Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA
Poeta: Rogério Martins Simões
Blog no Sapo desde 6 de Março de 2004
Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda
Livro de poesia GOLPE DE ASA NO SEQUEIRO Editado pela CHIADO EDITORA
Poeta: Rogério Martins Simões
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Livro de poesia POEMAS DE AMOR E DOR (Chiado books) já à venda
Um pampilhosense “alfacinha”, um “alfacinha das Serras da Pampilhosa
Rogério Martins Simões, o “Poeta Romasi”, nasceu em Lisboa, nasceu em Lisboa, na Freguesia do Socorro, no dia 5 de Julho de 1949, de uma família oriunda do concelho de Pampilhosa da Serra.
Casado em segundas núpcias com Elisabete Maria Sombreireiro Palma a musa inspiradora de tantos e tantos “Poemas de amor e dor”.
Tem 2 filhos, o Rogério Alexandre, nascido em 1970 e Ana Lúcia nascida em 1972. O neto Alexandre Filipe Simões Silva de 9 anos, como “romasi” diz, “é a luz da minha vida”.
Actualmente trabalha na Direcção Geral de Alfândegas onde é Reverificador Assessor Principal, mas em tempos idos já viveu numa espécie de clandestinidade ouvindo no “silêncio” Zeca Afonso entre outros.
Como ele diz, ”Gosto muito da Pampilhosa e das suas gentes e amo a minha querida Póvoa e as suas gentes, afinal quase todos parentes.”
Mas nada melhor para apresentar este serrano, que nos delicia com poemas que muitas vezes têm a cor dos segredos que ao longo das rimas nos desvenda, do que passar a palavra ao mestre, para que da própria “pena” saia tudo quanto queremos saber, desta alma que não pára.
“Na década de 50, 60, do século passado, as regiões mais pobres de Portugal começaram a ficar aos poucos abandonadas. A vida era dura, as condições para se viver nesses locais foi-se degradando e os povos emigraram para outros países onde a vida lhes poderia dar outras oportunidades.
Ao mesmo tempo, aqueles que não se aventuravam à diáspora, engrossavam a mão-de-obra com que se ergueram as cidades novas e redimensionaram as que existiam.
Naquele tempo visitava a aldeia do meu pai, dos meus avós, com a frequência das férias grandes, e convivia com muitos nascidos ou oriundos daquela aldeia.
Ao escrever este pequeno diálogo procuro testemunhar, colocando no tempo àqueles que o lêem, pese embora todas as dificuldades sentidas, todas as carências, nomeadamente a falta das vias de comunicação e tudo mais, nem um só momento do tempo que ali passei me senti infeliz.
Pelo contrário, fazia-me bem meter as mãos na terra, ajudar a regar as leiras, a debulhar o milho, a apanhar os cachos, a apanhar fetos para as camas dos coelhos, mato para as ovelhas e porcos, de recolher os ovos para os bolos da festa do 3 de Setembro.
É claro que ao interagir com os meninos nascidos e criados na aldeia significava que estava a colidir com os deveres desses meninos homens e, deste modo, sem querer, alimentava conflitos entre eles e seus pais. O meu trabalho era uma festa em vez de obrigação. O trabalho dos outros meninos era regra e assim encarado por eles com sacrifício.
Hoje resta a saudade de um tempo menino e jamais esquecerei as traquinices e os amigos que lá deixei - alguns dos quais já partiram.”
SERRAS – Porquê “Romasi” ?
ROMASI - ROMASI é um pseudónimo, aquele com que assinava a minha poesia e resulta da aglutinação das duas primeiras letras do meu nome.
SERRAS – Quem é o Rogério Simões?
ROMASI Tal como aprendi o meu nome, sem eu ter a consciência de que o estava a interiorizar, aprendi muita coisa quando eu tinha todo o tempo do mundo...
Nessa época os meus pais, mesmo sem vagar, eram de uma completa dedicação aos filhos. E os avós, quem os tinha, ensinavam aos meninos os contos mágicos, inscritos no “livro dos pensamentos”, que lhes tinham sido transmitidos oralmente pelos seus antepassados.
Há sempre tempo para tudo, digo eu, e na luz irradiante da família aprendi a amar e a ser amado; aprendi a respeitar e a ser respeitado; aprendi a ser feliz e a tentar contribuir para a felicidade do outro; aprendi a acatar e a escutar os mais velhos; aprendi a dar valor às pequenas coisas, e, como os meus pais davam tudo o que podiam e não podiam, aprendi a ser solidário.
Depois, ainda havia a minha madrinha. Era a irmã mais velha de meu pai, a Maria da Nazaré Simões, trabalhava nos Hospitais Civis de Lisboa - no Hospital de Arroios e como ela descobri que existiam seres humanos que sofriam. Mas como era menino, corria pelos claustros do hospital, brincava com os meninos doentes às escondidas enquanto a minha tia-madrinha atendia e tentava aligeirar o sofrimento dos doentes.
Como estava a dizer, eu tive verdadeiramente uma madrinha! E como madrinha substitui os pais, levava-me a visitar os acamados a quem emprestava o único rádio que tinha para lhes aliviar as dores.
Era assim: dava-me rebuçados (ficava todo lambuzado), aturava-me enquanto meus pais iam trabalhar e ensinava-me que até a dor pode ser aliviada escutando um belo fado da Amália...
“R” mais “o” é RO; “g” mais “é” GÉ; “r” mais “i” é RI mais “o” com o faz ROGÉRIO, assim me ensinava a escrever a minha professora primária, a Dona Susana, da “Escola Republicana de Fernão Botto Machado”.
Gosto do meu nome embora seja invulgar. Aprendi que dava jeito, pois, quando era chamado a exame, éramos ordenados por ordem alfabética, e havia mais algum tempo para estudar. Tinha os seus inconvenientes: estava sempre no fim da lista e de tanto esperar, desesperava, aproveitava para roer as unhas...
Há sempre tempo para tudo – digo eu.
Existiu um tempo para ser desejado - sem dar por isso! Um tempo para ser amado - sem dar por isso! Quando dei por isso tive, e ainda tenho felizmente, todo o amor e o carinho dos meus pais.
Vou parar por aqui. A minha ascendência é significativamente a razão da minha conduta, da minha decência, da minha consciência.
Tive e todos nós tivemos tempo para tudo…
Errei, levantei-me! Escutei sempre o coração! Empenhei sempre a alma controlada pela minha consciência. Voltei a errar e voltei a erguer-me aprendendo sempre com os meus próprios erros.
