Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA
Poeta: Rogério Martins Simões
Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004
Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda
Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA
Poeta: Rogério Martins Simões
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Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda
(Foto e 1953: A minha Avó materna, Júlia , vestida de preto e do lado direito da foto .
Restantes: minha mãe Isabel Martins; a minha tia Soledade Simões com o meu irmão Jaime ao colo.
A minha avó Júlia, natural da Malhada, Colmeal, Góis, era irmã do meu tio, Manuel Nunes de Almeida, e tia do meu falecido primo, a quem dedico este meu poema:
No passado Domingo, 10 de setembro de 2017, quando a fui visitar ao Hospital da Universidade Coimbra, onde a minha mãe deu entrada, depois de ter sido assistida na Unidade de Cuidados de Saúde continuados da Pampilhosa da Serra, e nada mais ali poderem fazer. Estive mais de duas horas a falar consigo enquanto a mãe parecia dormir.
Ainda me pareceu que escutava, apesar de me ter apercebido que se encontrava muito pior de saúde. E foi naquele tempo em que estive junto e tão perto de si, minha mãe, que senti que me afogava com o peso das minhas lágrimas.
Foi nesse dia quando o seu estado de saúde se agravava, e quando consigo falava sem aparentemente me ouvir, que lhe repeti o que desde sempre lhe disse: Gosto tanto de si, minha tão querida mãe.
E no tempo em que estive junto de si, procurando suster as lágrimas que espreitavam, que lhe pedi perdão por qualquer coisa perdida no tempo, e lhe agradeci tantas voltas que deu à vida para me ajudar.
Por vezes bastava telefonar-lhe e passado pouco tempo tudo se tinha normalizado. Que poder Deus lhe deu, minha mãe. Afinal nem é preciso aprender a ler e a escrever para se falar, como a mãe sempre o fez, com o seu Deus ou com a terra-mãe que nos dá ou tira a vida. Por isso lhe digo: terá sido por acaso que, quando veio para Lisboa, a mãe conseguiu trazer consigo a sua aldeia à cabeça.
Sim, o pai tinha uma memória e uma inteligência invejável, porém por detrás de um grande homem estará sempre uma grande mulher e essa foi a minha mãe, uma enorme, nobre e extraordinária mulher.
Recordo que muito brincava com as situações mais embaraçosas, por isso transformava os espinhos em rosas. Não foi assim minha mãe?
Finalmente e por saber que neste momento deverá estar a ser submetida a uma perigosa operação, QUERO AGRADECER A VIDA. E por não lhe ter lido este meu primeiro poema que lhe escrevi em 1967 aqui, em carta aberta, o deixo talvez na esperança de ainda ter a oportunidade de me ouvir dizer assim:
mãe
Rogério Martins Simões
Da semente da sua boca
Uma imagem
Subtil de encanto
Como as águas
Límpidas da fonte.
No silêncio
Da sua dor:
O espelho da eterna
Ternura de mãe.
1967
De novo, e na minha poesia mais recente, escrevi um outro poema para mais uma vez agradecer a vida. Com este poema pretendi recuar ao tempo em que me trazia consigo na barriga. Nasci em 5 de Julho de 1949 e terá sido assim:
FOI NUMA MADRUGADA DE JULHO
Rogério Martins Simões
Foi numa madrugada de julho:
Quando as estrelas
Se juntaram nos céus;
Quando o sol teimava
Em não arrefecer a noite,
E a lua irradiava
Confundindo
As mãos dos namorados…
Andava embalado
No colo de minha mãe.
E serenamente escutava,
Na fusão das águas,
O canto ameno que me embalava.
-Lembra-se minha mãe
Dos pontapés que eu lhe dava?
-Recorda-se minha mãe
De me ouvir chorar,
Quando sem ver
Me reconfortava
Passando docemente
A sua mão na barriga.
Ai como eu me sentia feliz
Com as suas carícias.
Ai como era feliz
Escutando o seu cantar.
Foi numa madrugada de julho
Quando a lua espreitava;
Quando a mãe terra me chamava;
Rompi as águas:
E tinha à espera estrelícias
Majestosamente
Espalhadas por seu corpo…
Foram tempos luminosos
Quando a natureza me pariu
E me trouxe de volta os olhos
Com que abracei, de novo, o Sol.
