Poema suave
Rogério Martins Simões
Venham as flores,
Neste nosso verbo amar,
Que as folhas estão caindo.
As dores estão sentindo
Uma criança chorar…
Venham as flores,
E os frutos por colher.
Que as dores estão sentindo
Os homens que vão partindo
A chorar e a sofrer.
Venham as flores
E o outono vai passar
Que as dores estão sentindo
A primavera a chegar.
Venham as flores
Que milagre é nascer
Que as dores estão sentindo
As folhas novas crescer….
Venham as flores,
E a alegria de viver!
Lisboa, 1989
(Registado no Ministério da Cultura
Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C.
Processo n.º 2079/09)
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:32
PÁRA
Rogério Martins Simões
Segredaste-me tantas palavras,
Esta noite meu amor,
Quando no quarto imperava o silêncio!
E disseste tantas coisas,
Em silêncio,
Que nada ficou por dizer!
Tu sabes que eu gosto do silêncio!
De respeitar o silêncio,
Mesmo que ele incomode.
Incomodam-me
Mais os estados de “não alma”,
Que perturbam o silêncio,
Com palavras ditas de forma não calma.
Eu sei que não conheces
As “não palavras:
Que me ferem os tímpanos,
Que não acalmam!
Que me pulverizam o silêncio
Aniquilando o alento!
Que me cortam a respiração
E me deixam frustrado,
Cabisbaixo,
Adiando ou extinguindo
Para sempre a inspiração!
Que génio teriam os poetas
Se lhes parassem a respiração,
O pulsar e a pena?!
De que forma?
Com que sentido,
Teriam estas palavras,
Se as minhas palavras
Fossem desprovidas de qualquer sentido.
Sentidas foram as tuas palavras
Quando me disseste,
Sem falar,
Estas palavras:
Pára de escrever!
Porque as palavras te fazem sofrer!
Pára, vem descansar!
Para o corpo retemperar!
Mas meu amor
O meu descanso
Está nas palavras que não comando!
E se sofrer eu sofro
Escrevendo
Pior sorte seria
Não escrever chorando.
17/05/2004
Poemas de amor e dor
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publicado às 01:00
(óleo sobre tela de Elisabete Sombreireiro Palma)
ENVOLTA EM SILÊNCIOS E FLORES
(Rogério Martins Simões)
Envolta em silêncios e flores
Como se as flores te cobrissem de pétalas
Eu te chamei deusa.
Quando o meu olhar era de cristal.
Percorriam os teus seios, colar escarlate,
Desvarios recortes de porcelana
Estavas linda!
Partilho estes jardins de sombras
deliciosas
Contagiam-me as serenas manhãs,
os frutos selvagens
e enamoro-me das estrelas.
Noite fora sou um viajante
Percorro silêncios,
escuto os meus passos nas vielas.
Que seria de mim se não te
reencontrasse!
Sabes a morango selvagem!
Sabes a cravo e a canela!
Se partir voltarei
Envolto em luz
Te cobrirei de pérolas
(Te chamei de musa)
E serei como a brisa,
Aragem,
Perpétua e ondulante
O sol penetrante na tua janela.
24-03-2006
Poemas de amor e dor
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publicado às 15:00
(òleo sobre cartão
Elisabete Sombreireiro Palma)
NÃO! HOJE NÃO!
Rogério Martins Simões
Não hoje não!
Não existem freios no vento
Cristais no pensamento…
Palavras a mais pelo chão
Não! Hoje não
Não tenho o corpo doente
Maresia no meu coração
Embalo a alma docemente
No fogo desta paixão
Sim! Hoje só há rosas!
Vermelhas e bem viçosas,
Belas na perfeição.
Eu as entrego como presente
Eu me dou neste amor ardente
Recebe-me em teu coração
Lisboa, 19 de Outubro de 2005
(À minha doce companheira,
Elisabete M. Sombreireiro Palma)
Poemas de amor e dor
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publicado às 19:25
Minha mãe que vai ser de mim?
Rogério Martins Simões
Minha mãe que vai ser de mim?
Passos os dias a cuidar do gado,
Implore à senhora do Bonfim,
Que me arranje um bom noivado!
Minha mãe está bem assim?