Reconheço os disparates que fiz! Todos os fazemos ao longo das nossas curtas vidas. Mas a minha glória está em reconhecer os meus defeitos, combatendo os meus erros, sublimando as minhas atitudes de comportamento que não se reviam ou revêem na herança do meu sangue e/ou na educação que recebi dos meus pais.
Rogério Simões é fruto de tudo isto e tem a humildade de um serrano! Porém, nunca serei um homem pequeno...pois nunca foi minha a intenção de o ser.
SERRAS – Quando e como surgiu a apetência pela poesia?
ROMASI - Comecei bem cedo a escrever poesia por “culpa” do meu querido pai, José Augusto Simões e com a cumplicidade de minha mãe que não sabia nem sabe escrever - mas isso são contas de outro rosário - pois às mulheres era quase negado o direito a estudar.
Dizia eu, ou estava para dizer, vivi numa humilde casa em Lisboa, paredes-meias com a “feira-da-ladra”, onde fui crescendo, escutando e observando…
Comecei por aprender que a poesia cresce com a alma e escreve-se com amor e isto ensinou-me o meu querido pai: José Augusto Simões, homem culto, simples, honesto, solidário, bom marido e bom pai.
Sobre o meu pai já escrevi o “insuficiente”, pois todas as palavras ou poemas não chegam para lhe dedicar.
Nasci em Julho de 1949 e nos anos 50 eu era ainda menino.
A casa de meus pais, nesse tempo, “fervilhava” de familiares e amigos que deixavam as suas aldeias, da Beira Baixa, em busca de uma vida melhor. Meu pai e a minha mãe recebiam-nos cedendo, mesmo, a sua própria cama. E foi assim até há poucos anos.
Dormia-se por tudo o que era canto - por turnos - pouca sorte partir, pouca sorte chegar…
Meu pai, pequeno comerciante de sacos usados, nada tinha e tudo dava. A minha mãe aceitava e dava tudo sem nada querer em troca.
À noite, mesa cheia - naquela mais humilde casa – ouvia contar ao meu pai as histórias de fantasia e de encantar da nossa aldeia, contos que preencheram o imaginário da minha infância. Depois vinha a sua poesia e a poesia dos grandes poetas tão bem declamada por meu pai a quem todos com prazer o escutavam.
Era assim: como não havia rendimentos para comprar e servir a sobremesa, meu pai, substituía-a por poesia!
Fui crescendo, (não vos quero maçar), para abreviar, iniciei-me na poesia pela caneta de meu pai. Eu - ou melhor o meu pai - ganhava todos os prémios de poesia nas escolas por onde andei.
Nos anos 60 do século passado escrevi, por minha mão, os meus primeiros poemas com a alma do meu pai e Já nesse tempo a minha poesia, a nascer, versava a vida com as cores do dia-a-dia.
Contava o que via, ou o que não deveria dizer, e o que via era triste – mas isso são contas de outro rosário em que tudo era proibido.
SERRAS – Acabou de falar nos que chegavam da Beira a casa dos seus pais. Eram pessoas de Pampilhosa da Serra, e lembra-se de alguém em especial?
ROMASI – Um dia o Ti-António do Vale Serrão disse para o meu pai – José Augusto: És tu em Lisboa e eu lá na Póvoa - há sempre comida para mais um!
Tal como dizia o Ti-António do Vale Serrão, todos eram bem recebidos ou acolhidos e havia sempre mais um prato para colocar na mesa.
Ali viveu a Palmira Terceiro, de Pessegueiro e o seu marido, o Manuel Bastos, pais do Vitorino Bastos, o Bastos do Sporting Clube de Portugal. É curioso! Vivemos lado a lado durante um ano: ele num berço! Eu numa pequena cama em madeira, pintada de azul, com grades! Ambos viemos a ser atletas do Sporting: ele no futebol; eu no atletismo.
Citei este caso por curiosidade. A casa dos meus pais estava sempre cheia de parentes e amigos.
Respondendo à questão: as pessoas que por lá passaram e que mais me marcaram foram: Os meus primos: o José Maria Antunes, que tanto me aturou, desde o meu nascimento até 1961 - ano em que partiu para França, e o José Augusto Simões Gaspar, desde 1959 até 1970.
Faço uma referência muito especial às visitas que o nosso tio Manuel Nunes de Almeida, tia e primos nos faziam todos os anos. Era a visita sempre esperada! Natural da Malhada, Góis, meu tio, irmão da minha avó materna, fora bem-sucedido nos negócios em Lisboa, então, nos dias que antecediam o Natal e a Páscoa, visitava todos os sobrinhos os quais ajudava financeiramente.
A grande lição que o meu tio nos deu, e deu aos seus filhos, foi que a solidariedade não é palavra vã! Fazia questão de mostrar e dar a conhecer ao meu primo, que tinham uma tia e primos a passarem por sérias dificuldades. A nós, seus parentes menos afortunados, ensinou que nunca se deve abandonar ou ter vergonha da família em que circunstância for. Quem vive melhor não deve estar à espera que lhe peçam esmola, deverá abandonar a sua casa e ir ao encontro dos mais necessitados.
Foi assim que passei a vestir a roupa usada do meu primo, Luís Manuel César Nunes de Almeida, que faleceu em 6/9/2004 no desempenho de um alto cargo da Nação - Presidente do Tribunal Constitucional.
Uma nota final: fomos sempre amigos, nunca cortámos o elo que nos ligava e estive presente na cerimónia fúnebre de Estado - nem uma só “cunha” lhe meti… Ele também era assim! Sofreu um enfarte do miocárdio, em Espanha, e nem sequer disse aos que o socorreram que era uma das principais figuras de Estado -Presidente do Tribunal Constitucional de Portugal.
Claro que me recordo das centenas de parentes e amigos que lá viveram ou simplesmente o visitaram. A casa tinha vida!
Um especial carinho e admiração para a minha querida tia, Emília de Jesus Alexandre, de Moninho, que se deslocava do Pátio do Carrasco à nossa casa para nos tirar o “quebranto”.
Que fascínio exerceu, em mim, a tia Emília, do Pátio do Carrasco!
- Rogério! “Unge as mãos e os pés”!
E ali ficava sentado num banco rente ao chão, costas direitas e joelhitos bem unidos.