Lisboa, 29 de Janeiro de 2007
Simões, Rogério, in “GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2014)
(Registado no Ministério da Cultura
Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. Processo n.º 2079/09)
Mãe, enquanto escrevo a mãe deverá estar na mesa das operações. Por isso, mesmo sem me ouvir, apesar do enorme risco de vida que corre, só espero que tudo corra bem. Perdoe-me minha mãe mas não tínhamos maneira de evitar essa intervenção cirúrgica.
Por isso, e enquanto não posso falar consigo, vou deixar aqui algumas referências a si, para quem as quiser ler:
Falando de mãe, a minha é de facto um exemplo a seguir e que eu jamais esquecerei. Quando nasceu, em 1925, as mulheres não podiam estudar nem votar. Minha mãe trocou a Beira Serra – A Malhada – Colmeal, pela cidade de Lisboa.
A luta pela vida era tremenda! Levantavam-se pelas 4 horas da manhã, apanhavam o elétrico que os levava à Praça da Ribeira onde se abasteciam de legumes com que governavam a vida no mercado de Santa Clara. Era um tempo em que aqueles mercados pululavam de gente; em que os espaços reservados aos pequenos comerciantes (lugares e pedras) eram disputados e bem pagos nos leilões do Município de Lisboa.
Antes trabalhar carregando duas sacas cruzadas à cabeça que andar a carregar mato e a passar fome, dizia minha mãe.
Minha mãe foi, e é uma mãe exemplar como muitas que viveram, e vivem, tempos difíceis.
Foi a minha mãe que me valeu desde 1970 até 1986 – sempre a caminho do hospital onde todos os anos era internado com problemas graves de saúde. Daí este poema:
ESTRELAS PARA SI, MINHA MÃE
Rogério Martins Simões
Mãe que não sabe ler nem escrever,
Mas conhece bem todos os meus ais.
Mãe que bem cedo teve de sofrer.
Mãe que tanto nos deu e tanto me dais.
Mãe! Por que não a deixaram aprender,
Se está sempre tão atenta aos sinais.
Mãe que doando me ensinou a viver,
Para que amando nos amemos mais.
E se o amor é o néctar da poesia,
Minha mãe, lhe dedico neste dia,
Estes sentidos versos do meu amar.
Mãe passe-me as suas mãos pelo meu peito,
Que este seu filho até já perdeu o jeito:
E tinha tanta estrela p´ra lhe dar.
Campimeco, Meco Café, 02/03/2016 22:14
E este mais antigo:
BEIJO AS SUAS MÃOS MINHA MÃE
Rogério Martins Simões
Mãe
Disse-me um dia a sorrir,
Que tantas noites a chorar,
Sem dormir,
Que me ia acariciar.
Mãos suaves
Embalando docemente
Meu berço.
E na sua boca um cantar
Cânticos ternos de embalar.
Ventos da mudança
Oh! Como os tempos
Não mudaram para si, minha mãe
Apenas se alterou o rosto.
Mãe!
Essas suas mãos doridas
Foram o sal das nossas vidas!
Beijo as suas mãos minha mãe.
1973
Depois, em 2002, mais ou menos, apareceu-me esta Parkinson.
Minha mãe passou a partir daí a chorar e a rezar para que um milagre qualquer se dê.
Faz-me tanta falta minha mãe.
QUISERA ANDAR DE CARROSSEL
Rogério Martins Simões
Quisera andar de carrossel
Com um sorriso de criança que ri
Rosto rebuçado, melaços de mel
Laivos da festa que resta em ti…
Num dedo prendo o balão,
Com outro seguro o corcel
Soco a bola com a mão
As mãos, o rosto e a testa
Besunto-me todo com mel.
Solta-se dos dedos o balão
Que voa a caminho do céu
-Mãe! Vai-me apanhar
Um sorriso igual ao seu…
-Meu filho a mãe não sabe!
Ler, nunca aprendeu:
A mãe vai procurar
O balão que se perdeu…
-Mãe que sabe escutar,
Meus choros em seu coração
Abençoada o seja minha mãe
Por tudo o que foi e me deu!
Rodopiam as lembranças da festa
Para o movimento ondulante
Sujo-me de novo a cada instante…
Sem rebuçados com sabor a mel
Mas… Brinquei tanto no carrossel….
2005-10-20
Simões, Rogério, in “GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO”,
(Chiado Editora, Lisboa, 1ª edição, 2014)
Termino aqui este diálogo da minha alma.
