PÁRA
Rogério Martins Simões
Segredaste-me tantas palavras,
Esta noite meu amor,
Quando no quarto imperava o silêncio!
E disseste tantas coisas,
Em silêncio,
Que nada ficou por dizer!
Tu sabes que eu gosto do silêncio!
De respeitar o silêncio,
Mesmo que ele incomode.
Incomodam-me
Mais os estados de “não alma”,
Que perturbam o silêncio,
Com palavras ditas de forma não calma.
Eu sei que não conheces
As “não palavras:
Que me ferem os tímpanos,
Que não acalmam!
Que me pulverizam o silêncio
Aniquilando o alento!
Que me cortam a respiração
E me deixam frustrado,
Cabisbaixo,
Adiando ou extinguindo
Para sempre a inspiração!
Que génio teriam os poetas
Se lhes parassem a respiração,
O pulsar e a pena?!
De que forma?
Com que sentido,
Teriam estas palavras,
Se as minhas palavras
Fossem desprovidas de qualquer sentido.
Sentidas foram as tuas palavras
Quando me disseste,
Sem falar,
Estas palavras:
Pára de escrever!
Porque as palavras te fazem sofrer!
Pára, vem descansar!
Para o corpo retemperar!
Mas meu amor
O meu descanso
Está nas palavras que não comando!
E se sofrer eu sofro
Escrevendo
Pior sorte seria
Não escrever chorando.
17/05/2004
Poemas de amor e dor
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(Óleo sobre tela Elisabete Sombreireiro Palma)
Bendita Sejas mulher
Rogério Martins Simões
Nos caminhos que trilhamos renascidos
Certamente já esquecemos a distância
Que prolongam os caminhos percorridos
Irás encontrar na minha ânsia
Estes trilhos marginais mas tão sofridos
Não me fico por silêncios
Mas, meu amor, eu te digo
Bendita sejas mulher
A eternidade é estar contigo
Bendita o sejas por ser
A razão do meu viver
Os ventos são adversos
Maior porta de abrigo, eu, não vi
Terá o céu no acaso
Tamanha luz no firmamento
Sem ti?
Repara no sentido dos meus versos
São cartas de amor que não escrevi…
Palavras adultas fora do prazo,
Construídas no encantamento,
Sem pressas, aqui!
Por isso, de novo, te digo
Bendita sejas mulher
A eternidade é estar contigo
Bendita o sejas por ser
A razão do meu viver.
24-11-2005
Poemas de amor e dor
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CORRO
Rogério Simões
Corro!
Meus olhos correm
E não me mexo.
Mexe-me o silêncio e a grandeza
Do pensamento
Que não morre,
Voa,
Late na nuca,
Na testa e no peito.
Não sei, há quanto tempo parti…
Mas que jeito!
Tenho de por tudo na ordem
Não posso estar a sonhar!
Fogem os cabelos na desordem,
E nem sei se estou vivo ou a acordar.
Corro!
Meus olhos correm,
E não me mexo.
Mexem-me as lembranças
Sofridas
E mal resgatadas,
De mil vezes repetir
Volta tudo a reunir!
Quem?
Como irei convidar quem esqueci,
Se já não os conheço!
E meus filhos
Que os vi crescer, sem ver…
Porém,
Tudo parece estar certo,
Porque tudo está registado!
É como que tivesse uma cábula,
Uma lista de convidados,
Um manual de projectos.
Não! Não quero, nem posso admitir…
Tudo não passou por um sonho
E eu não estava a dormir!
3/8/1999
(Caderno Uma Dúzia de Páginas de Poesia n.º 41)
INDEX_POESIS)
Poemas de amor e dor
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15 de Julho de 2007
Aniversário
de
Maria Efigénia Coutinho Mallemont
Querida amiga Efigénia parabéns pelo seu aniversário.
São os votos deste seu amigo e humilde poeta,
Rogério Martins Simões
Como somos poetas nada melhor que um poema do meu poeta preferido - Fernando Pessoa:
ANIVERSÁRIO
Álvaro Caeiro
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui - ai, meu Deus! o que só hoje sei que fui...
A que distância!
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minha lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muita coisas - doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado -
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me os dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
(Óleo sobre tela Elisabete Sombreireiro Palma)
Efigénia Coutinho e Rogério Simões
ESPERANÇA Efigênia Coutinho
Caminho por mapas de esperanças um Amor Futurecido, vou sonhando encontros certos, abraçando todo este Universo de versos sentidos!