- O rapaz tem “cobranto” e rezava…
Depois minha mãe fazia um defumadouro e eu respirava os cheiros ancestrais dos contos mágicos do meu pai…
SERRAS – Soubemos por amigos que é delicioso ouvir o que lhe foi transmitido por seu pai, coisas de crendices e tradições. Pegando em, “...eu respirava os cheiros ancestrais dos contos mágicos do meu pai…”, não quer partilhar com os nossos leitores um pouco dessa cultura tão esquecida?
ROMASI - Mais uma vez quero agradecer a referência que faz ao meu querido pai. José Augusto Simões, exímio contador de histórias e não só. O meu pai foi o melhor aluno da Pampilhosa da Serra, nos anos em que lá estudou, tem 85 anos, está vivo e recomenda-se.
Tentando responder a esta questão, terei de contar a história que mais me intriga e encanta: “a morte anunciada da minha avó, a “Ti-Mariquitas”, tantas vezes contada por meu pai.
Falar na minha avó, que nunca tive o prazer de conhecer e de a abraçar, é falar de uma grande mulher, de uma boa mãe, de uma mulher inteligente, é falar de amor. Tal como já escreveu o Dr. António Ramos de Almeida, a Póvoa teve desde sempre estóicas mulheres. Infelizmente, o primo António, deixou de publicar as suas memórias em “Ecos da Póvoa”, numa coluna que eu lia de um sopro, intitulada “Alpendre de Santa-Eufêmia”.
Mas essa história começa assim:
Era uma vez um menino órfão que bem cedo abandonou a sua aldeia – A Póvoa – Pampilhosa da Serra.
Deixou para trás a bola de trapos, os companheiros de escola, da brincadeira e do trabalho; as pessoas a quem lia e escrevia as cartas e o trabalho duro da aldeia.
Era muito cedo a manhã. A sua mãe, doente, rezou consigo as últimas orações e entregou ao menino um saco de pano com as poucas “roupitas coçadas” e um naco de broa para disfarçar a fome na viagem.
Trazia consigo a vontade de vencer e na bagagem a mocidade perdida.
Tinha e tem uma memória espantosa!
Carregava no pensamento a aventura. Era responsável e “magicava” por uma vida melhor: secreta ilusão de quem foi incapaz de renegar a educação…
Percorreu a pé grande distância que o separava da camioneta e soletrava, palavra por palavra, os últimos conselhos de sua mãe.
-Filho: A humildade é filha da virtude! Deves respeitar toda a gente: tanto os mais novos como os mais velhos. “O bacorinho manso mama em sua mãe e na alheia! O bravo nem na sua chega a mamar”
Finalmente, o comboio a carvão que apanhou na Lousã e, no dia seguinte, chegou à cidade que a partir daí chamou de sua.
Lisboa, nesse tempo, agitava-se de trabalhadores migrantes na sua própria Nação.
A Europa estava em guerra, mas o menino disso pouco sabia. Recordava-se de um velho parente escutar a telefonia, às escondidas, e de ouvir falar nisso em surdina. Tão pequeno e já “alombava" os cabazes da mercearia:
- Que importa se já estava habituado! Afinal os passeios eram melhores que o caminho das cabras.
Mas sonhava! Todos os meninos sonham!
Às vezes, ainda há pouco se tinha deitado e já estava levantado para voltar a carregar as mercearias. E, enquanto subia as escadas mais íngremes, rezava à espera de um milagre que trouxesse de volta a escola para um dia ser “doutor”.
Mas sonhava! Sonhava, digo eu: pois o sonho é toda a compensação na vida de quem sofreu.
O menino queria estudar! Ser alguém! Mas a tragédia tornou a voltar, numa Terça-feira, quando soube da morte de sua mãe lá na Aldeia!
Nas vésperas, houve uma grande azáfama na Póvoa!
A sua mãe, de nome Maria Ascenção Ramos, fez questão em anunciar, nessa Sexta-feira, que no dia seguinte partiria numa viagem para o Céu…
E disse à irmã do menino:
- Laura vai chamar o “Ti Manuel Barrocas” para me tirar as medidas e fazer o meu caixão.
A irmã do menino chorava, não queria ir - mas foi!
Chamou de novo a irmã do menino, e disse:
- Laura! Limpa muito bem a casa e logo, quando acabares, vai chamar o Povo.
Mas a menina chorava, enquanto limpava a casa com a vassoura de carqueja.
Por fim, lá foi de casa em casa transmitindo a mensagem da "Ti Mariquitas” e o povo da Póvoa foi em peso sentir o peso das palavras de despedida da minha avó.
O dia finava, era um Sábado (12 de Março de 1938), fim anunciado da mãe do menino.
Dizem que a sua mãe se despediu de todos - pediu perdão de todas as suas ofensas, se ofensa alguma vez tivera para com alguém.
Dizem que nessa tarde, de Sábado, terá dito para as pessoas que ali estavam:
- Já me sinto satisfeita, tenho aqui muitas pessoas queridas que já morreram ao meu lado. O meu filho à cabeceira! A minha filhinha ao meio e a minha irmã aos pés. Deus está a entregar-me uma mão! Eu entrego-Lhe as duas. – E morreu!
Faço aqui um parágrafo. Toda esta história não é uma “estória” ou uma fábula.
Recordo-me do menino, já pai, meu pai, contar que a sua mãe, a minha avó, ainda terá dito:
- O meu filho escreveu-me hoje uma carta! Mas eu já não a vou receber. Vou morrer hoje e a carta só vai chegar na segunda-feira.
Minha avó faleceu nesse Sábado no dia 12 de Março de 1938,foi sepultada na Pampilhosa da Serra, a um Domingo como ela sempre pediu ao seu “DEUS”.
Meu pai só recebeu a notícia por carta, na mercearia da Rua do Grilo, na Terça-feira dia 15 de Março de 1938.
Tudo isto foi-me contado em menino por meu pai e confirmado por parentes que presenciaram estes factos em vida.
A resposta já vai longa e tenho de abreviar. Desde muito cedo que escutei histórias relacionadas com “aparecimentos” e, de tanto as ouvir contar, até nos parece que vemos coisas, que sabemos ou pensamos ser, meras ilusões ou visões imaginárias. Sobre isto nada tenho a acrescentar.
Tal como a minha avó fazia, meu pai rezava sobre a minha cabeça as mesmas orações que a minha avó lhe rezava. Algumas são autênticas “ladainhas” e nunca as consegui decorar. Havia uma que era rezada três vezes e era assim: Cruz digna, cruz magna, coisa que Deus fez em si, coisa má não venha aqui. E rezava, três vezes, o Pai Nosso”.