Mãe, o peso deste meu sofrer é tanto que me afogo em lágrimas
(Isabel Martins de Assunção, nasceu na Malhada- Colmeal - Góis em 15/2/1925)
RESQUÍCIOS
Rogério Martins Simões
Lentamente o tempo sorve os resquícios das inimagináveis páginas que ficaram por escrever.
Era uma vez…
Colocou as tamancas nos seus pés que nunca foram meninos.
Sorriu para o vestido de chita.
Alisou os seus cabelos finos.
Pegou na rodilha e colocou a sua aldeia à cabeça.
Conhecia os caminhos da Malhada como ninguém: longas e íngremes veredas, pastos matosos, distantes das letras apenas reservadas aos futuros homens.
E, enquanto subia ao alto da serra por velhos caminhos de cabras, ia dizendo adeus às meninas pastoras, suas companheiras, que por ali ficavam à espera das velhas casamenteiras.
Talvez um dia também as deixassem partir, ou aprender a ler e a escrever - pensava.
Finalmente alcançou o local de paragem do autocarro onde uma multidão também já o esperava.
Poisou a carrego.
Lavou-se na levada.
E levou à boca um naco de broa que trazia para a jornada.
Ouviu-se o roncar da velha camioneta que ao Farroupo chegava.
Tinha chegado a hora de partir. Entrou a sorrir mas uma lágrima disfarçava
Chegou à Lousã e tinha à sua espera um comboio que nunca vira.
Entrou e assomou logo à janela da carruagem e cantarolava.
Tudo lhe era estranho: como o fumo preto que a máquina movida a carvão deitava.
Decidida a lutar por uma vida melhor, chegou a Lisboa com seus olhos de mel.
Tia Soledade Simões tendo ao colo meu irmão, Jaime Augusto Simões; Minha querida mãe Isabel Martins de Assunção; Minha avó Júlia, minha tia Laurentina; tio Manuel, Tio Eduardo e esposa; uma vizinha; Eu, Rogério Martins Simões e minha prima Almerinda Simões Gaspar)
ARREPIAM-ME AS LEMBRANÇAS
Rogério Martins Simões
Arrepiam-me as lembranças
Das manhãs descalças…
De um corpo fino
De um bibe com alças:
Memórias de um tempo menino.
Sou alérgico às memórias ingratas!
Clarabóias deixam passar a luz,
Que derrete o gelo indeciso,
Por onde passou um tempo preciso,
Das coisas belas e gratas.
Sou um vestígio dos umbrais
Que sustêm o peso dos meus sonhos.
Tento viajar com os olhos cerrados
Por um campo milho verde
Com bandeiras a tocarem o céu…
Vou jejuar!
Não comerei os figos
Bicados pelos gaios…
Procuro na horta os abrigos
Onde a distância dos Maios,
Dissipam as canas dos trigos…
Toquei na colmeia por querer!
Sou um sopro de saudade
Favo de mel com a minha idade
Picado de abelhas ao alvorecer…
Cheguei ao fim dos silêncios
Onde as memórias são silenciosas.
E os silêncios para contemplar…
Quem vos disso
Que tinha de atalhar os caminhos
Na horta adulta…
Se me resta um pedaço de água pura
E um púcaro vazio para a apanhar….
Lisboa, Tejo, 18 de Outubro de 2007
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
(Poema dedicado à Beira Baixa -- ao povo Beirão - à Póvoa - à Pampilhosa da Serra e à Malhada)
(Foto minha com 22 meses, 1950)
Nota de agradecimento
Este blog foi criado em 6 de Março de 2004. (Já nem me recordava da data)
De então para cá já teve mais de 2 milhões e 500 mil acessos e tudo se fica a dever àqueles que se revêem na minha poesia, nos poemas de Efigénia Coutinho e de Daniel Cristal a quem agradeço mais uma vez, sem esquecer a pintora da casa - Elisabete Sombreireiro Palma.
Não foi fácil! Não é fácil manter um blog sofrendo de Parkinson, observando, cada dia que passa, uma maior dependência e tentando superar as barreiras que a vida nos coloca. Para superar esse combate tenho contado com a preciosa colaboração, amor e dedicação da minha esposa e pintora Elisabete Maria Sombreireiro Palma e de muitos amigos, nomeadamente do Brasil. Não irei desistir facilmente! Acredito na cura para a Parkinson e agradeço àqueles que lutam por mim.