Vive ao meu redor arpejos sibilinos do salmo da vida, presa estou neste Cristal, entre enigmas, dum sonho livre, bordando pelos ares anêmonas
Olho para o Horizonte, vejo um tênue véu de Esperanças, adornando, secretas nuvens de fogo e incenso
onde Deuses pairam em silêncio!
Ali, ajoelho-me, cruzam-se os sonhos, encontros das almas que dançam enamoradas, roçar de beijos noturnos, traçam seu Futuro na esfera Esperança!
(Brasil)
ESPERANÇA
Rogério Martins Simões
Entrelaço os meus dedos nos teus
Vivas ilusões, ténues lembranças
Foram inatingíveis os versos meus
Outono breve, poucas esperanças
Ateámos o fogo nas estrelas dos céus
Mapeávamos nossos corpos de danças,
Encontros e desencontros não são réus
Presos não estamos, procuro mudanças.
Agora, adorno enigmas, bordados de cruz
Cintilam horizontes de esperança e luz
Meu fogo arde no mais puro cristal
E se na alquimia busco a perfeição
Respondo às interrogações do coração
Descubro no amor a pedra filosofal.
Lisboa, 02-10-2006 23:58
Portugal
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Rogério Simões
3 meses
(5/7/1949 - 5/10/1949)
VOLTEI!
(Rogério Martins Simões)
Venho dos limites do tempo
De uma galáxia qualquer
Já fui mar, já fui vento
Agora sou pensamento
Aparado em dado momento
No ventre de uma Mulher!
Meu corpo é magistral!
Brutal! Perfeito! Soberbo!
De início não era verbo
Agora sou o verbo ser
Tenho comigo segredos
Segredos do universo
Transporto no corpo recados
Escrevo em forma de verso.
Venho dos limites do tempo
Não sei o que fui e sou:
Deserto? Nascente?
Já fui Norte, já fui Sul
Pó astral, mar azul!
Luar, estrela cadente.
Eu me vou!
Partirei num cometa qualquer
E serei novamente pôr-do-sol.
Cor-de-rosa, aloendro, malmequer!
Voltei...Já cá estou…
Agora sou pensamento
Nascido em dado momento
Do ventre de uma Mulher!
23-09-2004 18:39
Aldeia do Meco
(Este poema foi gravado em MP3 pelo Luís Gaspar nos Estúdios Raposo – para o programa “Lugar aos novos” – e pode ser copiado seguindo o link no lado direito.
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(óleo sobre tela Elisabete Sombreireiro Palma)
ÀS HORAS NA BATOTA POR AMORAS
(Rogério Martins Simões)
Andámos tanto tempo agarrados às horas
Pendurados nos ponteiros e fazíamos batota
Quando amarrados às doze comíamos amoras
Das regras do tempo fazíamos letra morta
Por vezes os meios-dias eram vagabundos
Voltávamos a encontrar as seis e meia
Não deixávamos abalar os segundos
E quando logravas partir era lua cheia…
Sem ti nos ponteiros o relógio parava
Quando o ponteiros despiam as horas
Não havia horas, sempre te encontrava
Hoje vi-te à janela eras toda cidade
Percorriam o teu corpo
as vielas da madrugada
E trazias nos cabelos a noite
Espreitando a tua lua sorridente…
Justamente hoje!
Quando me apeteciam as amoras…
26-10-2005 23:19.
(Poema dedicado a Natália Correia)
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(Foto de Padre Pedro - Pampilhosa da Serra 20006)
MADRUGADA
(Rogério Martins Simões)
Na Madrugada,
Quando as estrelas nos chamam do céu
Quando a lua sobe o céu a pique
Quero estar só, todo o universo é meu!
Sussurro ao escrever-te
Cercado de luar
De mãos dadas os dois...
Que importa o que está certo
Se os beijos regressam depois.
Madrugada!
Quero-te por perto!
Madrugámos submersos em nós
Esquecemos os dias, trocámos afectos
Noites de volúpia que passam discretos
Rumo ao prazer numa nave veloz
Atrevo em dizer-te
Que o sol perdeu calor,
Que a chuva não tem mais pranto!
Beijo-te a noite oh minha amada
Ditoso só por te encontrar
Que seria de mim sem essa estrada…
Madrugada!
Não deixes a manhã chegar.
E quando as estrelas
Me chamem de novo do céu
Quando a lua desça de novo à vela
Madrugada!