O cobranto, na Póvoa, era tirado a animais e pessoas. Punham água dentro de um púcaro de barro e numa pequena fogueira queimavam quatro paus. Quando estavam em brasa agarravam os paus, com uma pequena tenaz, que deixavam cair na água e rezavam orações já perdidas. Quando os paus vinham ao cimo da água o cobranto já tinha passado.
Existiam tradições bem interessantes e quiçá ainda conhecidas das pessoas da Póvoa. O Dia de Santa Cruz.
Em Maio as pessoas da aldeia faziam cruzes, em madeira, que colocavam em todas as hortas que tinham cultivado.
Já disse que foi com muito labor e sacrifício que este nobre e valente povo construíram as hortas. Com esta tradição procurava-se pedir a protecção divina para que as trovoadas, de Maio, não causassem enxurradas e não destruíssem as terras.
Por falar em trovoadas, quando as havia e eram fortes, as mulheres da aldeia rezavam orações a interceder pela preservação das suas casas e das casas dos vizinhos.
Bem interessante era o ritual do oferecimento de luz aos mortos.
Quando morria alguém na Póvoa iam de todas as casas para o velório. Todas as mulheres levavam uma candeia de azeite acesa, que depositavam na sala onde estava o corpo, para iluminar a alma do defunto. Depois, todos rezavam o terço durante a noite que ofereciam por sua alma. Arremata o meu pai que nesse dia a família não fazia comida e que era oferecida pelos vizinhos.
Já no Carnaval “corriam o Entrudo”. Dois rapazes, um de cada lado da casa visada, ou da povoação, tocavam cornetas, com bastante sonoridade, e proclamavam alto e a bom som factos divertidos, de escárnio e mal dizer, relacionados com pessoas daquela casa ou da aldeia.
Tal como noutros locais existiam as “Janeiras”.
O grupo era composto por homens e rapazes. Tocavam guitarras, harmónios, ferrinhos, e percorriam toda a aldeia, cantando, parando em todas as portas, com o fim de obterem chouriços, carne ou lombo de porco, vinho e outras iguarias.
O meu pai recorda-se de uma quadra que contavam e era assim:
“Senhora que está á fogueira
Assentada na sua cortiça
Deite a faca ao seu fumeiro
E traga já uma chouriça.”
Esta recolha de alimentos tinha por finalidade realizar um grande banquete comunitário, em dia de reis, e acabava tudo em festa.
Mais uma vez se nota aqui a unidade deste povo que, ainda, perdura noutras tradições.
Finalmente uma tradição que muitos, como eu, conhecem quase sem dar por isso. Tenho pena que não se tenha mantido nestes novos tempos de alheamento total.
Diz o meu pai que quando qualquer pessoa saía da Póvoa, isto é, quando se ausentava por muito tempo, a pessoa que deixava a aldeia ia a todas as casas dizer adeus até ao seu regresso.
Quando voltavam à aldeia da Póvoa iam, os que lá estavam, à casa do que tinha chegado para o cumprimentar.
Quanto às “mezinhas” era hábito enraizado em todos os Beirões. Os serranos tinham por hábito curar as suas “maleitas”, ou seja doenças diversas, com diversas flores e plantas. Utilizavam a flor de laranjeira; a carqueja; o sabugueiro; a marcela; folhas de oliveira; o alecrim; a erva-cidreira; as urtigas; hortelã e outras. Para curar a constipação utilizavam as papas de linhaça que num pano colocavam no peito, mas sempre quente, e bebiam aguardente com mel.
Para as dores do corpo esfregavam-se com aguardente de mostarda.
nasceu na Póvoa - Pampilhosa da Serra em 20 de Maio de 1922
Meu Pai
António Antunes Simões
Nasceu na Pampilhosa da Serra
Abril de 1881
A minha família
SIMÕES
Da
PAMPILHOSA DA SERRA
Autoria: JOSÉ AUGUSTO SIMÕES
Nasceu na Póvoa em 20 de Maio de 1922
A família do meu avô paterno, Francisco Simões, era toda da Pampilhosa da Serra.
Meu avô paterno foi viver para a Póvoa por ter contraído matrimónio com Emília de Jesus Antunes.
A minha bisavó paterna era da família Henriques e o meu bisavô paterno da família Simões, eram da Pampilhosa da Serra. (Agradeço que me informem do nome dos meus bisavós). Neste levantamento não assumem o n.º 1 por desconhecer os seus nomes. (Por aqui já podem reparar que os Simões estão ligados por laços de sangue aos Henriques da Pampilhosa da Serra)
(Para que se entenda melhor as relações de parentesco dos Simões da Pampilhosa mantemos os números de 1 a 7 acrescentando as descendências conhecidas de cada.
As cores servem para melhor se entenderem as relações de parentescos que se estabelecem entre cada descendente deste sete irmãos)
Os nomes a branco indicam a primeira linhagem conhecida e eram 7 irmãos (por exemplo o meu avô)
A cor amarela nos nomes indica que são primos direitos, por serem filhos de irmãos. Por exemplo: o meu pai António Antunes Simões era primo direito do Abílio Augusto Simões este, por sua vez era filho da tia do meu pai e minha tia-avó Albertina Simões.
A cor verde indica que são primos em 2º grau (este é o meu caso, José Augusto Simões, tomando como exemplo o meu primo, José Maria Simões, filho do Virgílio primo direito do meu pai)
A cor vermelha indica que são todos primos em 3º grau (como é disso exemplo o meu filho Rogério Martins Simões)
Os pais do meu avô, Francisco Simões, que descendem de uma HENRIQUES casada com um SIMÕES, ambos da Pampilhosa da Serra, tiveram muitos filhos, mas só consigo localizar, no tempo, o nome de 7:
1. José Simões,meu tio-avô, (filho mais velho), que casou em Porto de Castanheiro, Freguesia de Teixeira, Arganil. Sei que teve muitos filhos mas não os conheci;
2. Manuel Simões,meu tio-avô, que casou nas Moradias, mas viveu sempre nas Relvas Velhas;
3. Albertina Simões,minha tia-avó, que viveu na Pampilhosa da Serra;
4. César Augusto Simões,meu tio-avô. Casou com Olinda da Paixão (Agradeço ao meu primo Júlio Cortez Fernandes a sua colaboração);
5. Ana Simões,minha tia-avó, que morreu solteira;
6. Hermínia Simões,minha tia-avó. Sei que teve muitos filhos mas recordo-me de poucos. Apelo aos descendentes, meus primos para me deixarem a lista completa.