Ao Sapo que ao longo destes 4 anos já me distinguiu várias vezes quero mais uma vez agradecer. Nunca mudei do Sapo, esta foi a casa que me acolheu. Durante 18 meses o meu blog ocupou os primeiros lugares do Sapo e tinha, então, cerca de 3000 visitas diárias. Hoje tudo é diferente, para melhor, apesar de ter em média entre 1500 a 2000 visitas por dia.
Àqueles que não visito apresento as minhas desculpas! Não dá mesmo! A luta contra a Parkinson é tremenda e só o muito amor que tenho pela poesia me obriga a continuar.
Se escrevo poesia sofro! Mas, se não escrevo morro!
Obrigado a todos.
Com muito amor e muita paz.
Com muita tristeza e pesar pelo que está a acontecer mais uma vez ao povo do TIBETE, sou,
O tempo era ameno e de repente lembraram-se do Verão onde tantas manhãs foram suas.
Pararam, nada disseram um ao outro, como esperassem que algo acontecesse e de repente toda a Aldeia fosse ao seu encontro.
Já tardam tão cedo as manhãs, que ainda só agora começam, e os seus pés, tão pesados, já não são da viagem…
Finalmente quebraram o silêncio:
- Lembras-te Isabel da queda… no musgo que crescia à beira do curral!
Olharam em redor!
Tudo parecia demasiado pequeno, distante, ao alcance de um braço.
Notei, na quietude, as fragilidades com que tentavam disfarçar a insegurança daquele breve momento.
Então, vi no rosto dos meus pais:
“olhos de água cristalina,
da mais pura nascente da serra,
correndo em levada”
Cheios de recordações, como se mais nada existisse que os fizesse ficar, partiram.
Rogério Martins Simões
(A meus pais)
Regresso à Aldeia foi escrito há muitos anos numa antecipação ao dia 18/6/2004.
Tal como versei num soneto, chegou o tempo de concretizar a profecia:
“E regressaram à aldeia no final do caminho”.
Meus pais, para quem a palavra amor é para mim insuficiente para lhes expressar o que por eles sinto, foram visitar as suas aldeias: A Malhada (Colmeal) e a Póvoa (Pampilhosa da Serra).
Meu pai, com 82 anos, não visitava a sua Aldeia há quase meio século,
Hoje, mais que em qualquer momento, faltam-me as locuções e sobram-me as glorificações.
Lisboa, 19/6/2004
Rogério
Reedito um “post” que publiquei em “Poemas de Amor e dor” em 2004 por sugestão de uma amiga, “blogueira” no SOL, a quem agradeço.
Meus pais estão vivos! Eis ainda outra boa razão para vos dar a conhecer o que um dia apaguei.
(Fotografia gentilmente cedida por Padre Pedro – Pampilhosa da Serra)
MALHADA
Recordações da Malhada
(Rogério Martins Simões)
Percorro a levada,
no sentido inverso da água,
a caminho da mó.
Meu passo é curto. Ondulado! Preciso!
E tem a mestria de um equilibrista circo.
- Rogério!
- Oh Rogério!
Grita minha avó!
Saltito, voo... ao sabor da lufada
A água é fria, pura e cristalina
Arrisco!
Quem resiste ao encanto da levada?!.
- Rogério
- R o g é r i o!!!!
Chama de novo minha avó.
Corro, ao encontro da merenda
Levantando muito pó
Evitando a contenda
Com os pés molhados e não só
Valha-me a destreza e a energia,
Ágil e breve recordação
Canto a água desse dia.
Que conservo no coração.
Um beijo minha avó!
2003
(Memórias da Malhada, Colmeal, Gois)
(À minha avó materna,
Júlia Ascensão Martins,
Júlia do Porto)
Poemas de amor e dor
conteúdo da página
publicado às 23:39
MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Simões
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
11/4/1975
Todos os poemas deste blog, assinados com pseudónimo de ROMASI ou Rogério Martins Simões, estão devidamente protegidos pelos direitos de autor e registados na Inspecção-Geral das Actividades Culturais IGAC - Palácio Foz- Praça dos Restauradores em Lisboa. (Processo 2079/2009). Se apreciou algum destes poemas e deseje colocar em blog para fins não comerciais deverá colocar o poema completo, indicando a fonte. Obrigado