Curiosa Lucerna, descoberta entre muitas outras, na localidade de Santa Bárbara dos Padrões
CASTRO-VERDE - ALENTEJO
Lucerna de época romana (século I -III d.C)
Museu da Lucerna - Castro-Verde
CINZAS INGRATAS
Rogério Martins Simões
Afirmo que as nuvens estão vazias
e os astros estão em chamas.
Afirmo que os poetas são pastores,
das noites vadias…
de estrelas e chamas…
Afirmo que os versos se perderam,
no meio das sílabas,
quando as sílabas silvaram soluços
de alfabetos longínquos…
Afirmo que os poemas incompletos
são retalhos intrínsecos
de soluços irrequietos…
Não voltarei a olhar para trás…
As cinzas ingratas…
fertilizam as noites frias!
Praia do Meco 06-07-2010
Poemas de amor e dor
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publicado às 16:59
A VIDA CANSA
Rogério Martins Simões
O telefone descansa…
A barriga pança,
E a vida cansa.
Sem desconfiança
Não há lembrança
De tanta “chança”:
O telefone descansa...
A puta dança…
Da vida que cansa.
Je parle français.
Vive la França
É tudo uma merda…
É tudo cagança:
Je faire pipi
Na mudança…
A vida cansa!
1989
Poemas de amor e dor
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publicado às 00:28
Eu
Florbela Espanca
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
Poemas de amor e dor
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publicado às 00:05
Óleo sobre tela REAL BORDALO)
Aos meus poemas
Romasi
Rogério Martins Simões
Esta pasta encerra
e transporta a minha vida:
Na minha rua eu vi!
Crianças nuas
Jogando com bolas de trapos.
1973
Poemas de amor e dor
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publicado às 20:45
Foto da
World Press Photo Contest 2004
SEGURO DA INSEGURANÇA
Rogério Martins Simões
Torres vigiam a casa assombrada
onde perpetuam marginais
e abstractas letras
de uma desconhecida liberdade.
A canalha… aproxima-se
verberando abstracções concretas.
No alto da torre seguem os carros pretos
chapeados com protecções e blindagens.
Blindaram os corações
para recolher os protestos.
Não! Os protestos não chegam às torres…
Aparam os ouvidos,
com guardanapos ao tiracolo,
e vestem camuflados para vigiarem o solo.
Para manterem a forma exercitam-se
encolhendo os ombros
e olhando de soslaio.
A segurança mantém asseguradas
as palavras contrárias
e perseguem quem se oponha à segurança!
Se lhes virar as costas dirão que sou poeta…
Dispararam às cegas
atingiram um colibri!
Do mar saltam alforrecas e camarões!
A segurança contra-ataca
com a segurança dos narcóticos
Os moribundos mascam, agora, folhas de coca
Do deserto partiram legiões imprecisas de escorpiões.
Dizem que um bando de loucos
se escondeu numa toca…
Toca docemente um violino cego
Ouve-se uma canção de embalar:
- Que será de ti meu menino
Se o povo não se revoltar
Corre um vento forte.
Ouvem gritos!
Se virar as costas
dirão que não sou poeta…
1/03/2007
(correspondência entre poetas)
( Registado no Ministério da Cultura)
Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C.
Processo n.º 2079/09 )
Poemas de amor e dor
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publicado às 13:41
DEGAS
Todo o dia choveu
(Rogério Martins Simões)
Hoje, fiquei triste
Por triste ser
E se mais triste estou
Entristeci ao amanhecer...
Hoje, todo o dia chorei!
Quisera ser copo de água
Para afogar a minha mágoa.
E se mágoa tenho
Para deitar tanta lágrima
Entristeci por perder
E ao perder eu perdi,
Perdi até mais não ver,
(Se mais ver eu consiga)
Consiga alguém sofrer?!
Hoje, todo o dia choveu.
Toda a noite foi de chuva
Estava escuro como breu.
Já goteja na goteira
Está molhada a lareira
Há quanto tempo não sofria
Há quanto tempo não chovia
E logo tudo num dia
Como esta chuva que vai,
Pendurada no meu pranto,
Na torrente agita e cai:
Rega o prado verdejante
Evapora e enfrenta
O deserto escaldante
E volta, ao mar, na tormenta…
23-04-2004
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09 )
Poemas de amor e dor
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publicado às 00:44
Lisboa
Segredos de Lisboa
Rogério Martins Simões
Lisboa é linda mas tem segredos!
Perto do rio… correm para o mar…
Por uma intemporal porta secreta
Eu vi: as pernas, as mãos, e os dedos,
De um velho amolador a amolar,
Numa simples roda de bicicleta.
Tinha uma pedra para afiar!
Tinha um pedal para pedalar!
Um corno pendurado para untar,
(E ao mesmo tempo para dar sorte)
Chaves de fendas para fixar,
Panelas e ferramentas de corte.
Escutei sete silvos de flauta no ar,
Dos contos que só contava ao serão.
- Já não tenho tesouras para aguçar!
Nem uso facas de tipo ameaçador.
- “Olha o amolador! – Olha o amolador!”
Chove! Neste dia quente de verão.
09-08-2004
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09 )
Poemas de amor e dor
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publicado às 09:59
(Museu Etnográfico de Messejana)
Alentejo - Portugal
TEU CORPO AUSENTE
(Romasi)
Rogério Martins Simões
Jogo meus braços
Entrelaçados de nuvens.
Beijo o ar
E o travesseiro de lã.
Quebro o silêncio da cama
Num ranger de molas.
Abro náuseas de prazer
E percorro
Em volúpia arrepiante
Teu corpo ausente…
Lisboa, 20 de Janeiro de 1974
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09 )
Poemas de amor e dor
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publicado às 16:32
Vieram de longe
Rogério Martins Simões
Vieram de longe de onde se avista a pinha!
De olhos esperançados e o rosto enrugado,
Com rugas do cansaço de trabalho na mina.
Sempre por perto porque longe fica ao lado…
Vieram para Lisboa para perto da linha:
Que os viu chegar no comboio apinhado.
Estrangeiros na sua terra; que estranha sina,
À procura de trabalho mais remunerado.
Trabalhavam, sol a sol, qual terra prometida,
Visitavam a aldeia já cansados da vida,
Onde colhiam os cachos e faziam o vinho…
Esventraram montes e derrubaram as colinas…
Construíram as pontes, cruzaram as esquinas!
E regressaram às aldeias no final do caminho…
2004-04-23
(Aos meus pais)
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09 )
Poemas de amor e dor
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publicado às 19:55
Traição
Romasi
Rogério Martins Simões
Romance não escrevi!
Orgulho que não tive!
Tristeza então senti!
Meu coração já não vive!
1975
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09 )
Poemas de amor e dor
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publicado às 20:32