7. Francisco Simões,meu avô, que casou na Póvoa.
Passo, agora, a mencionar alguns dos meus parentes, filhos dos irmãos do meu avô Francisco Simões:
1. JOSÉ Simões, meu tio-avô, (filho mais velho), casou em Porto de Castanheiro, Freguesia de Teixeira, Arganil. Sei que teve muitos filhos mas não os conheci. Aguardo que de lá me escrevam a indicar os nomes dos primos direitos do meu pai.
2. Manuel Simões, meu tio-avô, que casou nas Moradias mas viveu sempre em Relvas Velhas teve 10 filhos.
2.1.Abílio Simões, que casou nos Covões, com Maria Garcia. São os pais do meu primo, José Maria Simões, padrinho do meu filho, mais novo, José Manuel Martins Simões;
2. 2.António Simõesque casou em Carvalho;
2.3.José Maria Simões, que casou no Cadavoso;
2.4.Alfredo Simões, que casou na Póvoa com Elvira Antão e faleceu em França. Tiveram 4 filhos:
2.4.1. Zulmira Simões, nasceu na Póvoa em 10 de Agosto de 1922 e casou na Trafaria;
2.4.2 José Maria Simões nasceu na Póvoa em 1924
2.4.3. Fernando augusto Simões nasceu na Póvoa em 1929
2.4.4. Sérgio AntãoSimões nasceu na Póvoa em 1933 e faleceu em 10/2007. Teve 5 filhos:
2.4.4.1. Fernando Olímpio da Silva Simões, vive na Suiça e tem dois filhos: David Simões e Dan Simões. (agradeço ao primo Fernando a contribuição prestada)
2.4.4.2. Luís Filipe da Silva Simões, faleceu em 2001.
2.4.4.3. Paulo Alexandre da Silva Simões
2.4.4.4. Américo Manuel da Silva Simões, faleceu em 2001.
2.4.4.5 Ana Cristina da Silva Simões
2.5. Antonino Simões, que casou no Sobral;
2.6.Urbano Simões, que casou em Carvalho;
2.7.Alberto Simões, que casou em Moninho;
2.8.Augusto Simões, que casou na Malhada do Colmeal;
2.9.Jaime Simões, que casou na Lousã
2.10.Conceição Simões, que casou em Carvalho;
(nota: conheci todos, assim como todos os seus filhos).
3. Albertina Simões: irmã do meu avô Francisco Simões teve 9 filhos. Quero agradecer às minhas segundas primas a colaboração prestada e graças a elas foi possível identificar os meus primos netos da minha tia-avó:
3.1. Virgílio Augusto Simões;
A minha prima Alice Maria de Jesus Gaspar forneceu-me a lista dos primos direitos do meu pai, os filhos do Virgílio Augusto Simões, que passo a transcrever e são 7
3.1.1.José Maria Simõesnasceu em 1917
teve 3 filhos.
3.1.2Maria da Ascenção Simõesnasceu em 1914
teve 2 filhos.
3.1.3.Virgílio Augusto Simõesnasceu 1921
Teve 2 filhos.
3.1.4. António Maria Simões teve, nasceu em 1919
2 filhos.
3.1.5.Maria de Jesus de Nazaré
Teve 2 filhos.
3.1.6.Júlio Augusto Simõesnasceu em 1924
Teve 1 filho Augusto Simões
3.1.7.Albertina de Jesus Simões,
Teve 1 filha, aAlice Maria de Jesus Gaspar.
(nota: as datas de nascimento foram tiradas da minha memória. Faltam as datas das minhas primas)
3.2.Abílio Augusto Simões;
Recebi da minha prima Ernestina Olivença Simões os nomes dos 11 irmãos filhos de (Abílio Augusto Simões) para memória futura.
3.2.1.António Olivença Simõesnascido em 1927 (falecido) teve 4 filhos. 3.2.2.Albertino Augusto Simõesnascido em 1930 (falecido) teve 2 filhos 3.2.3. Abílio Simões de Olivençanascido em 1931 (faleceu bebé 3 anos) 3.2.4.Maria Suzete Olivença Simõesnascida em 1933 (faleceu 9 anos) 3.2.5.Carminda Olivença Simõesnascida em 1935 (tem 1 filha) 3.2.6.Hermano Olivença Simõesnascido em 1938 (tem 2 filhos adoptados) 3.2.7.José Mário Olivença Simõesnascido em 1939 (tem 1 filho) 3.2.8.Laurentina Olivença Simõesnascida em 1941 (tem 1 filha) 3.2.9. Ernestina Olivença Simõesnascida em 1942 (tem 1 filha) 3.2.10.Antero Olivença Simõesnascido em 1944 ( tem 2filhos) 3.2.11Deolinda Olivença Simõesnascida em 1946 (tem 2 filhos)
3.3. Manuel Augusto Simões;
Solteiro
3.4. Ângelo Augusto Simões;
Solteiro
3.5. António Simões;
4 filhos
3.6. Aurora Simões;
Solteira
3.7. Belmira Simões;
Teve 10 filhos
3.8. Maria José Simões;
Solteira
3.9. Antónia Simões; (Tonita)
Solteira
4. César augusto Simões, casado com Olinda Paixão, que por muitos anos foi parteira, uma bondosa senhora conhecida por Olinda do César. O meu tio-avô teve 6 filhos. (Este levantamento familiar teve a colaboração do meu primo Júlio Cortez Fernandes a quem agradeço.)
4.1. Maria Olinda Simões casou com João Fernandes Carloto e tiveram 5 filhos:
4.1.1 António Maria Fernandes que faleceu em 1992 era casado com Maria de Jesus Cortez, ainda viva, (irmã de António Cortez falecido na Argentina, foi casado com Maria dos Anjos Antão, ainda viva e residente em Buenos Aires, natural da Póvoa, filha de Delfina Antunes e Augusto Antão). António Maria Fernandes e Maria Jesus Cortez tiveram dois filhos:
4.1.1.1. Júlio Cortez Fernandes;
4.1.1.1. José Cortez Fernandes;
4.1.2 Conceição Simões falecida em 1972;
4.1.3 Maria Piedade Simões falecida em 1976;
4.1.4 Laura Simões
4.2. Amaro Simões,
4.3. António Simões, (Certa)
4.4. Maria Simões (Da Misericórdia)
4.5 José Simões, (Zé Coxo)
4.6 Agostinho Simões
5. ANA SIMÕES, Não deixou descendentes.
6. Hermínia Simões, minha tia-avó. Sei que teve muitos filhos mas recordo-me de poucos. Apelo aos descendentes, meus primos para me deixarem a lista completa.
