---. MORSE ---.
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De Serviço Militar Caldas da Rainha e TAVIRA 2ª turno de 1970 |
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De Serviço Militar Caldas da Rainha e TAVIRA 2ª turno de 1970 |
(World Press Photo Contest 2004)
PENETRO NA NOITE SOMBRIA
(
Penetro na noite sombria
e vejo gente ao lixo
apanhando o papel velho dos jornais.
Trazem notícias de guerra,
ânsia de paz…
arraiais…
Quantos só agora souberam da guerra:
Ou por que não a fazem!
Ou por que não aprenderam a ler os jornais...
Para quê?
Se não há dinheiro para os comprar!
Mas há, sempre uma mão
para trabalhar,
um saco vazio para encher
e a fome para matar…
Um carro desloca-se a pouca velocidade
O motor... parece falhar
com o frio que o arrefece.
Um gato afasta-se para salvar a vida…
O cão procura o osso…
que escondeu outrora…
para logo fugir
com medo de ser apanhado pela carroça…
O dia nasceu!
O sol já penetra nos vidros dos escritórios vazios
e os trabalhadores vêem pendurados nos eléctricos
superlotados de aumentos…
Agora já não andam ao papel
porque a vergonha chegou...
Agora gira tudo na monotonia do dia
E tudo faz parte da vida…
Lisboa, 1967
INQUÉRITO
(
A vida é uma monotonia
E a um passo fica distante.
É um momento que foge
É o preto, é o branco…
Encontro um tísico
Que me diz:
Que a vida é um escarro
Sugador de sangue…
Olha para o chão
E cospe a vida…
A vida é como uma flor
no jarrão
Secará
se faltarem as raízes…
O rico diz que a vida
É uma manhã cheia de sol
Que ele encontra quase sempre.
E vem o lavrador
Diz que a vida é um arado
Sabe que vive
Que importa isso?
Se tem um arado e um caniço
Um filho na guerra, seu desgosto,
Umas quantas vacas
E uma cor terrena no rosto
O senhor General
Diz que a vida
É comandar exércitos
P´ra defender horizontes fechados…
Saiu e oiço vomitar um canhão…
pum!
E o hippy dedilhando uma viola
Canta que a vida é uma flor
É uma canção de amor
É a viola dele
Que é minha também!
Paro,
frente a uma multidão
Todos querem falar
Poucos querem ouvir
Então, afasto-me,
Espero pelo amanhecer
Para que a noite venha depressa!
Lisboa, 21/02/1969
Três grandes amigos na recruta, SANTO TIRSO, PORTO, LISBOA.
Cada um seguiu o seu destino
O Lisboa está aqui, sou eu, ROMASI
MORSE
Rogério Martins Simões
Traço, traço, traço, ponto
Morse, morse, morse morte…
Mais homens, mais gente.
Traço, traço, pouca sorte
Vai partir um contingente!
Pouca terra, pouca terra…
Lenços e preces agitam o ar
O pranto fustiga todo o cais…
Partem os noivos; chora o mar…
Os filhos, os amigos e os pais!
Traço, traço, traço, pronto
Regressa de novo o transporte
Beijam-se os filhos e os maridos
Agitam-se os lenços garridos
Traço, traço, traço, sorte…
Morse, morse, morse morte
Apita o barco engalanado
- O soldadinho vem no porão
Marido e o filho tão amado
Que regressa… num caixão!
Lisboa, 14/02/1969