Rosa eu te quero, rosas eu te dou.
E se tu me vires distraído ou disperso
Uma única coisa eu imploro e peço,
Espera! A minha alma não regressou.
Lisboa, 16 de Abril de 2004
MENTIA SE TE DISSESSE QUE MINTO
Rogério Martins Simões
Mentias se me dissesses… que pinto…
Não me esforço, peço ajuda, e tu vais
Ajeitas-me o nó da gravata… e o cinto.
Teus passos para mim são sempre mais…
Mentia era se eu dissesse que minto,
Que do meu corpo já não saem vendavais
Que os pés já me pesam e não os sinto
E que os meus passos para ti são demais.
E se te peso ao de leve e não quero
Tu bem sabes a razão do desespero
Não seja tamanha a razão do repeso
Pois se quis voar na ode de um poema
Irás encontrar em meus versos alfazema
Antes fosse manha a razão do meu peso.
10-08-2005 23:31
(Além de nós havia um tempo...)
Quando o teu corpo adoçava o tempo
Rogério Martins Simões
Quanto no teu olhar
reluzia a sedução,
cristais acenavam
em teu corpo
descoberto
E o meu corpo
Em teu corpo
Adoçava.
Era um só corpo
que abraçava
a todo o tempo
quando o tempo
contigo dançava…
num sémen,
onde o desejo
não era abstracto
e recomeçava.
Além de nós,
havia um tempo
que anunciava
um vento criador
e uma ligeira brisa
separava
nossos corpos do fogo…
Depois eras a diva
num período de advento
e trazias no teu corpo
estrelícias
de chuva e vento
E a terra revestia-nos
de volúpia
para que
recomeçássemos:
Suspiros
da procriação
misturavam-se
em cores férteis,
nos corpos nus
- cio da natureza,
entreaberto…
Depressa a natureza
descobriu
desvarios
sem tempo
de um tempo
de germinação
e não mais o vento
te esfriou o calor
que te avermelhou
o rosto...
em contratempo.
Que rápido
passou o tempo
através de nós:
momento
a momento
quando no teu corpo
adoçava o vento…
Lisboa, 05-11-2007 22:44
(Foto minha com 22 meses, 1950)
ARREPIAM-ME AS LEMBRANÇAS Rogério Martins Simões Arrepiam-me as lembranças Das manhãs descalças… De um corpo fino De um bibe com alças: Memórias de um tempo menino. Sou alérgico às memórias ingratas! Clarabóias deixam passar a luz, Que derrete o gelo indeciso Por onde passou um tempo preciso, Das coisas belas e gratas. Sou um vestígio dos umbrais Que sustêm o peso dos meus sonhos. Tento viajar com os olhos cerrados Por um campo milho verde Com bandeiras a tocarem o céu… Vou jejuar! Não comerei os figos Bicados pelos gaios… Procuro na horta os abrigos Onde a distância dos Maios, Dissipam as canas dos trigos… Toquei na colmeia por querer! Sou um sopro de saudade Favo de mel com a minha idade Picado de abelhas ao alvorecer… Cheguei ao fim dos silêncios Onde as memórias são silenciosas. E os silêncios para contemplar… Quem vos disso Que tinha de atalhar os caminhos Na horta adulta… Se me resta um pedaço de água pura E um púcaro vazio para a apanhar…. Lisboa, Tejo, 18 de Outubro de 2007 UM NOVO ANO DE 2008 MUITO FELIZ PARA TODOS OS POVOS DO MUNDO Deseja, Rogério Martins Simões. Visitem o site que criaram para a minha poesia e vejam a arte do amigo Luís Gonçalves. Deixem um comentário ao autor do site que teve e terá imenso trabalho. Obrigado a todos! http://www.romasi.netpampilhosense.org
(Óleo sobre tela Elisabete Sombreireiro Palma)
O TEMPO VOA
Rogério Martins Simões
O tempo voa.
Que voe,
e nos deixe amanhecer mais tarde…
com os nossos corpos colados
no tempo.
Na leveza deste tocar breve,
que roça os nossos sentidos
e tem tanta beleza.
O tempo voa.
Que voe,
mas não apague
este ardor que arde
Prazer incontido que nos torna carne,
Com os nossos corpos molhados
Entre lençóis de linho.
O tempo voa.
Regressam as nossas recordações
de mansinho…
15-08-2006 22:15:18
(Poema inédito neste blog)
( Elisabete Sombreireiro Palma a pintar)
Segredos, meu amor
(Rogério Martins Simões)
Segredos, meu amor
Hoje te quero revelar!
Se pudesse te daria o mundo:
A eternidade, meu amor profundo
Os poemas de amor - sem dor
Num canto belo se soubesse cantar!
Cantar, cantavas tu…e tão bem!
Pintar é a tua actual inspiração!
Reservo para ti também:
A poesia! Meu amor-perfeito;
Tempo de pausa e meditação!
A fantasia de alguém
Imperfeito!
Carente, terreno e pensante!
E se em momentos de inspiração
Parto por aí algo errante
Numa completa e intemporal dação
(Mas quente e vertical entrega)
Seja breve e que encante!
Minha alma nesse instante sossega.
26-05-2004 23:29
(Óleo sobre cartão Elisabete Sombreireiro Palma)
PIOR QUE A DÚVIDA
Rogério Martins Simões
Pior que a dúvida
É o silêncio
quando o silêncio pesa
Pesam as palavras
Não há certezas
A única certeza é a morte
E na dúvida
Ressoam os pensamentos.
As inquietações
O azar ou a sorte
É como se não existissem
soluções
Jogamos todos os dias a roleta…
E, estranhamente,
Quando estamos na valeta
O tempo passa lentamente
- Tão devagar que o tempo medra…
É como que se conservasse uma pedra
no sapato
Lancei fora tantas vezes a pedra…
E no ricochete
Vaporizei pó
e de novo se fez pedra
(Óleo sobre tela Elisabete Sombreireiro Palma)
DIZER PARA QUÊ?
Rogério Martins Simões
Dizer para quê?
Falar para quê?
Sentir para quê?
Viver para quê?
Faço perguntas:
Sem falar!
Sem sentir!
Sem viver!
Solto o meu ouvido
E o meu olhar de lince
À procura de resposta:
Sem falar!
Sem sentir!
Ou viver!
E por mais que pergunte
Sem dizer
Não consigo ver…
Falar!
Sentir!
Ou viver!
1979