7. Francisco Simões, o meu avô, que casou na Póvoa com Emília de Jesus Antunes, a minha avó paterna os quais tiveram 7 filhos. Tanto o meu pai e cinco irmãos nasceram na Pampilhosa da Serra:
7.1António Antunes Simões(meu pai);
António Antunes Simões nasceu em Abril de 1881, casou com Maria Ascenção Ramos (meus pais), tiveram 5 filhos:
7.1.1.Maria da Nazaré Simões, nascida a 21 de Abril de 1913 e faleceu a 22 de Janeiro de 1975;
7.1.2José Maria Simões, nasceu em 1915 e faleceu em 1920;
7.1.3Laura da Conceição Simõesnasceu em 1917 e faleceu nesse ano com 7 meses;
7.1.4 Laura da Conceição Simõesnasceu a 4 de Dezembro de 1919 e faleceu em 25 de Abril de 1997; (2 Filhos:Almerinda Simões Gaspar e José Augusto Simões Gaspar)
7.1.5José Augusto Simões, eu, o autor deste trabalho, nasci em 20 de Maio às 5,30 da manhã, mas, por engano, estou registado como tendo nascido em 19 de Maio de 1922. Deixo aqui os nomes dos meus filhos:
7.1.5.1 Rogério Martins Simões, nascido em 5 de Julho de 1949.
7.1.5.2Jaime Augusto Simões, nascido em 17 de Fevereiro de 1952.
7.1.5.3José Manuel Martins Simõesnascido em 22 de Dezembro de 1955
7.2. Aires Antunes Simões;
Aires Antunes Simões, meu tio, pai de 2 filhos:
7.2.1.António de Oliveira Simões, que nasceu em Monforte, Alto Alentejo, no dia 29 de Fevereiro de 1920 e faleceu no dia 2 de Março de 1982;
7.2.2. Ana de Oliveira Simõesnasceu Monforte, Alto Alentejo, em Março de 1922.
7.3. Albano Antunes Simões;
Albano Antunes Simões, meu tio, pai de 2 filhas:
7.3.1Ilda da Silva Simõesnasceu em 1914 em Lisboa;
7.3.2 Alzira da Silva Simões, que nasceu em 1920 em Lisboa.
7.4. Maria da Piedade Simões
Maria da Piedade Simões, minha tia, mãe de 5 filhos:
7.4.1António Maria Simões Diasnasceu a 21 de Maio de 1923 e faleceu em 1966;
7.4.2.Aires Simões Diasnasceu em 1925 e faleceu com 2 anos de idade;
7.4.3.Eduardo SimõesDias nasceu a 5 de Novembro de 1927;
7.4.4. Lurdes Simões Diasnasceu o dia 5 de Novembro de 1929;
7.4.5. Maria da Solidade Simões Diasnasceu no dia 1 de Janeiro de 1931.
7.5. Maria de Lurdes Simões (a minha madrinha);
Maria de Lurdes Simões, minha madrinha e tia, teve 2 filhos:
7.5.1.Artur Simões de Almeidanasceu em 1929 e faleceu com 20 anos de idade;
7.5.2. Fernanda Simões de Almeida Rodriguesnasceu em 1934 e é mãe da médica Dra.Manuela de Almeida Rodrigues;
7.6. Maria da Solidade Simões;
Maria da Solidade Simões, minha tia, (faleceu em França) teve 1 filho:
7.6.1José Maria Antunes, que nasceu no dia 19 de Março de 1928 e faleceu em França.
(nota: Dou graças por ter recuperado a casa dos Simões da Póvoa. Que bonita que está).
7.7. Maria Lusitânia Simõesque nasceu na Póvoa;
Maria da Lusitânia Simões, minha tia, mãe de 2 filhas:
7.7.1. Maria Luísa Simões;
7.7.2.Deonilde Simões.
Esta é a minha linhagem por parte dos Simões da Pampilhosa da Serra. O meu pai tinha 86 primos direitos, filhos de irmãos.
Espero ter contribuído para reescrever, um pouco, a linha parental dos Simões da Pampilhosa. E àqueles que ainda podem concluir esta minha memória deixa um desafio: completem ou rectifiquem.
Em memória da minha mãe Maria Ascenção Ramos que me ensinou os nomes de todos aqueles que não conheci.
José Augusto Simões
2004-02-23
Qualquer contacto poderá ser feito para o e-mail do meu filho Rogério Martins Simões. poemasdeamoredor@gmail.com
Nota final: Meu pai José Augusto Simões, para além de ser um extraordinário pai, um homem íntegro e inteligente, tem uma memória extraordinária. Está vivo à data em que escrevo e seria óptimo que lhe dessem notícias dos seus parentes descendentes dos Simões e dos Henriques da Pampilhosa da Serra.
Em tempos, o meu falecido primo Aires Simões chegou à conclusão que o ANTÓNIO SIMÕES, antigo e extraordinário jogador do Benfica, descendia da nossa família.
Encontro uma certa dificuldade em obter os nomes dos nossos familiares quando eles descendem de nossas tias avós, pois perderam por casamento o nome da família, apesar de serem tanto Simões como eu sou.
Existem, depois, aqueles que tiveram de partir da Pampilhosa, por casamento, cujos descendentes desconhecem a sua ascendência da Pampilhosa da Serra, tal como desconhecemos o nome do mais velho Simões que casou com uma senhora da família Henriques da Pampilhosa da Serra. De uma coisa podem ter a certeza - todos aqueles que aqui se vêm retratados: descendem de um Simões e de uma Henriques da Pampilhosa da Serra do século 19 (XIX) ou mesmo do século 18 (XVIII).
Por favor colaborem! Mandem fotos antigas da família, ou histórias interessantes da família, por e-mail que terei muito gosto em as colocar neste blog do meu pai ou no meu: http://poemasdeamoredor.blogs.sapo.pt
Saudades
Rogério Martins Simões
Actualizado em 16-12-2008 23:36
20 de Maio de 2008
Pai!, como vê fiquei acordado até tarde para passar a limpo e publicar o seu último poema no dia em que fez 86 anos de idade.
Todo feliz, aí, na sua Póvoa, na sua Pampilhosa da Serra! Com que então veados e gazelas?