Quero estar só,
Quero estar contigo
Pois só de vê-la
Todo o universo é meu…
Lisboa, 22 de Maio de 2006
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DUETO
Efigénia Coutinho – Rogério Simões.
Há pouco este teu humilde e amigo poeta, desesperado, batendo lentamente no teclado com a mão direita, agonizava e jurava que iria parar de escrever poesia.
Mas o teu lindo poema “puxava” e sem querer, sem que desse por isso, (até a mão esquerda concordou) escrevi um dueto ao teu destino ou coragem, ao nosso destino, à nossa coragem.
Destino ou Coragem
Efigênia Coutinho
Segue cego teu destino
transponha na coragem
e com extrema peripécia
deixa fugir o pensamento!
Descreve a realidade como
um sonho inclinado, qual um
barco a bombordo na vazante,
escrevo na sombra do sonho...
Como negociar com o "destino"
e jogar o grande jogo da Vida!?
Não esquecer a outra metade do
pensamento, que é a "coragem"!
O destino é pragmático paradoxal
A coragem é oximoro, oposta do
destino, que aguça as vertentes.
Vou com as duas ao Olimpo...
Camboriú 2006
BRASIL
Destino ou Coragem
(Rogério Martins Simões)
Deixei para trás o meu ego
Deixei o sonho segurar o tento…
Quis Deus ou o destino cego
Que o destino fosse tormento
Ao sonho e à coragem me apego
Gavião deixa passar o vento…
Sou náufrago em desassossego
Destino ou coragem sustento.
Não! Não mais quero o desespero!
Não negoceio contigo e não quero!
Sou trama e urdidura forte…
E se o destino a coragem revela
Partiremos juntos num barco à vela
Pois na coragem se combate a sorte…
Lisboa, 29-08-2006 22:36
Poemas de amor e dor
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DEGAS
Ciclo fechado!
(O MEU SEGUNDO GRITO!)
Rogério Martins Simões
Se o teu rosto não sorri,
E o teu cabelo não desliza,
É porque a tua boca se encerra,
E a minha não será precisa…
O gesto, o medo, o ódio
Tudo te corrompe
E até não preciso de ponte
Encheste-me a baliza…
Espalhou-se a brisa
Abriu-se a porta de vidro
A janela da esperança
E o vento até desliza.
Mas se ao menos
O teu rosto sorrisse
E os teus cabelos se soltassem
Voltarias a encontrar
Os melhores passos para ti.
Porque o melhor de ti, fui eu!
Que adoecia dizendo olá!
O melhor de ti, fui eu!
Que te segurei, quando fugias
Ou então sempre errei
Quando te amparei
E tremias.
Não!
Nada sobrou de mim
Não me faças sentir assim
Pois tudo agora findou.
Sabes!
Tudo é nada
Quando nada começa!
E o fim não existe
Se não há princípio.
Para quê essa pressa!?
Se o inicio era nada,
E tudo foi retalhado.
Nefasto é o sofrimento
Quando não há, sequer, sentimento!
Se assim não fosse
Poderias dizer, ao menos, como eu
Longe!
Muito longe de ti.
Olá!
Olá poeta!
Não fiques desesperado
Não faças nada apressado!
Não!
Não penses sequer
Que te quero!
Quem quer o nada
Se nada tem?!
Tu não vês que não há regresso
Quando não há ponto de partida
E tu nem entendes a chegada...
Olha!
Eu tinha um guizo
Cabeça de andorinha,
Que corria atrás do vento
Ao desafio com as aves.
À procura de outras asas!
E voava, voava…
Voava sem ser preciso.
Chamavam-lhe cabeça de vento…
Certo dia fugiu
Voou numa folha de papel
Toquei novamente o guizo,
E tantas vezes subiu
Que se partiu o cordel.
Sabes!
Agora quero sorrir!
Tenho gosto, tenho vida!
Despejei a selha de lágrimas
Encontrei-me
no corpo ausente
E num arco-íris
Descobri manhãs
Com que sonhei e sempre quis.
Afinal estou magoado!
Porque fui muito infeliz!
Mas… não há dúvida:
Ainda serei feliz!
1989
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(Óleo sobre tela Elisabete Sombreireiro Palma)
Regressaram as papoilas
Rogério Simões
Do Alto, ao Baixo Alentejo,
Regressaram as papoilas vermelhas
Ao chão seco pastorejo
Num tapete debruado, a Arraiolos,
Que se estende num manto,
Ondulado, como ovelhas,
19-04-2005 18:34
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