Lavei o rio no meu corpo criado…
Não visto cambraia! Visto cetim.
Seios de carmim e corpo rosado.
Minha mãe e se eu for ao baile,
Não precisa de vestir seu xaile…
Minha mãe! Vou ter cuidado:
Viço de rosa, cravo e alecrim,
Minha mãe reze por mim,
Que eu não tenho namorado!
Lisboa, 22-09-2007 23:36:37
Poemas de amor e dor
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publicado às 22:31
TANTA SEDE DESATINA…
Rogério Martins Simões
Corre a água cristalina,
Mata a sede é fresca e pura,
Vai à fonte a menina,
Com espreitada formosura.
Alagada por sorrisos…
Com que corres à fonte:
De onde vêm os teus risos?
-Vêm do cimo do monte!
Tanta sede molha os seios…
Tanta sede desatina…
Vem a fonte por seus meios…
Corre a água cristalina,
Enche o cântaro é fresca e pura,
Não tem sede a formosura.
12/8/2005
Poemas de amor e dor
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publicado às 00:25
(Óleo sobre tela Elisabete Sombreireiro Palma)
Elevo o espírito
Rogério Martins Simões
Elevo o espírito! Tenho os olhos perto,
Só o pensamento não o sente tremer,
Entoo, num canto, um canto encoberto,
O que a tremura não me deixa fazer.
Volto à poesia na catarse que liberto.
Chegaste, assim, ao impasse quefazer?
Desdobro e retomo o amanhã incerto:
Faço de conta que se vive sem viver?
Aperto as minhas mãos para as libertar,
Vejo-as estremecer! Já não sabem parar.
Salva-me poesia, não me deixe ficar mal.
Volta poesia, pois de chorar tudo chorei.
Volta! Que na dor, pela dor não morrerei.
Quanta melancolia têm estes olhos de sal!
Meco, 09-07-2007 20:03
Poemas de amor e dor
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publicado às 21:47
(Óleo sobre tela - Elisabete Sombreireiro Palma)
Se voltasse não mais choraria
Rogério Martins Simões
Gosto dos simples como gosto de poesia.
Até gosto d´ervas que crescem daninhas.
Não gosto de choros e tristezas minhas.
Viver por viver jamais viveria.
Provei o vinho amargo, da amarga agonia,
Feito de fel, alegrias-poucas, dores minhas.
Se voltasse não mais choraria,
Beberia o vinho novo colhido das vinhas.
Como poeta eu seja lembrado.
Num cantar errante mas perfumado.
Volte amanhã de novo a florir.
E serei poema em forma de trigo,
Semente de amor; cantar de amigo,
Para que não mais chore o meu sorrir!
16-05-2005
Poemas de amor e dor
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publicado às 00:01
(A Dama com arminho Leonardo da Vinci)
FOI NUMA MADRUGADA DE JULHO
Rogério Martins Simões
Foi numa madrugada de Julho
Quando as estrelas
se juntaram nos céus,
quando o sol teimava
em não arrefecer a noite,
e a lua irradiava
confundindo
as mãos dos namorados…
Andara embalado
no colo de minha mãe.
E ouvia serenamente
Na fusão das águas
O canto ameno que me embalava.
-Lembra-se minha mãe
dos pontapés que eu lhe dava?
-Recorda-se minha mãe
de me ouvir chorar,
Quando sem ver
me reconfortava
Passando docemente
a sua mão na barriga.
Ai como eu me sentia feliz
com as suas carícias.
Ai como era feliz
escutando o seu cantar.
Foi numa madrugada de Julho
Quando a lua espreitava
Quando a mãe terra
me chamava,
Rompi as águas,
E tinha à espera estrelícias
Majestosamente
espalhadas por seu corpo…
Foram tempos luminosos
quando a natureza me pariu
E me trouxe de volta os olhos
com que abracei de novo o Sol.
Lisboa, 29 de Janeiro de 2007
Poemas de amor e dor
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publicado às 14:45
(Foto NGeographic)
Desencontro
Romasi
Meu amor
Sei lá quem?
Nem sei
Se estará para nascer.
Meu amor, assim,
Desencontrado,
Remoto
E perdido por viver.
1976
Poemas de amor e dor
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publicado às 21:43