Feliz aniversário meu querido pai e que a vossa presença, meus pais, continue a encantar as nossas vidas.
(Óleo sobre tela Elisabete Maria Sombreireiro Palma)
MOMENTOS MÁGICOS…
Rogério Martins Simões
No lugar onde o meu pai nasceu existe um lema muito antigo, e seguramente bem conhecidos nas outras aldeias do Concelho da Pampilhosa da Serra: VAMOS TODOS COMO OS DA PÓVOA - expressa bem, e em poucas palavras, a união de um povo, nas boas e nas más horas.
“Que fascínio exerceu, em mim, a tia Emília, do Pátio do Carrasco!
- Rogério unge as mãos e os pés”!
E ali ficava sentado, num banco rente ao chão, costas direitas, joelhitos bem unidos.
- O rapaz tem “cobranto” e rezava…
Depois minha mãe fazia um defumadouro e eu respirava os cheiros ancestrais dos contos mágicos do meu pai…”
Se há algo que recordo são os lugares e as pessoas que me dizem qualquer coisa.
Recordo perfeitamente a Pampilhosa da Serra onde ia à feira, à missa e ao pão com minha tia Laura da Conceição Simões e a minha prima Almerinda Simões.
Lembro-me de irem todos juntos - juntos sempre como os da Póvoa.
Da Póvoa recordo tudo, ou quase tudo – menos os nomes dos mais velhos, mas, ainda os vejo como eram. É interessante que depois de tantos anos tiro parecenças aos mais novos que descendem daqueles que bem conheci.
Nunca vi uma porta de casa fechada à chave e não havia notícia de por ali alguém roubar. Roubar só se fosse algum coração de menina – e eu era e sempre fui um apaixonado…
Tinha e tenho muitos amigos, na Póvoa, desse tempo menino. Corríamos todos os poços, todas as hortas, todos os caminhos. Fumávamos às escondidas, cigarros feitos de capas e barbas de milho e juntos éramos uns saudáveis traquinas! Aprendi com os “meninos-homens” da aldeia a procurar restos de bombas de foguetes, que não tinham rebentado, e a sorte esteve pelo nosso lado quando as fazíamos explodir debaixo de uma pedra ou de uma lata.
Foi ali que aprendi a jogar às cartas e foram tão bonitos esses tempos.
Apesar de só lá estar três meses seguidos, em cada ano, sempre fiz muitos amigos entre os mais idosos. Gostava de trabalhar e de ajudar os outros. Às vezes estorvava! Mas… apreciava tanto uma viagem num carro de bois do Ti Manuel Mendes. Ele era tão meu amigo que chegou a emprestar-me um jumento para ir até à aldeia mais próxima “Moninho”.
- Oh Laura! O garoto é trabalhador! Dizia o avô do César.
Era de facto trabalhador e estava sempre pronto para regar as hortas e as leiras, tal como apanhar os girinos nas águas que escorriam da “Fonte Velha” a caminho de um lugar a que chamavam do “Polome” e tinha um poço.
“Polome” era o nome que se dava a um local da povoação, um largo, um local de encontro para quem chegava e para quem partia. Junto ao este local ferravam os animais de trabalho e ali por perto enterravam as tripas das cabras que matavam para fazerem a “chanfana” para a festa de Santa Eufémia - no dia 3 de Setembro.
Recordo a chegada ao Polome e a visitas “obrigatórias” que fazíamos aos que viviam naquele lugar a Póvoa da Pampilhosa da Serra. Lá estava sempre pronto para nos receber o TI António do Vale Serrão e foi perto da sua casa que vi, pela primeira vez, o grão semeado e um desactivado o forno da telha.
A vida era difícil, ninguém diria, ninguém lamentava a má sorte, pois as casas estavam quase todas ocupadas e as hortas bem tratadas.
O fumo das lareiras saía pelas telhas ou pelos “janelos”
O galo cantava e as galinhas passeavam-se pelo mato que cobria os caminhos da aldeia que viria a servir de estrume para as sementeiras do milho e outros produtos hortícolas. Ainda hoje sinto os cheiros, os sons, as cores, o calor do verão, a fonte velha e a sua água refrescante.
Ainda vejo o cântaro na nossa casa da Eira, as panelas de ferro, a caçoila em cobre, o borralho e a braseira.
Como era gostoso ir para a “Feteira” apanhar os melhores figos e os abrunhos que não mais comi! E os morangos que cresciam nas paredes da horta! As flores! Os cachos. As ginjas e as maças.
Como vêm estou marcado. Sou um poço de saudade!
Não! Não me entendam que a minha saudade é de um tempo que não volta, (mocidade perdida). É e será difícil entender quanto eu amo a Póvoa e as suas gentes – parentes.
A minha saudade são os afectos, as recordações de tanta gente boa que nem me atrevo a citar um só nome.
A minha saudade é de ter vivido em liberdade cimentando a minha formação e alicerçando em valores a minha vida.
- Bom dia senhora Maria!
- Bom dia Rogério!
- Obrigado Rogério!
- Obrigado senhora Maria.
Aquela gente ensinou-me a dar e a receber. Ensinou-me a repartir e a não estragar o pouco que tinham. Aquela gente ensinou-me a amar e a lutar pela vida.
Vou terminar esta pequena incursão nos percursos vivos e saudáveis da minha memória…
Convidem-me para provar as filhós da aldeia do meu pai, dos meus avós.
Redescubram o bolo doce cozido num qualquer forno comunitário, com uma folha de figueira a servir de forma, e eu lá estarei para vos dar a provar a deliciosa marmelada caseira cristalizada na casa dos meus avós.
Comerei a sopa de feijão atulhada com couves, abóbora, feijão seco e faceira de porco.
Derreter-me-ei com o lombo de porco retirado da panela de barro e com um pedaço de broa com presunto.
E se tiver frio dormirei num palheiro ou no sobrado por cima do curral das cabras!
Agora tenho de ir!
Não posso nem devo fazer esperar o povo.
O povo não parte sem mim,
nem eu parto sem o povo!
Vamos todos com os da Póvoa!
(memórias de um poeta. Dedicado a todo o povo da Póvoa – Pampilhosa da serra)
(Óleo sobre tela Elisabete Maria Sombreireiro Palma)
2008
VOO NAS MEMÓRIAS DO MEU PAI!
Rogério Martins Simões
Voo nas memórias do meu pai
que conta, sem conto,
os contos da nossa aldeia.
Era menino
e certa noite ao luar,
minha avó,
de nome Maria,
ensinava meu pai a contar.
Pairo nas memórias do meu pai
que conta, sem conto,
os contos da nossa aldeia.
Era menino
e todos os dias ao jantar
contava para mim,
histórias de fantasia
e de encantar:
“Irmãos éramos três,
Nazaré, Laura e José.
Minha mãe a todos nos fez
de coragem, força e muita fé!”
Recupero aqui
as memórias d0 meu pai
que hoje eu conto
porque me encanta!
Era uma vez, na nossa aldeia,
na Póvoa ao fundo do lugar,
minha avó que era uma santa,
ensinava meu a pai a rezar.
Ave-maria.
30/9/98
(A minha avó, Maria da Ascenção Ramos)
(Meu pai)
O Trabalho agrícola na nossa aldeia, a Póvoa, nos anos 40 do século XX
(texto da autoria do meu pai, e meu mestre de poesia, quase a concluir 86 anos)
Começo pelo primeiro trabalho que se fazia naquela época.
Todos os dias, quase todos os homens que lá estavam, e algumas mulheres, iam cortar um molho de mato. Carregavam-no às costa para os currais do gado ou para colocar nas ruas que serviam de estrumeiras.
Havia também, embora em menos quantidade, quem fizesse o transporte em carros de bois.
Este mato, depois de podre e bem curtido, fazia-se em estrume para adubo das terras de cultivo.
A primeira sementeira que se fazia era a do centeio, semeado em terras de sequeiro e nos alqueives, não levava rega nenhuma. Era semeado em finais de Dezembro ou princípios de Janeiro, e ceifado no mês de Julho. Era atado. em molhos e ficava no campo para secar bem. Depois, era todo malhado no Largo da Capela de Santa Eufémia.
Para malhar, era costume ter a participação de oito (8) homens, quatro de cada lado, cada qual tinha o seu "mangualde" com que malhava o centeio até sair todo o grão.
Depois disso, era levantada a palha com uma forquilha e atada em molhos que se guardavam nos palheiros.
O centeio, que ficava no chão, era tirado com uma vassoura própria, até ficar limpo. Além disto era ajoeirado ao vento, mas, mesmo assim, ainda era lavado e, depois, seco ao sol. Só depois estava pronto para ir. para o moinho.
A preparação do recinto de malhar, neste caso o Largo da Eira ou da Capela, também obedecia a certos rituais.
O largo era todo bem varrido (mais que uma vez) e barrado com fezes de bois (bosta), até agarrar bem. Esperava-se que secasse, estava então pronto para a malha.
Retomando as sementeiras, o cultivo seguinte era o do milho.
O milho era semeado nos meses de Março e Abril. A terra era lavrada ou cavada e, depois, gradada ou arrasada até ficar plana para lhe ser espalhado o estrume. Ao fazer os regos, o chamado acto de marejar, o estrume ficava alagado na terra junto com o grão do milho.
Quando o milho já estava crescido era sachado e, depois, arralado, quer isto dizer, compassado como devia ficar para criar espigas como deve ser. Depois disso, eram feitos regos para passar a água em leiras, para regar de forma uniforme todo o milho. Antes, porém, era todo empalhado com mato para segurar a terra.
Quando o milho já estava criado, assim como as espigas, era-lhe cortada a cana, junto às espigas. As canas com bandeira deixavam-se ficar para que o grão ficasse mais grosso.
A palha resultante deste corte, era carregada em molhos e deixava-se a secar junto às hortas. Depois de bem seca eram feitos molhinhos mais pequenos a que se chamavam fachas.
Estes pequenos molhos eram normalmente dados ao dono dos bois que lavrava a terra e carregava o estrume para as hortas. Este era chamado de "Carreiro" e a paga do seu trabalho era a palha com que ia alimentando os bois.
Mas, o ciclo do milho não termina aqui. Quando a espiga estava quase pronta para ser apanhada, eram tiradas todas as folhas da cana do milho e atadas em pequenos molhos, que depois de bem secos, eram guardados nos palheiros para serem dados, de pasto, ao gado.
Depois deste trabalho todo é que tiravam as espigas das canas, e estas eram transportadas para casa, onde se faziam as desfolhadas.
Quando as maçarocas estavam em casa, as pessoas da aldeia ajudavam-se umas às outras, num serviço verdadeiramente comunitário. O milho era desfolhado por várias pessoas.
Qualquer criança que tivesse nove ou dez anos, já ia ajudar à desfolhada e, de certeza, não ficavaatrás dos adultos nesse trabalho específico.
Nas desfolhadas havia uma coisa engraçada, o rapaz ou rapariga, a quem calhasse uma espiga encarnada, era obrigada pelo juiz a cumprir uma pena. Normalmente era dar um beijo e um abraço a todas as pessoas presentes na roda.
Tanto as desfolhadas, como as debulhas do milho, eram uma paródia. Aí se encontrava muita gente, cantava-se, bebia-se e contavam-se histórias. Por vezes (muitas, mesmo) no final das debulhas, faziam-se grandes bailaricos.
O milho, depois de debulhado, era transportado para o estendedouro, onde era espalhado em cima de grandes panos ou mantas de fitas, para ficar a secar ao sol e só era guardado quando estava bem seco.
Também para secar o milho se faziam coisas por tradição. Levava-se para o local onde o milho secava ao ar, uma arca e durante quatro ou cinco dias, era estendido de manhã (em cima das mantas ou panos) e apanhado à tarde, quando o sol passava.
Só assim, depois de passar todas estas etapas, é que o milho estava pronto para ser posto nos foles que o haviam de levar até aos moinhos, donde regressavam em farinha para se fazer a broa e os bolos.
Desta forma breve e aligeirada, espero ter mostrado como era o trabalho que estas duas espécies de cereais davam até serem transformados em alimento.
Já a batata, outro alimento indispensável na dieta serrana, e outros produtos hortícolas, assim como o vinho e azeite não davam metade do trabalho e eram muito mais compensatórios.
Não é preciso dizer mais nada para saberem o trabalho e esforço que a agricultura obrigava naquele tempo. Foi por isso, que escrevi, a vida dura dos serranos nos tempos de antigamente.
José Augusto Simões
2000
Publicado em Ecos da Póvoa
Poemas de amor e dor
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publicado às 23:21
MEIO HOMEM INTEIRO
Rogério Simões
Meia selha de lágrimas.
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa.
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer.
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.
11/4/1975
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